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Ha-Lapid הלפיד


N.º 060, Kislev 5694 (Dez 1933)







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 2              HA-LAPID
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                HANUCÀH

Mais uma vez acabamos de comemorar
a festa de Hanucah ou Macabeus.

Com o aniversário da restauração do
culto no Templo, vieram as respectivas
recordações. O Templo profanado, contendo
nos seus altares ofertas imundas. Os judeus
oprimidos severamente e, a cada passo,
obrigados a adorar jupiter e os outros deuses
gregos. Como governador, um homem em
quem não existiam sentimentos humanos e
que, do seu trono, pela força esmagadora,
quer fazer obedecer a toda a espécie de in-
justiças e crueldades.

Se lhe diziam que um era fiel adorador
do unico Adonai, logo êle ordenava que,
após a recusa a comer carne de porco ou
qualquer outra vianda impura, fosse aniqui-
lado.

Tratando-se de familia, era mais heroico
o acto, segundo êle, permitindo que uns
vissem morrer outros. Assim sucedeu, entre
muitos a uma pobre mulher; vê morrer por
ordem do tirano, um, dois, três, .. até sete
os seus filhos.

Mas, depois, é animador e alegre, ir
com o velho Matatias, chefe enérgico e audaz
a formar um pequeno grupo que há-de re-
voltar-se, lutar, defender o povo e a pátria
e colocar no trono a justica e a paz no lu-
gar da injustiça e da tirania.

                  *
                *   *

Sabendo, porém, que é dispensavel des-
crever esta festa porque Israelita algum lhe
é alheio e, ainda, apesar disso, se encontra
o resumo adiante, passo sómente a descre-
ver a maneira como a comemoramos.

Pelas 3 horas da tarde começou a oração
da Mineha, que o Reverendo preceptor
Francisco Samuel Rodrigues entoou solene-
mente, mostrando bem competência e amor
para desempenhar as suas elevadas funções.
Logo depois da oração, o Talmid Jonathan
Rebordão, pronunciou um discurso, cuja ul-
tima parte a seguir transcrevo:

Minhas Senhoras e meus Senhores.

  

O meu coração está hoje duplamente sa-
tisfeito e radiante. Sim, digo duplamente,
porque, em primeiro, lugar como Israelita
que sou, alegro-me com todos os Israelitas
presentes e com os de todo o mundo pelo
dia que hoje comemoramos. Ele nos trás à
memória uma das paginas mais belas, mais
heróicas da nossa história; em segundo lu-
gar e principalmente, porque vejo que o
que se deu à tantas centenas de anos na
Palestina se está a dar actualmente no nosso
pais, em Portugal. Tambem nós tivemos
perseguições, tambem nós tivemos guerras e
tambem nós tivemos e temos finalmente a
victória. Sim a victória e é plenamente satis-
feito e orgulhoso que eu o aqui declaro.
Talvez que alguem considere esta minha
afirmação produto duma imaginação dema-
siado fertil mas não é. Com efeito há uma
profunda analogia entre a historia dos Ma-
cabeus e a historia dos judeus Portugueses,
os chamados ectualmente "Maranos". Refi-
ro-me ao tempo decorrido dêsde os tempos
do rei D. Manuel e D. joão III até ao tem-
po presente.

Tambem êstes reis moveram crueis guer-
ras aos judeus existentes neste pais.

Combateram com armas peores de que
o ferro e as pedras, como o são as prisões
e o fogo. êstes pobres Judeus, que outro
crime não tinham. senão o de só adotarem
o Deus único de Israel e o do cumprimento
da Lei. Tambem eles foram perseguidos,
presos, mortos a ferro e a fogo.

Suas sinagogas foram destruídas e incen-
diadas; as suas casas foram saqueadas; en-
fim passam por todos os horrores, por que
e' possivel passarem pessoas humanas. Pas-
sam anos. Passam séculos.

O judaismo em Portugal jazia prostrado,
desconhecido, amarfanhado. Ninguem queria
expor-se aos rudes ataques que se lhe mo-
veriam, se se viesse lutar aberta, clara e
denoadadmente pela causa judaica O tempo
continua a passar é o judaismo continua
no mesmo aniquilamento.

Foi, então, que, impávido e sereno, se
ergueu a figura marcante e heroica, eu con-
sidero êste gesto como um verdadeiro acto
de horoicidade, porque, não é só heroi o
que em presença do perigo redobra ainda
de valôr, mas tambem o que perante a
campanha que decerto sabe que lhé move-
rão, continua sempre firme e sereno, tendo


 
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