Ha-Lapid הלפיד

 2             HA-LAPID
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tempo ás familias convertidas, foram expul-
sos e proscritos.

A sociedade não-judaica, na qual êles
haviam podido sacrificando-lhe a sua velha
velha religião, regeitou-os brutalmente.

Mas enquanto que os judeus persegui-
dos e expulsos sabem que sofrem tanto
como judeus, pelo judaismo, enquanto que
êles encontravam auxilio e protecção nas
comunidades judaicas, os convertidos, êles,
não sabendo a quem se hão-de dirigir.

Eles ou os seus antepassados tinham
inconsideradamente desfeito um nó que os
ligava ao judaismo: êles julgavam-se em se-
gurança no outro campo. Mas hoje vêm-se
regeítados de tôdas as partes onde encon-
trar um refugio? A sorte déstes renegados
inspira, não despreso, mas um sentimento
de piedade. A sua situação não é das mais
invejáveis! Imagine-se, por exemplo, o estado
de espírito do presidente do tribunal de
primeira instancia, sr. Soelling, de Berlim.
Este senhor chamava-se Seligsohn; tinha
inaugurado a sua carreira de juiz pelo ba-
tismo. Mudando de religião mudou também
de opiniões políticas, conformes à sua nova
situação. Os primeiros anos depois da guer-
ra viram o sr. Soelling nas fileiras dos so-
cial-democratas. Inclinou-se bem depressa
para o direito. Membro do partido nacional-
alemão, era conhecido pela sua actividade
contra os judeus.

Ele havia tentado mais tarde - mas sem
sucesso -- entrar no partido nacional-socia-
lista que escreveu no seu programa a luta
contra os judeus. No último 31 de Março o
sr. Soelling foi obrigado a deixar o palácio
da justiça, juntamente com os judeus que
êle havia combatido! Conhece-se também o
caso do secretário do Estado, Sua-Excelên-
cia o sr. Lewald, que tem mais de 70 anos.

Presidente da Comissão de cultura física,
gosava da maior confiança e da mais alta
consideração, nos meios nacionalistas; ainda
hà pouco tempo, o marechal Hindenburg
remetia-Ihe o "Adlerschild", a mais alta
distinção do Reich. jàmais a familia Lewald
teria imaginado que um dos seus membros
seria um dia alvo de ataques hitlerianos. E
portanto o secretário do Estado Lewald,
tam festejado pelos meios nacionalistas, foi
forçado a demitir-se das suas funções: des-
cobriu-se que há 110 anos o seu avô se
havia convertido!

Destituiu-se o fundador dos "Capacetes



de Aço", o tenente-coronel Düsterberg, por-
que êle é descendente dum judeu! Nada
pode salvar, nem a alta situação que ocu-
pava na armada, nem a sua actividade en-
quanto chefe dos "Capacetes de Aço". Eu
encontrei, hà dias, na avenida dos Campos-
Elíseos, um dos meus camaradas de escola.

- Parei admirado e preguntei o que fa-
zia ele em Paris?

- Eu tinha um lugar na Alemanha; tra-
balhava, ganhava a minha vida; um dia des-
pediram-me porque sou judeu.

-Tu és judeu, tu? exclamei eu cada
vez mais admirado. Entretanto, no liceu
quando eu contava os alunos pertencentes á
religião mosaica, nunca te fizeste conhecer!

Muitos renegados procuram hoje reno-
var os laços que os ligava outrora á comu-
nidade judaica. Um alto funcionário judeu
de Berlim e sua mulher haviam-se conver-
tido há muitos anos ao cristianismo. Orgu-
lhavam-se de pertencer aos clubs em que
os judeus não são admitidos e não gostam
nada das conversas dizendo respeito ás
questões judaicas.

Eu tive ocasião de falar com a mulher
deste funcionário próximo do dia 1 de Abril.
A despedida brutal de seu marido, o movi-
mento de boycottage contra os judeus ha-
viam impressionado fortemente essa dama.
As angustias dos judeus tornaram-se as
suas angustias, a comunidade judaica, tor-
nou-se a sua: "Eu volto a ser uma mulher
judia", diz-me ela despedíndo-se.

Inutil relatar todos os casos particulares.
Mais importante do que todos estes deta-
lhes é a lição que se deve tirar destes últi-
mos acontecimentos da Alemanha: o que
julga que convertendo-se protege os seus
filhos e a si próprio contra os ataques dos
anti-semítas terá um día uma amarga dece-
pção.

Nesse dia convencer-se-á que no lugar
de melhorar a sua situação a tornou pior.

                   De "L'Univers Israelite"

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de Censura