2 HALAPID ========================================= MOISES por Ahad-Haam Quando Moisés deixa a escola para entrar na vida, a primeira coisa que vê foi uma ofensa feita à justiça. Não dá tempo a reflexão, mas pune a afronta imediatamente: a eterna luta entre o pro- feta e a vida está declarada. Um Egípcio maltrata um hebreu, o forte esmaga o fraco. Tal é o primeiro espectáculo que lhe mostra a vida. Moi- sés fica indignado - e coloca-se do lado do fraco. Mas um outro espectáculo mais aflitivo o comove: "Dois Hebreus estavam em briga", Ambos seus irmãos; ambos fracos, ambos escravos de Pharaó e ba- tem-se entre si! Esta vez ainda, um sen- timento de justiça se apodera do coração do profeta-e intervem. Mas é forçado a reconhecer que não há coisa própria senão tomar sempre o partido do direito e que interpondo-se entre homens mais fortes põe a sua pró- pria vida em perigo. Mas esta comprovação não o torna mais "sábio". Expulso do seu país, da sua pátria, vai estabelecer-se noutra parte. Chegado a um pais desconhecido assenta-se á beira dum poço. E lá, mais uma vez ouve a voz da justiça oprimida e vôa em seu socor- ro. Esta vez não são hebreus que dispu- tam, são homens dum outro povo, dum povo que não conhece. Mas que importa! O profeta não faz distinção entre homens. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Durante tôda a sua vida de nomada, não cessa de combater pela causa do di- reito. E tornar-se-á o libertador do seu povo e ensinará a justiça não sómente aos homens do seu tempo, mas a todas as ge- rações futuras. A revelação desta missão tem por qua- dro o grande e silencioso deserto. O pro- feta já cançado de dominar a eterna luta, aspira a uma vida calma. E' por isso, que êle deixa os homens o se faz pastor. Com o seu rebanho, chega ao deserto. Mas o repouso foge-lhe tambem lá. Sente que não substituiu a sua missão. Uma voz in- terior pareceu dizer-lhe: "Que fazes tu ai? Vai retomar a luta para que foste creado!" Procura subtrair-se a esta voz, mas não o consegue. A voz do Divino, a seu pezar, fala à sua consciência. Um fogo queima os seus ossos. Na sua mocidade, havia feito tudo que estava em seu poder para impôr o reino da justiça no mundo, mas o fogo não se havia mo- derado. A luta tinha consumido os melho- res anos da sua vida, a sua fôrça e o seu vigor sem que tivesse triunfado. Agora estava ás portas da velhice. Ainda um pouco e as suas forças abandoná-lo-ão tornar-se-à como uma árvore seca que não dá mais frutos. Poderá, agora, encontrar novos cami- nhos para chegar ao seu fim? Poderá ser bem sucedido lá, onde ti- nha encalhado na sua juventude? Que pode fazer quo não tenha já feito? Por- que o fogo continua a arder no seu cora- ção e a perturbar a sua tranquilidade? De repente, o profeta ouve a voz di- vina: "Eu sou o Deus de teu pai, o Deus dos teus antepassados!". Como Moisés pode esqueçer isso? Deus, tinha-o servido com todo o ardor da sua fé, tinha-se ba- tido pela ideia da justiça. Em Madian, em toda a parte onde o haviam conduzido os seus passos, se tinha esforçado por salvar o oprimido das mãos do opressor. Tinha pregado a verdade, a paz e o direito. Mas o Deus dos seus pais tinha-o esquecido! Do seu povo não se lembrava mais... A esperança renasce no seu coração, enfortalece-se de instante a instante; o profeta sente crescer as suas forças e re- novar-se os dias da sua mocidade. Sabe de hoje em diante a vida que deve seguir. Assim pois, não tinha perdido todo o seu vigor demorando-se no meio dos outros povos que o consideravam como um es- tranjeiro e que não queriam os seus ensi- namentos... Irá agora para o seu povo, para os seus irmãos- e lhes falará em nome de Deus de seus pais. Eles escutá-lo-ão, porão uma orelha atenta a tudo o que lhes disser, obecerão à sua voz, e fundará o reino da justiça com o auxilio do povo que fará sair do Egipto, da casa onde é escravo. A ideia é tão grande, tão bela que es- quece por um momento os obstáculos er- guidos sobre o seu caminho. Não se apre- sentarà só diante do Pharaó. Sabe que
N.º 065, Sivan 5694 (Mai 1934)
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