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N.º 060, Kislev 5694 (Dez 1933)







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Chegado a Toledo a sua condição eco-
nómica foi assegurada por Abraham Se-
nior, arrematante dos impostos daquela
cidade, o qual o faz seu sócio nos negócios,
evitando-lhe logo qualquer preocupação
económica.

Podia finalmente Don Isac retomar os
seus amados estudos, tantas vezes deles
afastado pelas intrigas e ocupações politi-
cas.

No periodo que decorre da sua fuga de
Portugal em Março de 1484. no decurso de
poucos mêses completa o comentário ao li-
vro de josué, dos Juíses e de Samuel. Es-
tava trabalhando no comentário ao livro
dos Reis quando foi chamado à Côrte de
Fernando e de Isabel para lhe confiarem
as finanças do reino.

Quando em 1487 a cidade de Malaga foi
tomada pelos exércitos unidos de Castela e
Aragão e nela foram feitos prisioneiros 450
hebreus. Abarbanel novamente promoveu
uma subscrição, que rendeu 27.000 dobrões
de ouro, e restituiu a liberdade a êsses mi-
seros. que estavam destinados a uma dura
servidão.

O edito de expulsão de 1492 foi publi-
cado em março e ordenava aos hebreus
que abandonassem dentro de quatro mêses
o territorio espanhol. O único motivo do
grave procedimento, a única censura feita
aos hebreus, era a de persistirem na sua
erronea crença e de dar possibilidades aos
maranos ou cristãos-novos de praticarem
ocultamente a fé ancestral.

Depois duma breve dilação, o edito teve
execução no dia 9 de Abril, data já dupla-
mente infausta para o povo de Israel.

Ainda naquela hora de geral desencora-
jamento Don Isac Abarbanel não perdeu a
sua firmeza e a sua fé.

-"Fazei que perante os nossos ator-
mentadores e os nossos inimigos. nós
fiquemos firmes na nossa fé e na lei de
nossos pais. Se nos deixam com vida-vi-
veremos, se nos matarem-morreremos,
mas não faltaremos ao nosso pacto com
Deus. Coragem! E no Seu Nome iniciemos
a nossa perígrinação".

A nova morada do exilado Abarbanel
foi a italia.

Napoles foi o primeiro asilo de Abar-
banel e nessa cidade pôde finalmente com-
pletar no outôno de 1493 o seu comentário
ao livro dos Reis. Dali a pouco foi nova-



mente distraído dos seus estudos. Fernan-
do I de Aragão chamou á côrte confiando-
-lhe um cargo semelhante ao que tivera
primeiro em Portugal e em Espanha de-
pois. Tal dignidade Abarbanel conservou-a
ainda sob o reinado de Afonso II, filho
sucessor de Fernando I.

Para ajudar os imigrados Abarbanel
conseguiu reunir uma quantia de 6000
ducados, dois terços da qual foram subs-
critos por cristãos.

Em 1494 Abarbanel passou a Messina
com o seu senhor Afonso d'Aragão. quan-
do este fugiu deante de Carlos VIII de
França.

A expedição de Carlos VIII foi uma oti-
ma ocasião oferecida aos aventureiros que
nela tinham participado com a esperança
dos despojos, e durante o saque, a que se
entregou a soldadcsca francêsa foi des-
truída a biblioteca de Abarbanel preciosa
biblioteca que lhe tinha merecido tantos
cuidados e que tinha levado a salvo de
Espanha. Um indice da riqueza e da rari-
dade dos volumes e dos manuscritos que
a compunham, são as numerosas citações
que encontramos nas varias obras de Don
Isac Abarbanel.

Na Sicília ficou até Junho de 1495,
quando morreu Afonso, que ele tinha
acompanhado no exílio. Não podendo vol-
tar ao reino da Napoles, que ainda estava
ocupado pelos francêses, dirigiu-se para
a ilha de Corfú, onde se dedicou a fazer
o comentário de Isaias.

Em 1496 voltou para a Itália e fixou-se
em Monopoli, na Apulia. Ali desenvolveu
uma actividade literária prodigiosa e com-
pletou o seu comentário ao Deuteronomio,
iniciado em Portugal vinte e quatro anos
atrás. Longe dos seus filhos, privado de
grande parte de riqueza que tinha salvo de
Espanha, êle buscou consolação numa in-
tensa actividade literária, e de facto os úl-
timos dez anos da sua vida foram os mais
fecundos no campo dos seus estudos filosó-
ficos. Pertencem aos escritos de caracter
exegético elaborados neste tempo, um
comentário à Hagadah de Pascoa e um, tra-
tado sôbre o Pirké Aboth, que é uma das
suas obras principais, no qual êle se trata
da sapiência divina tentando concilia-la com
o livre arbitrio. De 1496 a 1498 dedicou-se
também a uma trilogia de caracter apolo-


 
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