HA-LAPID 7 ======================================== Chegado a Toledo a sua condição eco- nómica foi assegurada por Abraham Se- nior, arrematante dos impostos daquela cidade, o qual o faz seu sócio nos negócios, evitando-lhe logo qualquer preocupação económica. Podia finalmente Don Isac retomar os seus amados estudos, tantas vezes deles afastado pelas intrigas e ocupações politi- cas. No periodo que decorre da sua fuga de Portugal em Março de 1484. no decurso de poucos mêses completa o comentário ao li- vro de josué, dos Juíses e de Samuel. Es- tava trabalhando no comentário ao livro dos Reis quando foi chamado à Côrte de Fernando e de Isabel para lhe confiarem as finanças do reino. Quando em 1487 a cidade de Malaga foi tomada pelos exércitos unidos de Castela e Aragão e nela foram feitos prisioneiros 450 hebreus. Abarbanel novamente promoveu uma subscrição, que rendeu 27.000 dobrões de ouro, e restituiu a liberdade a êsses mi- seros. que estavam destinados a uma dura servidão. O edito de expulsão de 1492 foi publi- cado em março e ordenava aos hebreus que abandonassem dentro de quatro mêses o territorio espanhol. O único motivo do grave procedimento, a única censura feita aos hebreus, era a de persistirem na sua erronea crença e de dar possibilidades aos maranos ou cristãos-novos de praticarem ocultamente a fé ancestral. Depois duma breve dilação, o edito teve execução no dia 9 de Abril, data já dupla- mente infausta para o povo de Israel. Ainda naquela hora de geral desencora- jamento Don Isac Abarbanel não perdeu a sua firmeza e a sua fé. -"Fazei que perante os nossos ator- mentadores e os nossos inimigos. nós fiquemos firmes na nossa fé e na lei de nossos pais. Se nos deixam com vida-vi- veremos, se nos matarem-morreremos, mas não faltaremos ao nosso pacto com Deus. Coragem! E no Seu Nome iniciemos a nossa perígrinação". A nova morada do exilado Abarbanel foi a italia. Napoles foi o primeiro asilo de Abar- banel e nessa cidade pôde finalmente com- pletar no outôno de 1493 o seu comentário ao livro dos Reis. Dali a pouco foi nova- mente distraído dos seus estudos. Fernan- do I de Aragão chamou á côrte confiando- -lhe um cargo semelhante ao que tivera primeiro em Portugal e em Espanha de- pois. Tal dignidade Abarbanel conservou-a ainda sob o reinado de Afonso II, filho sucessor de Fernando I. Para ajudar os imigrados Abarbanel conseguiu reunir uma quantia de 6000 ducados, dois terços da qual foram subs- critos por cristãos. Em 1494 Abarbanel passou a Messina com o seu senhor Afonso d'Aragão. quan- do este fugiu deante de Carlos VIII de França. A expedição de Carlos VIII foi uma oti- ma ocasião oferecida aos aventureiros que nela tinham participado com a esperança dos despojos, e durante o saque, a que se entregou a soldadcsca francêsa foi des- truída a biblioteca de Abarbanel preciosa biblioteca que lhe tinha merecido tantos cuidados e que tinha levado a salvo de Espanha. Um indice da riqueza e da rari- dade dos volumes e dos manuscritos que a compunham, são as numerosas citações que encontramos nas varias obras de Don Isac Abarbanel. Na Sicília ficou até Junho de 1495, quando morreu Afonso, que ele tinha acompanhado no exílio. Não podendo vol- tar ao reino da Napoles, que ainda estava ocupado pelos francêses, dirigiu-se para a ilha de Corfú, onde se dedicou a fazer o comentário de Isaias. Em 1496 voltou para a Itália e fixou-se em Monopoli, na Apulia. Ali desenvolveu uma actividade literária prodigiosa e com- pletou o seu comentário ao Deuteronomio, iniciado em Portugal vinte e quatro anos atrás. Longe dos seus filhos, privado de grande parte de riqueza que tinha salvo de Espanha, êle buscou consolação numa in- tensa actividade literária, e de facto os úl- timos dez anos da sua vida foram os mais fecundos no campo dos seus estudos filosó- ficos. Pertencem aos escritos de caracter exegético elaborados neste tempo, um comentário à Hagadah de Pascoa e um, tra- tado sôbre o Pirké Aboth, que é uma das suas obras principais, no qual êle se trata da sapiência divina tentando concilia-la com o livre arbitrio. De 1496 a 1498 dedicou-se também a uma trilogia de caracter apolo-
N.º 060, Kislev 5694 (Dez 1933)
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