HA-LAPID 3 ====================================== um homem como êle, que ignora a lin- guagem da corte, não saberia falar ao co- ração do rei Sim, mas primeiramente irá para o seu povo, reunirá os anciãos de Israel. O primeiro passo estava dado. Pharaó e os seus exércitos, são afogados no mar, e Moisés põe-se á testa do seu povo para o conduzir ao pais do seus antepassados. Então Moisés entôa um cantico ao Eterno. O seu coração transborda de ale- gria, exulta... Mas o profeta ignora que não está ainda senão no começo da sua carreira, que a sua missão mal acaba de começar venceu Pharaó mas a sua obra subsiste. O senhor acaba de ser senhor, mas o es- cravo continua a ser escravo. Quando um povo viveu sob o jugo durante várias gerações, não se pode com um golpe ar- rancar do seu coração os sentimentos in- timos que o dominam e tirá-lo do seu aviltamento para o tornar inteiramente livre. Mas o profeta crê no seu ideal. E o profeta reune o povo ao pé da montanha: "Não é verdade, como acredi- tastes até hoje. vós e os outros povos, que cada Estado, cada província, tem os seus deuses que exercem o seu poder sobre toda a vastidão do seu território, que se fazem guerra, tudo como os povos que lhe estão sujeitos. Não é assim! Não há no universo um deus para Israel e um outro para Mitzraim (Egipto), não há se- não um Deus. Ele é, êle foi e êle será! E' o senhor da terra e reina sobre todas as nações. Este Deus, que é eterno, é o Deus de vossos pais. O mundo é a sua obra; o género humano foi creado por êle á sua imagem. Ora, ele escolheu-nos, a nós, filhos de Abraham, seu preferido, para que sejais o seu povo "um reino de pastores e uma nação santa", para que santifiqueis o seu nome sobre a terra. A vossa vida indivi- dual muda-la-eis completamente num es- pirito de verdade e de justiça. Que povo ouviu jamais a vóz divina anunciar no meio dos relampagos palavras tão sublimes? Assim falou o profeta, e o povo, no seu entusiasmo gritou a uma voz: "Tudo o que o Eterno diz, nós o obser- varemos"! E é com o coração tranquile que o profeta deixa o campo para subir á mon- tanha e concluir a Lei. Mas na alma do povo, o escravo egípcio revela-se brus- camente e tomba o "castelo de cartas" que o profeta tinha construido na sua fé, na elevação do seu ideal. A dôr do profeta não tem limites. Toda a sua obra, a alta missão em que tinha so- nhado para o seu povo, a esperança que o tinha tantas vezes alimentado no curso da sua longa carreira, tudo isso se derrobaria. O desespero apodera-se da alma do profeta, os seus membros se flexionam, as suas mãos largam as Tábuas da Lei, que se par- tem. Ah! Como é dificil dar uma forma a um povo de argila tão vil! Mas o profeta não cede facilmente dian- te das dificuldades da vida. Volta depressa ao seu ideal e decide triunfar. Compreende. perfeitamente, a tarefa que lhe reserva o fu- turo. Arma-se de paciencia. Assim os primeiros tempos. O profeta prega, sofre, paciente, consola-se com o pensamento de que não está longe e dia em que o seu ensinamente produzirá os seus frutos. Vé já o seu povo chegado ao termo das suas peregrinações e realizando o seu ideal na terra prometida. Então brilha o trabalho dos emissários... Um povo ia à conquista dum país para aí se constituírem em nação que devia fazer a admiração do mundo, e bastou uma desa- gradavel noticia para o desencorajar e fazer- -lhe voltar as costas ao seu brilhante fu- turo! Moisés compreende que a sua ultima esperança não repousa sobre nada sólido, que os seus ensinamentos não aproveitam a este povo que não foi capaz de tornar digno da sua missão e, imediatamente, decreta a morte da sua geração; está de- cidido a sustenta-la durante quarenta anos no deserto, até que uma nova geração cresça, uma geração em fim livre, engran- decida, por assim dizer, sob a tutela da sublime Lei... O profeta permanece no deserto, enter- rando a velha geração e fazendo a educa- ção da nova. Uns após outros, os anos passam, e o profeta não se fatiga de ensi- nar à mocidade as leis do justo e do in-
N.º 065, Sivan 5694 (Mai 1934)
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