HA-LAPÍD 7 ========================================= Mas de que trata o livro? Do judaismo em Portugal, atravez o capitão Barros Basto, amarantino de nascimento e que pe- la pena de Lily Jean-Javal se nos revela não só um judeu praticante e entusiasta mas um conhecedor profundo da materia. O livro é encantador e diz-nos coisas que muitos portugueses ignoram. E' um hino ao norte do Minho, ao Douro, a Traz-os-Montes, e contem revelações que hão-de deixar muito cristão novo de cara ao lado. Quanto ao capitão B. B. a sua figura impõe-se pela nobreza da sua coragem, dizendo tudo, sem meias palavras nem meias tintas. Gastei vinte escudos mas tive um altís- simo prazer espiritual com semelhante lei- tura. * * * Ha neste precioso livro, observações que valem um poema, pela simplicidade, pela delicadeza com que são feitas. Os men- digos, as estrumeiras em plena povoação (odéur exquive, mois leger releut de pour- riture), os qualificativos a certas personali- dades (o de páginas 80 admiravel!), enfim, poucas vezes a gente pega num livro es- trangeiro escrito sobre nós e fica tão sa- tisfeito como com este. Ha nele, porem, um problema que valia a pena a certas pes- soas pensar nele. Mas isso já não é comigo, é com elas. Cada um que se defenda con- forme puder e souber que para mim todos os caminhos vão dar a Roma, a questão e' querer lá ir. . . o o o DATAS MEMORAVEIS 23 de Maio A inquisição estabelecida em Portugal em 1536. Os batismos forçados de 1497 tinham enchido o país de um grande numero de Judeus clandestinos, que seguiam quasi ex- clusivamente os preceitos da sua antiga re- ligião. Mas as proprias circunstancias da sua conversão, juntas á aversão da popula- çao a seu respeito tornavam impossivel um inquerito demasiado severo a cerca da sua ortodoxia. Assim só em 1521, quando da subida ao trono de D. Joâo que a corôa fez uma tentativa séria, afim de obter que a In- quisição fosse estabelecida em Portugal se- gundo o modelo de Espanha. Contudo um grande numero de personagens influentes do país continuavam com a sua oposição; o Papa-que devia dizer a ultima palavra- não era muito entusiasta os maranos esten- deram as suas intrigas sustentadas por im- portantes contribuições em dinheiro, até á propria Roma. Assim todas as tentativas fi- caram por muito tempo vãs e quando a bula tão esperada foi enfim obtida do Papa, em 17 de Dezembro de 1531, os efeitos de- la foram quasi imediatamente aniquilados por uma série de perdões, mas finalmente os maranos não poderam reunir as somas enormes, tão generosamente prometidas pelos seus agentes enquanto que o Impera- dor Carlos V, rei de Espanha, multiplicava as suas instancias na outra direcção. Então a 23 de Maio de 1536, o Papa Paulo III promnlgou uma bula definitiva, anunciando formalmente o estabelecimento da Inquisi- ção em Portngal e revogando todas as me- didas de atenuação precedentemente edita das. Foi assim que principiou o Santo Ofí- cio em Portugal e nas suas colonias. Pelas suas consequencias a sua história devia ul- trapassar em horror a da Inquisição-irmã de Espanha. 25 de Maio A distinção entre os antigos e os novos cristão é abolida em Portugal em 1773. Mesmo aqueles, entre os descendentes dos judeus, que estavam muito sinceramen- te ligados á fé cristã suportavam ainda as consequencias da sua origem. Continuavam a designa-los oficialmente pelo nome de cristãos novos e a exclui-los de certos em- pregos; ao mesmo tempo submetiam-nos a um numero consideravel de incapacidades. Estas descriminações não terminaram senão no fim do seculo XVIII, quando se pretendeu que se devia infligir um trata- mento especial a todos os que eram de des- cendencia judaica, era preciso começar a aplicar este tratamento ao primeiro minis- tro, ao inquisidor geral e ao proprio rei O marquez de Pombal, o ministro reforma- dor de José I poz fim a este estado de coi- sas. Foi durante o seu governo que o ulti- mo auto de fé publico foi celebrado no país (27 de outubro de 1765) o que levou a abolição de todas as distinções judiciarias entre os antigos e novos cristãos (25 de Maio de 1773).
N.º 040, Tamuz 5691 (Jun 1931)
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