2 HA-LAPID ====================================== Presidente morto Presidente pôsto Como noticiamos no ultimo numero deste jornal faleceu em Londres o senhor Eduardo Lumbrozo Mocatta, que havia completado 69 anos de edade no dia 16 de Fevereiro findo. Era o filho mais novo do sr. Abraham Lnmbrozo de Matos Mocatta e de D. Graça Mendes da Costa, e descendia (como se pode verificar pelos apelidos paternos e maternos) de maranos portugueses que se estabeleceram em Londres na segunda metade do século XVII. Pertencía a uma das mais distintas fa- mílias da Comunidade Israelita Portn- guesa de Londres, era o vice-Presidente do Conselho dos Anciãos da referida con- gregação e Presidente do Portuguese Ma- ranos Committee. Para o logar ocupado pelo ilustre ex- tinto foi eleito o sr. Barão Sir Francisco Abraham Montefiore. O actual presidente nasceu a 10 de Outubro de 1860, e era o filho mais velho do snr Joseph Meyer e sucedeu a seu tio- avô Sir Moises Montefiore, o grande e ilustre filantropista, no baronato em 1886. O titulo tinha sido extinto por morte de Sir Moisés Montefiore, mas para per- petuar o baronato na familia Montefiore, Sua Magestade Britânica a Rainha Vitória, por iniciativa pessoal, fez reviver o titulo segundo a lei de Morgadio. Em 1894. Sir Francisco foi Alto She- rif do condado de Kent, e de Sussex no ano seguinte. Sir Francisco demonstrou sempre grande amor à velha sinagoga portuguesa de Bevis Marks, e tem prestado grandes serviços à Comunidade Israelita Portu- guesa de Londres, a mais antiga da Grã- Bretanha. O snr. Barão viu com simpatia o Sio- nismo, apezar de certa má vontade de al- guns conservadores ingleses à romântica ideia do Regresso a Sion. O sr. Barão é o Presidente do Conse- lho dos Anciãos da Comunidade Israelita Portuguesa de Londres o acaba de ser eleito Presidente do Portuguese Maranos Committee. As nossas profundas saudades ao Ve- nerando Presidente Matos Mocatta e os nossos votos de longa vida ao ilustre Pre- sidente o Barão Sir Francisco Montefiore. o o o A Tragedia do ser judeu Viver, ha seculos. perseguidos pela es- tupidez e pela crueldade humana, sofre com a perfidia dos maus e com a indiferen- ça dos bons-tal é a nossa tragédia, a nós judeus. Sentir destacar-se da familia judaica um tão grande numero dos nossos irmãos (os menos infelizes porque são os menos fieis). vê-los afundar-se no arrivísmo egoísta, nos gosos materiais. na escravatura e na dege- nerescença moral, ver precisamente estes ultimos serem considerados por toda a parte como os representantes da nossa raça, é tambem a nossa tragédia, à nós judeus. Mas ha uma tragedia judaica mais dolo- rosa ainda, mais profunda e mais alta: a do judeu que, consciente de ser portador das mais elevadas aspirações, das ideias mais justas, dos mais nobres sentimentos da hu- manidade, estas ideias e estes sentimentos combatidos, enlameados, diminuidos aos olhos dos homens sob o pretexto que eles foram ensinados por judeus e que judeus são ainda hoje os seus mais devotados ser- vidores-tal é a verdadeira, a grande traga- día de ser judeu. * * * Perguntam-nos;-Veados, porque sois vós inimigos de todos os cãis do mundo? ou ainda: - "Porque quereis abalar as vos- sas velhas civilizações? Tudo ali está con- tudo em ordem: o pobre na rua e nós nas nossas casas, onde a nossa crôsta nos con- serva quentes. Percorro uma Historia dos judeus. Estra- nho destino o destes reprobos tolerados um tempo, depois vomitados por todos os povos da terra. E, como certa historia, toma para mim outra face! O bom rei Dagoberto ordena o batismo ou a expulsão dos judeus. Filipe Augusto fa-los pagar o resgate, depois ex- pulsa-os. Os Crusados preparam-se para a Guerra Santa massacrando judeus. S. Luis,
N.º 063, Nisan 5694 (Mar 1934)
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