2 HA-LAPID ========================================== anormais, anónimas, indiferentes. Cada um de nós tem uma fisionomia, um olhar, um timbre de vós, uns gestos, umas maneiras que não possue senão êle. Cada um de nós tem qualidades mentais e afectivas, maneiras e hábitos morais, que lhe são próprios. Uma pessôa humana não é a reprodução mecanica, o pálido decalque dum modelo sempre o mesmo. Ela forma um ponto de vista especial do mundo, uma expressão particular da verdade, é um microcosmo, isto é todo um mundo e um mundo em si "Todo o ser, tem-se dito, representa um pensamento do ser eterno que lhe dá a existência. A cada um de nós corresponde no pensamento de Deus uma ideia que êle nos destina a realizar, que êle quer que só nós, na imensidade da Criação, possamos ser neste momento da Duração e nesta par- te do espaço, alguma coisa sem que a sua manifestação no mundo seria incompleta. Se bem que o homem não é uma pura e simples fórmula, ele é uma potencia, de Des- coberta e de transformação. Por conseguinte é a livre e sumptuosa diversidade. Cada um de nós é uma revelação, pontua o ser dan- do-lhe uma formula nova, revelando aspe- ctos e revelações que ninguem tinha perce- bido. Dai a invenção em todos os dominios. A novidade assim realizada entra no patri- mónio comum. Do Real salta um novo ideal, das originalidades acumuladas nascem as novas eras de crenças, de pensamento, de conhecimentos, de industria, de estética. Assim como, visto que o homem não é um receptor passivo, mas uma energia dum tipo único não admitindo nem repetição nem substituição, cada um de nós tem uma vo- cação. A vocação é uma orientaçeo em nós impressa, para uma tarefa, um papel, uma obra de artista. Eu digo: obra de artista porque, por um lado, pode-se admitir alguma coisa de pes- soal, uma centelha de beleza e de poesia ate' na mais humilde tarefa; e que, por ou- tro lado, o universo é a conspiração dum imenso esforço para a elaboração de fins superiores, uma sinfonia que se recompõe a cada instante. Neste conceito cada um tem a sua nota a produzir, e quanto mais rica e pura for cada nota, mais magnifico sera o concerto. Se os homens se unem em sociedade, é para fazer "do impoderio de cada um o po- derio de todos". O Estado, é a força colectiva ao servi- ço dos Direitos e dos Deveres do individuo. E o respeito dos direitos e dos deveres de cada individuo que se julgará o valor dum regimem politico. Assim Democracia não é equivalente- mente sinónimo de regimem de liberdade. A maioria é muitas vezes a multidão medio- cre, credula, movel, apaixonada. Se os que compõem esta maioria não têm a maturida- de do julgamento, o conhecimento e a com- petencia da realidade complexa e variada, o sentido do dever civicos, é preciso atender ás violencias contra as minorias e contra o direito individual. Uma democracia sem moralidade, é a irresponsabilidade, a desor- dem, a tirania. E' pois indispensavel dar ás massas uma sólida educação moral, fundada sobre o res- peito da dignidade pessoal,e sobre esta ver- dade que as desigualdade são inevitaveis, em virtude da singularidade dos tempera- mentos e dos espiritos, e que, finalmente, as diversidades existem para o grande bem da colectividade. Façamos entrar nas inteligencias esta convicção que cada individuo é um centro de perspectiva particular, que é pois impos- sivel que nós vejamos as coisas sob o mes- mo angulo e sob o mesmo colorido. Saiba- mos não ser sectários, não chamemos he- retico a todo aquele que não pensar como nós, abramo-nos a todas as opiniões com uma curiosidade simpatica, e compreenda- mos que a unidade é bela, não quando ela é a monotoma, mas o acordo dos timbres mais variados. Reajamos contra a tendencia niveladora das multidões, tendência que iria a rebaixar e a perseguir toda a superioridade, que fa- ria do regimem popular o reino da medio- cridade. A natureza, no decurso das suas experi- encias inumeraveis, produz algumas obras primas. as quais formam a Elite. O progres- so realiza-se pelas individualidades melhor dotadas. Todos aproveitam das descobertas de alguns. As concepções nascidas em al- guns grandes cerebros, os esforços tentados por alguns grandes corações, tornam-se o património comum do qual todos tem o usofruto. As superioridades tornam-se van- tagens, mesmo para os que não as compar- tilham-existem para êles e não contra êles. A coisa publica deve ser o governo, não
N.º 069, Tevet-Shevat 5695 (Dez-Fev 1935)
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