2 HA-LAPID ============================================= HANUCÀH Mais uma vez acabamos de comemorar a festa de Hanucah ou Macabeus. Com o aniversário da restauração do culto no Templo, vieram as respectivas recordações. O Templo profanado, contendo nos seus altares ofertas imundas. Os judeus oprimidos severamente e, a cada passo, obrigados a adorar jupiter e os outros deuses gregos. Como governador, um homem em quem não existiam sentimentos humanos e que, do seu trono, pela força esmagadora, quer fazer obedecer a toda a espécie de in- justiças e crueldades. Se lhe diziam que um era fiel adorador do unico Adonai, logo êle ordenava que, após a recusa a comer carne de porco ou qualquer outra vianda impura, fosse aniqui- lado. Tratando-se de familia, era mais heroico o acto, segundo êle, permitindo que uns vissem morrer outros. Assim sucedeu, entre muitos a uma pobre mulher; vê morrer por ordem do tirano, um, dois, três, .. até sete os seus filhos. Mas, depois, é animador e alegre, ir com o velho Matatias, chefe enérgico e audaz a formar um pequeno grupo que há-de re- voltar-se, lutar, defender o povo e a pátria e colocar no trono a justica e a paz no lu- gar da injustiça e da tirania. * * * Sabendo, porém, que é dispensavel des- crever esta festa porque Israelita algum lhe é alheio e, ainda, apesar disso, se encontra o resumo adiante, passo sómente a descre- ver a maneira como a comemoramos. Pelas 3 horas da tarde começou a oração da Mineha, que o Reverendo preceptor Francisco Samuel Rodrigues entoou solene- mente, mostrando bem competência e amor para desempenhar as suas elevadas funções. Logo depois da oração, o Talmid Jonathan Rebordão, pronunciou um discurso, cuja ul- tima parte a seguir transcrevo: Minhas Senhoras e meus Senhores. O meu coração está hoje duplamente sa- tisfeito e radiante. Sim, digo duplamente, porque, em primeiro, lugar como Israelita que sou, alegro-me com todos os Israelitas presentes e com os de todo o mundo pelo dia que hoje comemoramos. Ele nos trás à memória uma das paginas mais belas, mais heróicas da nossa história; em segundo lu- gar e principalmente, porque vejo que o que se deu à tantas centenas de anos na Palestina se está a dar actualmente no nosso pais, em Portugal. Tambem nós tivemos perseguições, tambem nós tivemos guerras e tambem nós tivemos e temos finalmente a victória. Sim a victória e é plenamente satis- feito e orgulhoso que eu o aqui declaro. Talvez que alguem considere esta minha afirmação produto duma imaginação dema- siado fertil mas não é. Com efeito há uma profunda analogia entre a historia dos Ma- cabeus e a historia dos judeus Portugueses, os chamados ectualmente "Maranos". Refi- ro-me ao tempo decorrido dêsde os tempos do rei D. Manuel e D. joão III até ao tem- po presente. Tambem êstes reis moveram crueis guer- ras aos judeus existentes neste pais. Combateram com armas peores de que o ferro e as pedras, como o são as prisões e o fogo. êstes pobres Judeus, que outro crime não tinham. senão o de só adotarem o Deus único de Israel e o do cumprimento da Lei. Tambem eles foram perseguidos, presos, mortos a ferro e a fogo. Suas sinagogas foram destruídas e incen- diadas; as suas casas foram saqueadas; en- fim passam por todos os horrores, por que e' possivel passarem pessoas humanas. Pas- sam anos. Passam séculos. O judaismo em Portugal jazia prostrado, desconhecido, amarfanhado. Ninguem queria expor-se aos rudes ataques que se lhe mo- veriam, se se viesse lutar aberta, clara e denoadadmente pela causa judaica O tempo continua a passar é o judaismo continua no mesmo aniquilamento. Foi, então, que, impávido e sereno, se ergueu a figura marcante e heroica, eu con- sidero êste gesto como um verdadeiro acto de horoicidade, porque, não é só heroi o que em presença do perigo redobra ainda de valôr, mas tambem o que perante a campanha que decerto sabe que lhé move- rão, continua sempre firme e sereno, tendo
N.º 060, Kislev 5694 (Dez 1933)
> P02