6 HA-LAPÍD =================================================== paz solida, e se se pretende satisfazer-me, dizendo que é uma paz espiritual, responderei que é impos- sivel que a alma esteja tranquila quando o corpo es- tá agitado. O ódio e a animosidade que dormiam no género humano não podem conservar nas almas esta paz de que fala o Profeta. Quais são pois as qualida- des que teem feito reconhecer este Messias? Quais são os sinais que deve ter? Prégou ele aos israelitas de modo a levá-los a observar melhor a lei que Moi- sés lhes tinha deixado por ordem do Senhor? Não é nesta lei sagrada que devem apoiar todas as regras do seu proceder? O que os Evangelhos nos ensinam a mais é directamente oposto a estes divinos manda- mentos, e nada se encontra aí que os afaste da obe- diência que devem ao seu creador. Para nos conven- cermos que a doutrina de Jesus Cristo é preniciosa basta apenas citar o exemplo quo o próprio Evange- lho nos fornece. Um filbo queria cumprir os ultimos deveres para com seu pai que acabava de morrer. procurando-lhe uma sepultura; Jesus Cristo o encon- tra nesta piedosa ocupaçao e lhe diz, deixa aos mor- tos o cuidado de enterrar seus mortos, vem segue- me. Em primeiro lugar aste cuidado é tão expressa- mente ordenado pelo Senhor, que quando o grande sacrificador encontrava um corpo morto no campo, devia carregado sobre seus ombros e leva-lo: ainda que em qualquer outra ocasião fosse proibido ao sa- crificador entrar em qualquer ponto onde houvesse corpos mortos para não se conspurcar. Em segundo lugar ha alguma religião onde seja proibido a um filho cumprir este dever para com seu pai, quando um estrangeiro mesmo a isso é obrigado a não ser que queira desobedecer às leis de Deus e á da natureza? Esta acção deve passar por escandalosu é impia entre os homens, sobretudo não nos ensi- nando o Evangelho para a desculpa que Jesus Cristo tenha afastado este filho dum função tão caridosa co- mo natural, para dar-lhe uma outra mais meritoria aos olhos de Deus. Vejamos se a ordem seguinte é mais rasoavel: ordena a um dos seus sequazes que venda todos os seus bens e distribua o seu produto pelos pobres. Os actos dos Apostolos pregam esta mesmo doutrina. Ai se encontra que os cristãos de- viam vender tudo que possuiam e levar-lhes o preço. Pode alguem persuadir-se que a sabedoria infini- ta de Deus tenha escolhido para Messias um homem que se esforçou por introduzir leis tão pouco ra- soaveis? E' para o louvar é para lhe render gracas que nos dá oa bens corporais, é para nos servirmos deles e para assistir os pobres com economia; mas se lhes damos tudo que possuimos, estamos no mesmo mo- mento obrigados a pedir-lhes o que lhes temos dado, porque uma caridade indiscreta nos torna tão pobres como eles proprios o eram antes da nossa dadiva. Numa palavra era pois dar com a uma mão para to- mar com a outra, e por esta manobra sem mérito e que no fundo naca significa, o pobre ficaria inevita- velmente na iudigencia em que estava anteriormente. Esta liberalidade tão pouco duradoura, e esta circula- ção tão precipitada tornavam-se tão inuteís como a lei que ordenava. Mas de onde vem não se verem os cristãos exercer entre si esta lei? A caridade é tão moderada hoje que se não está bem conformado com esta doutrina e de resto nin- guem pode querer-lhes mal por isso. Deus quer que os nossos socorros aos pobres sejam tão bem regula- dos que estejamos sempre sm estado de os socorrer: uma caridade indiscreta causaria terriveis desordens na sociedade civil porque eu se encontrassem os po- bres na posse de bens estranhos e que não tivessem a mesma caridade para os entregar aos filhos ou su- cessores daqueles que deles se tivessem daspojado para obedecer ao preceito absurdo dos Aposlolos, a força e a chicana os fariam infalivelmente restituir Ha todos os dias sucessões deixadas as lerejas, aos conventos e as comunidades, disputadas em seguida pelos sucessores naturais e readquiridas apesar da, doações, dos testamentos e dos contractos dos doado- res, com mais forte razão duma caridade tão sucessj- vã seria sem efeito, e o preceito que a ordenasse con- siderado como o preito duma imaginação doentía e dum juizo desregrado. A moderação que nos prega o Evangelho em amar os nossos inimigos, de estender a outra face para que eles nos deem um segundo bofetão quando tivermos recebido o primeiro, pratica-se tão pouco como o que é ordenado a respeito da caridade. Deus nos manda no texto sagrado perdoar aos nossos ini- migos, esquecer as suas ofensas, e nos proibe vingar- mo-nos. E bem mais natural conformamo~nos com estas ordens: é tudo o que a natureza e a razão apre- feiçoadas pela instituição podem exigir de nós, e isto mesmo é ainda assaz difícil. Mas se a lei divina ou humana fosse mais longe, se ela exigisse mais dos homens, seria absurda a de nenhum efeito. E é precisamente o caso da maior parte dos preceitos do Evangelho, e em particular daquele de que estamos tratando; a moral excessiva que ele encerra, torna-o impraticável, e faz que os homens náo observem nem uma nem outra. Sam Paulo diz que a lei divina dada na montanha do Sinai foi para um tempo determi- nado: que todos os bens que ela promete são tempo- rais: que não na nem justificação nem santidade, que não produziu nos homens senão maldição, e que é por ela que o pecado se introduziu no mundo. Como podem provar-se tantas blasfêmias? Como se ousa sustentá-las e actuar conseguitermente? Porque os cristãos imbuidos de principios tão perniciosos reve- renciam Moisés que deu esta lei aos Israelitas da parte do Sonhar, assim como Josué, David, Samuel, e tantos outros santos homens que sómente merecem este titulo porque nunca deles se afastaram! Os Pro- fetas que são oráculos do cristianismo e sem os quais os cristículos nâo teriam podido fazer o Messias a instituir a sun religião, teem seguido com toda a possivel exactidão esta lei sagrada, e as suas profecias estão cheias apenas de advertências que faziam aos filhos de Israel para os fazer entrar na observância das leis e dos preceitos que Moisés lhes tinha dei- xado. Quantas ameaças se não vêem nos seus escritos contra os que as violarem? Se é Deus que a faz, se ela está escrita pela sua própria mão, se ela foi pro- nunciada pela sua própria boca, ela é sem dúvida a sua perfeição e não se lhe pode alterar nem juntar seja o que fôr sem diminuir a sabedoria infinito do legislador: é necessário que ela perdure eternamente. E Sam Paulo não pode apresentar uma opinião con- trária sem uma temeridade sacrilega que deveria destruir todas aquelas que teve e que os cristãos se- guem com o mesmo respeito como se o Senhor as tivesse expressamente ordenada, Eu creio que tantas provas tão ervidentes e tão incontestáveis devem convencer os cristaos de que os Israelitas estão no bom caminho, que observam a verdadeira lei do Senhor e que esperam com razão que ele lhes enviáro um Messias que os retire dentre os povos e os faça gosar de todos os beneficios inse-
N.º 049, Elul 5692 (Set 1932)
> P06