8 HA-LAPID =================================================== Elementos para a Historia dos Judeus Portugueses de Hamburgo por ALFONSO CÀSSUTO (Continuação) Dos nomes dessas pessoas, que constam de uma lista entregue pelos judeus ao Senado e arquivada hoje no arquivo da municipalidade de Hamburgo, destacamos apenas alguns nomes retintamente portu- gueses, ainda que alterados ligeiramente pela fonetica hamburguesa: Henrico de Lima, Diogo Soares, Gon- salvo Lopes Coutinho, Francisco Gomes, João Fran- cisco Brandão, Alfonso Peres, Lope Nunes, Antonio Saraiva, Rui Gomes da Costa, Antonio de Azevedo, Andres Fernando Cardoso, Andres de Castro, Fran- cisco da Costa d'Oliveira, Antonio Falleiro, Luis Go- mes Barbosa, Joséf Mendes, Diego Alvares de Vargas, Miguel Rodrigo Vale, etc. Este primeiro contrato não outorgava notáveis concessões e, antes pelo contrário, impedia, de uma maneira geral, a realisação de cerimónias judaicas. O contrato foi aceite pelos portugueses na esperança de o melhorar mais tarde, esperança que efectivamente se realisou, porque os contratos de 1617 e 1623 mos- tram que as autoridades gradualmente tinham feito novas concessões para a realisação das exigencias do culto dos judeus ispano-portugueses. No entanto le- vantaram-se, dentro do elemento eclesiástica, vozes que incitavam ao ódio contra os judeus e exigiam a sua expulsão. Pelos portugueses era contudo recebida com ale- gria qualquer oportunidade que lhes permitisse fun- dar novas colónias em outros pontos com garantia dos governantes destes. Quando Christiano I da Di- namarca tentou atrair judeus portugueses de todos os países, por meio de privilégios protectores, para a cidade de Glückstadt, que ele tinha recentemente fun- dado, quizeram tambem os portugueses de Hamburgo aproveitar a oportunidade para obterem a qualidade de burgueses daquela cidade sem, contudo, perderem o direito de habitar a cidade de Hamburgo. Os por- tugueses de Gluckstadt constituiram um forte apoio para os portugueses, que permaneceram em Hambur- go, porque em caso de uma expulsão eventual desta última cidade, poderiam eles dirigir-se aos seus ir- mãos de Gluckstadt. Em 1650 a "Assembleia dos Bur- gueses de Hamburgo" firmou com os judeus portu- gueses um novo contrato pelo qual se autorisava, em parte, o exercicio do seu culto religioso. Dois anos mais tarde em 1652, foi fundada a comunidade actual "Bet Israel" na qual se fundiram as três comunidades então existentes, que tinham por nomes "Keter Torá" e "Nevé Shalom". * * * Cerca de 1610 construiram-se algumas esnogas; até então já existiam provavelmente vários locais des- tinados ao culto, com caracter privado. O primeiro Haham, ou "sacerdote" cnnforme a designação da Inquisição de Lisboa, foi nomeado em 1611 e chama- va-se Rodrigo de Merchena, aliás Abrão Coen de Her- reira. Posr tempo as três comunidades acima indica- das tinham provavelmente um só Rabino. Em 31 de Maio de 1611 três representantes da "Nação Portu- guesa residente nesta cidade de Hamburgo", (assim se apelidavam os judeus de que estamos tratando). Andreas Falleiro, aliás Abrão Aboab, Ruy Fernando Cardoso, aliás David Aboab e Alvaro Dionis, alàs Sa- muel Jachia compraram um terreno para cemitério em Altona, cidade a meia hora de distancia de Hamburgo e isso apesar de não viverem ainda ali quaisquer ju- deus. Onde quer que, os judeus tivessem enterrado os seus mortos até aquela data, não nos foi possival certificar. O sucessor de Herreira foi Ishac Atias, dis- cípulo do Haham Ishac Huziel de Amsterdam, e em 1622 foi chamado a Veneza a fim de ali exercer o mesmo cargo. Durante muito pouco tempo foi Haham em Hamburgo Joseph Saloma del Medigo, que se transportou em 1624 para Glückstad. Em 1637 David Coen de Lara e algum tempo depois Mose Israel Brandão e Abraham da Fonseca, antigo Haham de Glückstadt, foram nomeados Haham de Hamburgo. A gravura que publicamos neste pequeno volume representa a ultima pagina de um livro de sermões, publicado em Hamburgo, cerca de 1649, que se atri- bue ao acima citado Haham Abrahão da Fonseca. O único exemplar conhecido desta obra existe hoje na biblioteca do pai do autor destas linhas. Depois de uma demora de vários anos, por ra- zões que não podemos explicar, foi finalmente, em 1652, unificada a congregação "Bet Israel". * * * As três comunidades portuguesas eram pelos não judeus tidas em grande consideração, devido á sua alta cultura e prospera situação comercial. Entre os primeiros foragidos de Portugal figuram os nomes dos doutores médicos Rodrigo de Castro e Henrique Rodriguez. O primeiro prestou grandes serviços du- rante a peste, que em 1565 assolou a cidade de Ham- burgo e escreveu: "De universa mulierum morborum medicina" editado e reeditado em 1603, 1628, 1662 e ainda mais tarde; "Medicus Politicus" em 1614 e 1662; "Tractatus de Peste" 1614, obras todas publicadas em Hamburgo. Nasceu em Lisboa, cerca de 1550 e veio a falecer em Hamburgo a 20 de Janeiro de 1627. O dr. Henrique Rodríguez exerceu em Hamburgo com gran- de distincção, o seu mister; era natural de Santa Comba e faleceu em Hamburgo em 1638; sua mulher, filha de Anrique Dias Milão, foi vitima do Santo Ofi- cio--Emanuel Vaz, tio do dr. Rodrigo de Castro, foi médico de quatro reis portugueses: D. João III, D. Sebastião, o Cardeal D. Henrique e Philipe II, segun- do colhemos do livro de R. de Castro "De Morbis"- Alearo Dionis, tambem foragido de Portugal, tinha em sua casa uma das três esnogas. Teve o monopólio da cunhagem de dinheiro em Altona e mais tarde em Glückstadt em 1625 Kari, duque da Silesia e Bohemia, concedeu-lhe uma autorisação para estabelecer em to- dos os seus dominios colonias de judeus exclusiva- mente portugueses; esta concessão, porém não che- gou a ser utilisada. Jachia faleceu em Glücksdat cer- ca de 1645. Contínua. ------------------------------------------------- Visada pela comissão de censura
N.º 040, Tamuz 5691 (Jun 1931)
> P08