2 HA-LAPÍD ========================================== os Judeus alemães não serão mais cidadãos. Entretanto, as perseguições individuais continuam continuam com uma verdadeira paixão guerreira. Será necessário publicar algum dia o livro preto de todas as atroci- dades e o mundo civilizado deverá reconhe- cer que o seculo XX terá sido, dezanove anos depois da mais atroz das guerras, in- capaz de impedir uma segunda volta á bar- baria. Há todos os dias execuções sumarias nos campos de concentração e, quando as familias podem receber os corpos das viti- mas são as orações dos martires, como no tempo da Inquisição, que os rabbis da Ale- manha pronunciam, á noite, nos cemiterios, que nada pode melhor defender contra as profanações. Hitler ficará muito tempo no poder para desgraça da Alemanha. Mais nenhuma força se pode levantar contra ele, no pais onde nenhum dos seus adversários politicos teve a honra de morrer numa barricada. A ditadura desencadeou as paixões ele- mentares que é dificil conter. O primeiro entusiasmo passou, será necessario no lugar das marchas ao flambeau das manifestações teatrais e os discursos pela T. S. F., dar pão puderam tomar o lugar dos Judeus nas administrações, nas profissões liberais ou nos trabalhos. A catastrofe economica então será inevitavel, mesmo que se procure ins- taurar um novo regimen seguindo o exem- plo de Lénine. O terceiro Reich, sem duvida, sossobrará na anarquia e nós desejamos em primeiro lugar que uma ma- nifestação desesperada venha perturbar a ordem nas fronteiras. Com efeito, o voto que não esitam em formular certos demo- cratas, que um acordo internacional impu- nha a Hitler uma camisa de força, parece- me doloroso para os proprios judeus que o ditador conserve o desígnio como refens. Os judeus da Alemanha são apenas os primeiros no seu calvário. E' o fim da sua liberdade, a impossibilidade para eles de ganhar a sua vida, de encarar o dia de amanhã a medo perpetuo para a sua segu- rança na rua e mesmo em casa. Nós assistimos em alguns meses a um exodo em globo; pedir-nos-há para acolher milhares de creanças para salvar pelo me- nos o futuro. Nós estaremos então sem po- der para encontrar, sosinhos, os remédios para a catastrote. Como na idade média, os judeus na Alemanha não poderão mais sofrer sem es- perança ou desaparecer. Não haverá mais lugares na anarquia dum povo em loucura que por duas espé- cies de judeus: os Hoffuden, de côrte pe- quena minoria que, a preço de dinheiro, comprou dada dia uma aparente liberdade, negligenciando os escrupulos da conscien- cia e os Ghetto juden, judeus em cativeiro, preferindo sofrer no esolamento social, num solo que os seus pais enriqueceram, con- tentando-se com pouco, com a tenaz espe- ranca dum futuro melhor. Para que esta esperança duma ressur- reição seja somente possivel, é preciso de- sejar que, apesar dos sofrimentos e provas do futuro, nós mantenhamos intactas em nós mesmas, como no coração daqueles que nós temos o dever de auxiliar, todas as forças espirituais que nós tenhamos dos nossos pais. Estejamos mais do que sempre atentos aos ensinamentos dos nossos guias. Estu- demos com mais obstinação os textos dos nossos livros sagrados. Fiquemos mais profundamente judeus pelo nosso pensamento e pelos nossos actos. Desde que temos o direito de ser fieis, de pertencer á familia francesa á qual esta- mos defenitivameme ligados por uma soli- dariedade fisica e moral, podemos, nestas horas de angustia, alegrar-nos um pouco: como em 1791, como em 1848, como em 1914 O ideal de solidariedade dos nossos profetas se confunde com o principio da fraternidade de que o nosso pais aceitou defenitivamente os pesados deveres. A unidade de israel não é uma vã for- mula nem uma visão delorosa, se se consi- dera como uma regra de acção humana e um mandamento inelutavel de caridade. Raymond-Raoul Lambert. De "L'Univers Israelite. ---------------------------------------- Visado pela Comissão de Censura
N.º 058, Ab 5693 (Ago 1933)
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