6 HA-LAPID ========================================= estudo da Thorah, na qual teve como mes- tre o célebre Rabbi Joseph Ben Abraham H'aim, mas dedicou-se tambem ao estudo das linguas estrangeiras, cultivou a Filoso- fia e a Historia e não descurou nenhuma das ciências naturais". "Apenas com vinte anos compoz o seu primeiro trabalho, intitulado Atéret Zeke- nim (o ornamento dos velhos) no qual toca já grande parte da doutrina princi- pal do judaismo, alguns dos problemas que ele enfrentará dum modo mais com- pleto nas suas numerosas obras, seguin- tes. De particular importância é uma obser- vação de natureza autobiográfica, contida na introdução ao Ateret Zekenim. O jó- vem autor lamenta-se que outras ocupa- ções o dístraiam dos estudos, que sabe- mos ser o seu campo d'actividade prefe- rido. E' um motivo que resalta frequen- temente nos escritos de Abarbanel, mas que adquire um significado e um valor muito especial na sua primeira obra juve- nil". "Em 1473 êle inicia o seu comentário ao Dauteronomio, obra que será muitas vezes interrompida pelas ocupações poli- ticas e que será terminada muitos anos depois na terra do exilio". "Bem depressa, segundo as previsões feitas no Ateret Zekenim, êle foi distraido dos seus estudos preferidos. De facto Afonso V, soberano inteligente e culto, que tinha notado a capacidade política e financeira do jóvem Abarbanel, chamou-o á Côrte, confiando-lhe, pouco depois o cargo de tesoureiro regio ou, para usar uma terminologia mais moderna, de Mi- nistro das Finanças". "No prefácio ao seu comentário ao livro dos Reis, êle expressamente diz qual foi o periodo mais feliz da sua vide: -Eu vivia em paz na casa paterna, na muito celebrada Lisboa, onde Deus me tinha concedido largamente bençãos, riquezas e honras. Eu tinha construido um palácio e construído vastos salões. A minha casa era grêmio de doutos e de sábios. Eu era bemquisto na Côrte de Afonso, rei pode- roso e justo, sob o qual ainda os hebreus gosavam dias de liberdade e de prospe- ridade. Eu era por êle estimado e em mim punha a sua confiança. Com seu agrado eu ia e andava no seu palácio". Apesar de rico, poderoso e bem visto pelos seus visinhos cristãos, Don Isac Abarbanel, bem longe de se desinteressar da sorte de seus irmãos, empregou sem- pre a sua importancia e a sua influencia politica ao levantamento dos hebreus. Com razão seu filho Judah, mais conhecido pe- lo nome de Leão Hebreu lhe chama "Es- cudo e Fortaleza" do povo desterrado. "Quando em 1472 com a conquista de Arzila, cidade de Marrocos, foram feitos prisioneiros e vendidos como escravos 250 hebreus, ele nada poupou para obter o seu resgate, Constituíu em Lisboa uma comissão de 12 membros com o encargo de recolher dinheiro, para que por toda a parte a solidariedade dos hebreus não fosse insensível aos sofrimentos dos pro- prios irmãos. Ele proprio percorreu todo Portugal á procura dos escravos vendidos e, não satisfeito de os haver resgatado, providenciou para que lhes não faltassem alimentos e vestidos, até que, aprendida a lingua do pais, podessem bastar-se ao seu proprio mantimento." "Os nobres sentimentos, a sua religio- sidade profunda e sincera, a sua sabedoria aliada a uma grande modestia tinham-lhe grangeado a benevolencia e a amisade de muitos notaveis e doutos portugueses. Ele tinha relações muito cordiais com o Duque de Bragança, principe de san- gue, senhor de vastas terras, que tinha ao seu serviço um pequeno exercito e que pouco era inferior em poderio ao proprio rei. As suas relações com a alta nobreza fo- ram-lhe funestas. Joao II, sucedendo a seu pai Afonso V, mal tolerava a manifesta po- pularidade que gosava o Duque de Bra- gança. Atraindo-o pérfidamente ao paço, fê-lo decapitar, motivando a condenação com supostas maquinações em seu dano. Também Abarbanel, que todos sabiam unido com laços de amisade ao duque justiçado, foi acusado de haver sustentado a revolta. com conselhos e com dinheiro Avisado a tempo do perigo que corria, pode acolher- -se na visinha Castela. Dali Don Isac Abar- banel tentou em vão, convencer João II da sua inocência, pois os seus protestos de nada valeram e foi-lhe confiscado o seu pa- trimónio. Todavia a sua família não foi molestada -e pode ir juntar-se-lhe na sua nova morada.
N.º 060, Kislev 5694 (Dez 1933)
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