6 HA-LAPID ========================================== outrora cantavam as nossas avós na terra híspanica, ainda hoje embalam as ingenuas taboas almal das mulheres e creanças judeo- iberícas transmitidas oralmente. Um jovem compositor orientalista Cav. Alberto Hemsi acaba de prestar um incal- culavel serviço, ao judaismo sefardí, reco- lhendo essas velhas canções e escreven- dendo-as para piano e canto. Um amigo entoou, a meu pedido essas canções, e uma onda de nostalgica sensação me invadiu fazendo evocar perante os meus olhos humedecidos as magestosas figuras das dônas hebrêas de tempos idos nos seus confortaveis lares e nos seus elegantes, requintados e espirituosos serões sob o belo ceu docemente estrelado de Sefarad, antes de nessa formosa terra ter soprado o hór- rido vento da insania inquisitorial Toda a familia sefardi deve possuir essas canções e ensina-las a seus filhos, contri- buindo assim para o renascimento das bele- zas do judaismo peninsular. Barros Basto. o o o Uma festa de Purim Realizou-se no dia 13 de Adar de 5.693 ou sejam 11 de Fevereiro de 1933 e. v., na Comunidade israelita desta cidade (Porto), pelas 22 horas a cerimónia religiosa de Pu- rim (sortes) ou Festa de Ester. Conforme o ritual foi lida a Meguilah "Livro de Ester" e após o canto final - Igdal - o Snr Capi- tão Barros Basto recordou-nos o triunfo dos judeus sobre aqueles que lhes querem re- compensar os serviços dando-lhes a morte. No dia seguinte às 15 horas fez-se a Minhah, a qual foi seguida por um discurso do Digno Presidente da Comuniade. Pondo de parte os meus, aliás poucos conhecimen- tos Biblicos, eis a conclusão que tirei do discurso a que acabo de referir-me: -- Ester, era uma judia que viveu em Babilonia no tempo do rei da Persia Assuero. Era sobrinha do, tambem judeu Mardo- queu, por quem era estimada como filha. Tendo-se o rei divorciado, ordenou que todas as donzelas se apresentassem na pa- lácio afim de Assuero escolher aquela que devia substituir a rainha. Entre elas estava Ester, cuja beleza e graça apaixonaram o coração do rei, que, sem hesitar lhe ornou a cabeça com a corôa real. Mardocheu, sentado à porta do palácio velava pela sorte da sobrinha. Conquistara porém o odio de Aman; era este valido do rei e alvo de todas as honras que o exagero levou a ponto de or- denar que os seus subditos o adorassem. O unico que perante ele se não prostrava era o judeu Mardoqueu, que só a Deus prestava, humildemente, estas honras. É daqui que parte o ódio não só contra êle, mas contra todos os judeus. Alegando os diferentes costumes e reli- gião destes, conseguíu o malvado Aman que o rei assínasse um edito, pelo qual, em dia que as sortes indicariam, ordenava o exter- minio de todos eles. É o dia 13 de Adar o fixado para o hor- rivel morticinio Porem antes salvara Mar- doqueu a vida de Assuert descobrindo uma conspiração planeada contra êle por alguns dos seus subdítos. Receberam estes o mere- cido castigo e tal serviço foi escrito nos anais do reino; mas a sorte de Mardequeu não fôra favorecida e continuava à porta do palácio, lamentando como todos os seus ir- mãos a triste sorte que lhe estava determi- nada. Hivia posto a rainha Ester ao facto do terrivel edito pedindo-lhe que interce- desse junto do rei pelos judeus. Penetrada Ester de ardente patriotismo e grande amor traternal aventurou-se a falar ao rei não obstante um édito que punia de morte toda a mulher que perante ele se apresentasse sem que houvesse sido cha- mada. Mas o Todo-Poderoso guiava Ester e o rei vendo-a tremu-la e palida estendeu para ela o seu cetro, sinal de completo perdão. O unico pedido que fez foi que o rei consentisse em ir a um banquete no dia seguinte, levando em sua companhia Aman. Acedeu El-Rei e, como depois dele pre- guntasse a recompensa que Ester queria, esta simplesmente diz: Peço-vos que venhais tambem amanha e então farvos-hei conhecer a minha vontade. Como o rei não conseguisse conciliar o
N.º 054, Adar 5693 (Mar 1933)
> P06