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N.º 069, Tevet-Shevat 5695 (Dez-Fev 1935)







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 2              HA-LAPID
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anormais, anónimas, indiferentes. Cada um
de nós tem uma fisionomia, um olhar, um
timbre de vós, uns gestos, umas maneiras
que não possue senão êle. Cada um de nós
tem qualidades mentais e afectivas, maneiras
e hábitos morais, que lhe são próprios.
Uma pessôa humana não é a reprodução
mecanica, o pálido decalque dum modelo
sempre o mesmo. Ela forma um ponto de
vista especial do mundo, uma expressão
particular da verdade, é um microcosmo,
isto é todo um mundo e um mundo em si

"Todo o ser, tem-se dito, representa um
pensamento do ser eterno que lhe dá a
existência. A cada um de nós corresponde
no pensamento de Deus uma ideia que êle
nos destina a realizar, que êle quer que só
nós, na imensidade da Criação, possamos
ser neste momento da Duração e nesta par-
te do espaço, alguma coisa sem que a sua
manifestação no mundo seria incompleta.

Se bem que o homem não é uma pura e
simples fórmula, ele é uma potencia, de Des-
coberta e de transformação. Por conseguinte
é a livre e sumptuosa diversidade. Cada um
de nós é uma revelação, pontua o ser dan-
do-lhe uma formula nova, revelando aspe-
ctos e revelações que ninguem tinha perce-
bido. Dai a invenção em todos os dominios.
A novidade assim realizada entra no patri-
mónio comum. Do Real salta um novo ideal,
das originalidades acumuladas nascem as
novas eras de crenças, de pensamento, de
conhecimentos, de industria, de estética.

Assim como, visto que o homem não é
um receptor passivo, mas uma energia dum
tipo único não admitindo nem repetição nem
substituição, cada um de nós tem uma vo-
cação. A vocação é uma orientaçeo em nós
impressa, para uma tarefa, um papel, uma
obra de artista.

Eu digo: obra de artista porque, por um
lado, pode-se admitir alguma coisa de pes-
soal, uma centelha de beleza e de poesia
ate' na mais humilde tarefa; e que, por ou-
tro lado, o universo é a conspiração dum
imenso esforço para a elaboração de fins
superiores, uma sinfonia que se recompõe a
cada instante. Neste conceito cada um tem
a sua nota a produzir, e quanto mais rica e
pura for cada nota, mais magnifico sera o
concerto.

Se os homens se unem em sociedade, é
para fazer "do impoderio de cada um o po-
derio de todos".

 

O Estado, é a força colectiva ao servi-
ço dos Direitos e dos Deveres do individuo.

E o respeito dos direitos e dos deveres
de cada individuo que se julgará o valor
dum regimem politico.

Assim Democracia não é equivalente-
mente sinónimo de regimem de liberdade.
A maioria é muitas vezes a multidão medio-
cre, credula, movel, apaixonada. Se os que
compõem esta maioria não têm a maturida-
de do julgamento, o conhecimento e a com-
petencia da realidade complexa e variada, o
sentido do dever civicos, é preciso atender
ás violencias contra as minorias e contra o
direito individual. Uma democracia sem
moralidade, é a irresponsabilidade, a desor-
dem, a tirania.

E' pois indispensavel dar ás massas uma
sólida educação moral, fundada sobre o res-
peito da dignidade pessoal,e sobre esta ver-
dade que as desigualdade são inevitaveis,
em virtude da singularidade dos tempera-
mentos e dos espiritos, e que, finalmente,
as diversidades existem para o grande bem
da colectividade.

Façamos entrar nas inteligencias esta
convicção que cada individuo é um centro
de perspectiva particular, que é pois impos-
sivel que nós vejamos as coisas sob o mes-
mo angulo e sob o mesmo colorido. Saiba-
mos não ser sectários, não chamemos he-
retico a todo aquele que não pensar como
nós, abramo-nos a todas as opiniões com
uma curiosidade simpatica, e compreenda-
mos que a unidade é bela, não quando ela
é a monotoma, mas o acordo dos timbres
mais variados.

Reajamos contra a tendencia niveladora
das multidões, tendência que iria a rebaixar
e a perseguir toda a superioridade, que fa-
ria do regimem popular o reino da medio-
cridade.

A natureza, no decurso das suas experi-
encias inumeraveis, produz algumas obras
primas. as quais formam a Elite. O progres-
so realiza-se pelas individualidades melhor
dotadas. Todos aproveitam das descobertas
de alguns. As concepções nascidas em al-
guns grandes cerebros, os esforços tentados
por alguns grandes corações, tornam-se o
património comum do qual todos tem o
usofruto. As superioridades tornam-se van-
tagens, mesmo para os que não as compar-
tilham-existem para êles e não contra êles.
A coisa publica deve ser o governo, não


 
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