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Ha-Lapid הלפיד


N.º 040, Tamuz 5691 (Jun 1931)







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             HA-LAPÍD                  7
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Mas de que trata o livro? Do judaismo
em Portugal, atravez o capitão Barros
Basto, amarantino de nascimento e que pe-
la pena de Lily Jean-Javal se nos revela não
só um judeu praticante e entusiasta mas um
conhecedor profundo da materia. O livro é
encantador e diz-nos coisas que muitos
portugueses ignoram. E' um hino ao norte
do Minho, ao Douro, a Traz-os-Montes, e
contem revelações que hão-de deixar muito
cristão novo de cara ao lado. Quanto ao
capitão B. B. a sua figura impõe-se pela
nobreza da sua coragem, dizendo tudo,
sem meias palavras nem meias tintas.
Gastei vinte escudos mas tive um altís-
simo prazer espiritual com semelhante lei-
tura.

                * * *

Ha neste precioso livro, observações
que valem um poema, pela simplicidade,
pela delicadeza com que são feitas. Os men-
digos, as estrumeiras em plena povoação
(odéur exquive, mois leger releut de pour-
riture), os qualificativos a certas personali-
dades (o de páginas 80 admiravel!), enfim,
poucas vezes a gente pega num livro es-
trangeiro escrito sobre nós e fica tão sa-
tisfeito como com este. Ha nele, porem,
um problema que valia a pena a certas pes-
soas pensar nele. Mas isso já não é comigo,
é com elas. Cada um que se defenda con-
forme puder e souber que para mim todos
os caminhos vão dar a Roma, a questão e'
querer lá ir. . .

               o o o

         DATAS MEMORAVEIS

             23 de Maio

A inquisição estabelecida em Portugal
em 1536.

Os batismos forçados de 1497 tinham
enchido o país de um grande numero de
Judeus clandestinos, que seguiam quasi ex-
clusivamente os preceitos da sua antiga re-
ligião. Mas as proprias circunstancias da
sua conversão, juntas á aversão da popula-
çao a seu respeito tornavam impossivel um
inquerito demasiado severo a cerca da sua
ortodoxia. Assim só em 1521, quando da
subida ao trono de D. Joâo que a corôa fez
uma tentativa séria, afim de obter que a In-
quisição fosse estabelecida em Portugal se-
gundo o modelo de Espanha. Contudo um



grande numero de personagens influentes
do país continuavam com a sua oposição;
o Papa-que devia dizer a ultima palavra-
não era muito entusiasta os maranos esten-
deram as suas intrigas sustentadas por im-
portantes contribuições em dinheiro, até á
propria Roma. Assim todas as tentativas fi-
caram por muito tempo vãs e quando a
bula tão esperada foi enfim obtida do Papa,
em 17 de Dezembro de 1531, os efeitos de-
la foram quasi imediatamente aniquilados
por uma série de perdões, mas finalmente
os maranos não poderam reunir as somas
enormes, tão generosamente prometidas
pelos seus agentes enquanto que o Impera-
dor Carlos V, rei de Espanha, multiplicava
as suas instancias na outra direcção. Então
a 23 de Maio de 1536, o Papa Paulo III
promnlgou uma bula definitiva, anunciando
formalmente o estabelecimento da Inquisi-
ção em Portngal e revogando todas as me-
didas de atenuação precedentemente edita
das.

Foi assim que principiou o Santo Ofí-
cio em Portugal e nas suas colonias. Pelas
suas consequencias a sua história devia ul-
trapassar em horror a da Inquisição-irmã
de Espanha.

              25 de Maio

A distinção entre os antigos e os novos
cristão é abolida em Portugal em 1773.

Mesmo aqueles, entre os descendentes
dos judeus, que estavam muito sinceramen-
te ligados á fé cristã suportavam ainda as
consequencias da sua origem. Continuavam
a designa-los oficialmente pelo nome de
cristãos novos e a exclui-los de certos em-
pregos; ao mesmo tempo submetiam-nos a
um numero consideravel de incapacidades.

Estas descriminações não terminaram
senão no fim do seculo XVIII, quando se
pretendeu que se devia infligir um trata-
mento especial a todos os que eram de des-
cendencia judaica, era preciso começar a
aplicar este tratamento ao primeiro minis-
tro, ao inquisidor geral e ao proprio rei O
marquez de Pombal, o ministro reforma-
dor de José I poz fim a este estado de coi-
sas. Foi durante o seu governo que o ulti-
mo auto de fé publico foi celebrado no país
(27 de outubro de 1765) o que levou a
abolição de todas as distinções judiciarias
entre os antigos e novos cristãos (25 de
Maio de 1773).


 
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