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Ha-Lapid הלפיד


N.º 049, Elul 5692 (Set 1932)







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 6                 HA-LAPÍD
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paz solida, e se se pretende satisfazer-me, dizendo
que é uma paz espiritual, responderei que é impos-
sivel que a alma esteja tranquila quando o corpo es-
tá agitado. O ódio e a animosidade que dormiam no
género humano não podem conservar nas almas esta
paz de que fala o Profeta. Quais são pois as qualida-
des que teem feito reconhecer este Messias? Quais
são os sinais que deve ter? Prégou ele aos israelitas
de modo a levá-los a observar melhor a lei que Moi-
sés lhes tinha deixado por ordem do Senhor? Não é
nesta lei sagrada que devem apoiar todas as regras
do seu proceder? O que os Evangelhos nos ensinam
a mais é directamente oposto a estes divinos manda-
mentos, e nada se encontra aí que os afaste da obe-
diência que devem ao seu creador. Para nos conven-
cermos que a doutrina de Jesus Cristo é preniciosa
basta apenas citar o exemplo quo o próprio Evange-
lho nos fornece. Um filbo queria cumprir os ultimos
deveres para com seu pai que acabava de morrer.
procurando-lhe uma sepultura; Jesus Cristo o encon-
tra nesta piedosa ocupaçao e lhe diz, deixa aos mor-
tos o cuidado de enterrar seus mortos, vem segue-
me.

Em primeiro lugar aste cuidado é tão expressa-
mente ordenado pelo Senhor, que quando o grande
sacrificador encontrava um corpo morto no campo,
devia carregado sobre seus ombros e leva-lo: ainda
que em qualquer outra ocasião fosse proibido ao sa-
crificador entrar em qualquer ponto onde houvesse
corpos mortos para não se conspurcar.

Em segundo lugar ha alguma religião onde seja
proibido a um filho cumprir este dever para com seu
pai, quando um estrangeiro mesmo a isso é obrigado
a não ser que queira desobedecer às leis de Deus e á
da natureza? Esta acção deve passar por escandalosu
é impia entre os homens, sobretudo não nos ensi-
nando o Evangelho para a desculpa que Jesus Cristo
tenha afastado este filho dum função tão caridosa co-
mo natural, para dar-lhe uma outra mais meritoria
aos olhos de Deus. Vejamos se a ordem seguinte é
mais rasoavel: ordena a um dos seus sequazes que
venda todos os seus bens e distribua o seu produto
pelos pobres. Os actos dos Apostolos pregam esta
mesmo doutrina. Ai se encontra que os cristãos de-
viam vender tudo que possuiam e levar-lhes o preço.

Pode alguem persuadir-se que a sabedoria infini-
ta de Deus tenha escolhido para Messias um homem
que se esforçou por introduzir leis tão pouco ra-
soaveis? E' para o louvar é para lhe render gracas que
nos dá oa bens corporais, é para nos servirmos deles
e para assistir os pobres com economia; mas se lhes
damos tudo que possuimos, estamos no mesmo mo-
mento obrigados a pedir-lhes o que lhes temos dado,
porque uma caridade indiscreta nos torna tão pobres
como eles proprios o eram antes da nossa dadiva.
Numa palavra era pois dar com a uma mão para to-
mar com a outra, e por esta manobra sem mérito e
que no fundo naca significa, o pobre ficaria inevita-
velmente na iudigencia em que estava anteriormente.
Esta liberalidade tão pouco duradoura, e esta circula-
ção tão precipitada tornavam-se tão inuteís como a
lei que ordenava. Mas de onde vem não se verem os
cristãos exercer entre si esta lei?

A caridade é tão moderada hoje que se não está
bem conformado com esta doutrina e de resto nin-
guem pode querer-lhes mal por isso. Deus quer que
os nossos socorros aos pobres sejam tão bem regula-
dos que estejamos sempre sm estado de os socorrer:
uma caridade indiscreta causaria terriveis desordens



na sociedade civil porque eu se encontrassem os po-
bres na posse de bens estranhos e que não tivessem a
mesma caridade para os entregar aos filhos ou su-
cessores daqueles que deles se tivessem daspojado
para obedecer ao preceito absurdo dos Aposlolos, a
força e a chicana os fariam infalivelmente restituir
Ha todos os dias sucessões deixadas as lerejas, aos
conventos e as comunidades, disputadas em seguida
pelos sucessores naturais e readquiridas apesar da,
doações, dos testamentos e dos contractos dos doado-
res, com mais forte razão duma caridade tão sucessj-
vã seria sem efeito, e o preceito que a ordenasse con-
siderado como o preito duma imaginação doentía e
dum juizo desregrado.

A moderação que nos prega o Evangelho em
amar os nossos inimigos, de estender a outra face
para que eles nos deem um segundo bofetão quando
tivermos recebido o primeiro, pratica-se tão pouco
como o que é ordenado a respeito da caridade. Deus
nos manda no texto sagrado perdoar aos nossos ini-
migos, esquecer as suas ofensas, e nos proibe vingar-
mo-nos. E bem mais natural conformamo~nos com
estas ordens: é tudo o que a natureza e a razão apre-
feiçoadas pela instituição podem exigir de nós, e
isto mesmo é ainda assaz difícil. Mas se a lei divina
ou humana fosse mais longe, se ela exigisse mais
dos homens, seria absurda a de nenhum efeito. E é
precisamente o caso da maior parte dos preceitos do
Evangelho, e em particular daquele de que estamos
tratando; a moral excessiva que ele encerra, torna-o
impraticável, e faz que os homens náo observem nem
uma nem outra. Sam Paulo diz que a lei divina dada
na montanha do Sinai foi para um tempo determi-
nado: que todos os bens que ela promete são tempo-
rais: que não na nem justificação nem santidade, que
não produziu nos homens senão maldição, e que é
por ela que o pecado se introduziu no mundo. Como
podem provar-se tantas blasfêmias? Como se ousa
sustentá-las e actuar conseguitermente? Porque os
cristãos imbuidos de principios tão perniciosos reve-
renciam Moisés que deu esta lei aos Israelitas da
parte do Sonhar, assim como Josué, David, Samuel,
e tantos outros santos homens que sómente merecem
este titulo porque nunca deles se afastaram! Os Pro-
fetas que são oráculos do cristianismo e sem os quais
os cristículos nâo teriam podido fazer o Messias a
instituir a sun religião, teem seguido com toda a
possivel exactidão esta lei sagrada, e as suas profecias
estão cheias apenas de advertências que faziam aos
filhos de Israel para os fazer entrar na observância
das leis e dos preceitos que Moisés lhes tinha dei-
xado. Quantas ameaças se não vêem nos seus escritos
contra os que as violarem? Se é Deus que a faz, se
ela está escrita pela sua própria mão, se ela foi pro-
nunciada pela sua própria boca, ela é sem dúvida a
sua perfeição e não se lhe pode alterar nem juntar
seja o que fôr sem diminuir a sabedoria infinito do
legislador: é necessário que ela perdure eternamente.
E Sam Paulo não pode apresentar uma opinião con-
trária sem uma temeridade sacrilega que deveria
destruir todas aquelas que teve e que os cristãos se-
guem com o mesmo respeito como se o Senhor as
tivesse expressamente ordenada,

Eu creio que tantas provas tão ervidentes e tão
incontestáveis devem convencer os cristaos de que
os Israelitas estão no bom caminho, que observam a
verdadeira lei do Senhor e que esperam com razão
que ele lhes enviáro um Messias que os retire dentre
os povos e os faça gosar de todos os beneficios inse-


 
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