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N.º 040, Tamuz 5691 (Jun 1931)







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Elementos para a Historia dos
Judeus Portugueses de Hamburgo

                        por ALFONSO CÀSSUTO

              (Continuação)

Dos nomes dessas pessoas, que constam de uma
lista entregue pelos judeus ao Senado e arquivada
hoje no arquivo da municipalidade de Hamburgo,
destacamos apenas alguns nomes retintamente portu-
gueses, ainda que alterados ligeiramente pela fonetica
hamburguesa: Henrico de Lima, Diogo Soares, Gon-
salvo Lopes Coutinho, Francisco Gomes, João Fran-
cisco Brandão, Alfonso Peres, Lope Nunes, Antonio
Saraiva, Rui Gomes da Costa, Antonio de Azevedo,
Andres Fernando Cardoso, Andres de Castro, Fran-
cisco da Costa d'Oliveira, Antonio Falleiro, Luis Go-
mes Barbosa, Joséf Mendes, Diego Alvares de Vargas,
Miguel Rodrigo Vale, etc.

Este primeiro contrato não outorgava notáveis
concessões e, antes pelo contrário, impedia, de uma
maneira geral, a realisação de cerimónias judaicas. O
contrato foi aceite pelos portugueses na esperança de
o melhorar mais tarde, esperança que efectivamente
se realisou, porque os contratos de 1617 e 1623 mos-
tram que as autoridades gradualmente tinham feito
novas concessões para a realisação das exigencias do
culto dos judeus ispano-portugueses. No entanto le-
vantaram-se, dentro do elemento eclesiástica, vozes
que incitavam ao ódio contra os judeus e exigiam a
sua expulsão.

Pelos portugueses era contudo recebida com ale-
gria qualquer oportunidade que lhes permitisse fun-
dar novas colónias em outros pontos com garantia
dos governantes destes. Quando Christiano I da Di-
namarca tentou atrair judeus portugueses de todos os
países, por meio de privilégios protectores, para a
cidade de Glückstadt, que ele tinha recentemente fun-
dado, quizeram tambem os portugueses de Hamburgo
aproveitar a oportunidade para obterem a qualidade
de burgueses daquela cidade sem, contudo, perderem
o direito de habitar a cidade de Hamburgo. Os por-
tugueses de Gluckstadt constituiram um forte apoio
para os portugueses, que permaneceram em Hambur-
go, porque em caso de uma expulsão eventual desta
última cidade, poderiam eles dirigir-se aos seus ir-
mãos de Gluckstadt. Em 1650 a "Assembleia dos Bur-
gueses de Hamburgo" firmou com os judeus portu-
gueses um novo contrato pelo qual se autorisava, em
parte, o exercicio do seu culto religioso. Dois anos
mais tarde em 1652, foi fundada a comunidade actual
"Bet Israel" na qual se fundiram as três comunidades
então existentes, que tinham por nomes "Keter Torá"
e "Nevé Shalom".

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                   *   *

Cerca de 1610 construiram-se algumas esnogas;
até então já existiam provavelmente vários locais des-
tinados ao culto, com caracter privado. O primeiro
Haham, ou "sacerdote" cnnforme a designação da
Inquisição de Lisboa, foi nomeado em 1611 e chama-
va-se Rodrigo de Merchena, aliás Abrão Coen de Her-
reira. Posr tempo as três comunidades acima indica-

 

das tinham provavelmente um só Rabino. Em 31 de
Maio de 1611 três representantes da "Nação Portu-
guesa residente nesta cidade de Hamburgo", (assim
se apelidavam os judeus de que estamos tratando).
Andreas Falleiro, aliás Abrão Aboab, Ruy Fernando
Cardoso, aliás David Aboab e Alvaro Dionis, alàs Sa-
muel Jachia compraram um terreno para cemitério em
Altona, cidade a meia hora de distancia de Hamburgo
e isso apesar de não viverem ainda ali quaisquer ju-
deus. Onde quer que, os judeus tivessem enterrado
os seus mortos até aquela data, não nos foi possival
certificar. O sucessor de Herreira foi Ishac Atias, dis-
cípulo do Haham Ishac Huziel de Amsterdam, e em
1622 foi chamado a Veneza a fim de ali exercer o
mesmo cargo. Durante muito pouco tempo foi Haham
em Hamburgo Joseph Saloma del Medigo, que se
transportou em 1624 para Glückstad. Em 1637 David
Coen de Lara e algum tempo depois Mose Israel
Brandão e Abraham da Fonseca, antigo Haham de
Glückstadt, foram nomeados Haham de Hamburgo.

A gravura que publicamos neste pequeno volume
representa a ultima pagina de um livro de sermões,
publicado em Hamburgo, cerca de 1649, que se atri-
bue ao acima citado Haham Abrahão da Fonseca. O
único exemplar conhecido desta obra existe hoje na
biblioteca do pai do autor destas linhas.

Depois de uma demora de vários anos, por ra-
zões que não podemos explicar, foi finalmente, em
1652, unificada a congregação "Bet Israel".

                    *
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As três comunidades portuguesas eram pelos não
judeus tidas em grande consideração, devido á sua
alta cultura e prospera situação comercial. Entre os
primeiros foragidos de Portugal figuram os nomes
dos doutores médicos Rodrigo de Castro e Henrique
Rodriguez. O primeiro prestou grandes serviços du-
rante a peste, que em 1565 assolou a cidade de Ham-
burgo e escreveu: "De universa mulierum morborum
medicina" editado e reeditado em 1603, 1628, 1662 e
ainda mais tarde; "Medicus Politicus" em 1614 e 1662;
"Tractatus de Peste" 1614, obras todas publicadas em
Hamburgo. Nasceu em Lisboa, cerca de 1550 e veio a
falecer em Hamburgo a 20 de Janeiro de 1627. O dr.
Henrique Rodríguez exerceu em Hamburgo com gran-
de distincção, o seu mister; era natural de Santa
Comba e faleceu em Hamburgo em 1638; sua mulher,
filha de Anrique Dias Milão, foi vitima do Santo Ofi-
cio--Emanuel Vaz, tio do dr. Rodrigo de Castro, foi
médico de quatro reis portugueses: D. João III, D.
Sebastião, o Cardeal D. Henrique e Philipe II, segun-
do colhemos do livro de R. de Castro "De Morbis"-
Alearo Dionis, tambem foragido de Portugal, tinha
em sua casa uma das três esnogas. Teve o monopólio
da cunhagem de dinheiro em Altona e mais tarde em
Glückstadt em 1625 Kari, duque da Silesia e Bohemia,
concedeu-lhe uma autorisação para estabelecer em to-
dos os seus dominios colonias de judeus exclusiva-
mente portugueses; esta concessão, porém não che-
gou a ser utilisada. Jachia faleceu em Glücksdat cer-
ca de 1645.

                                     Contínua.

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Visada pela comissão de censura


 
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