HA-LAPID 3 ========================================= dos medíocres e dos intrigantes, mas da virtude intelectual e moral. Porque, um golpe ainda, as instituições valem à propor- çao daquilo que elas permitem á excelencia possoal de se revelar e de se exercer. E, agora, considerai que sentido profun- do torna a vida com esta concepção da diversidade harmônica. Nada é creado em vão. Cada ser tem disposicões, um caracter, im destino que o distinguem, é investido dum papel particular e duma dignidade sin- gular. Deixaremos toda a inveja por ser tão tola como imoral. lnteressamo-nos por cada homem, persuadidcs que cada um tem um valor em si, que é preciso empenhar-se em apreciar e colocar nas melhores condições para desabrochar. Entretanto, dir-se-á, exaltando a indivi- vidualidade como vós o fazeis, encorajais o egoísmo, o egotismo, o narcisismo a cultura do eu atrai o culto do eu E isso serão os excessos da concorrencia da ambição, do nitzscheismo super-excitados. Esta objecção não sustenta nada diante da discriminação que nós fizemos entre o bom e o mau individualismo. Nós assenta- mos desde o principio que separar o indivi- duo da sociedade é uma pobre abstração, porque não há nenhum individuo perfeita- mente fechado e isolado. Para não dar disto uma prova sem réplica, a criança é origina- riamente numa parte da sua mãe, e ambos não podem viver senão se são alimentados e protegidos. Eis pois a socialidade estabe- lecida desde as origens e duma maneira necessária. A Razão, a Consciência, o Coração sã- mente exercitadas nos ensinam que cada um depende dos outros na própria qualida- de em que se distingue; que é mesmo a con- dição da nossa existencia ajudarmo-nos e completarmo-nos mutuamente. Para que haja comunidade, solidariedade sociedade, é preciso todo o conjunto da identidade e da diferença. Assim há troca, cada um é ao mesmo temdo credor e deve- dor, porque cada um é ao mesmo tempo imitador e creador. Se todos fossem semelhantes isso seria a repetição esteril e a taciturna uniformida- de. De que podia servir então a Comunida- de? Mas, por outro lado, não é preciso que a diferença seja tal que nela não haja mais consonancia possivel. Por consequência, é preciso todo o conjunto dos individuos di- versamente qualificados e um organismo social que faça colaborar para obem comum todas esta variedade de poder, que nos leva e nos habitúa a nos tornarmos produ- tivos e a nos elevarmos uns pelos outros no respeito e na benevolência. "Cada um de nós, observou-se, é rico por um certo lado e pode dar aos outros, cada é pobre por tal aspecto. Pois ninguém pode perder a força de outrem. O mais mi- seravel pode sempre dar um pouco de amor". A nossa divisa será:Todos por cada um, cada um por todos, se bem que, cada um será por todos e todos por cada um. Nem a separação, nem o nivelamento, mas o com- pleto e nobre jogo da solidariedade inteli- gente e consentida. Assim fundaremos a cidade das pessôas morais, sabeodo-se tais e respeitando-se como tais. Realizaremos a ordem social, em que os homens, no lugar de se odiar e de se contrariar se apreciarão e se ajudarão num concurso previamente pacífico. Cada um vivendo duma maneira mais sincera, mais livre, mais activa, mais altruista, co- nheçerá o que faz o mais sólido e o mais duradoiro da felicidade, e ao mesmo tempo o que comunica a maior grandeza á alma humana. A união obter-se-á não pelo gastamento dos elementos que apaga as diferenças, mas pelo acrescentamento destes mesmos elementos. dando a cada um bastante força para obter o respeito dos outros, e a todos bastante nobreza para amar a Diversidade na Unidade. Recordemos estas palavras de Amiel: "A sociedade exemplar deve assemelhar-se a uma grande sociedade musical onde tudo se organiza, se subordina, se disciplina para o amor da arte e para executar uma obra- -prima. "Ninguém é forçado, ninguém é explo- rado, ninguem desempenha hipocritamente um papel interesseiro. Todos empregam o seu talento e contribuem reflectida e alegre- mente para a obra comum". Em conclusão tudo se sustenta no ani- verso, que é uma composição de forças, de vibrações, de reações e de combinações em solidariedade de ligações constantes. Mundo mineral, mundo vegetal, mundo animal. mundo humano, mundo liberal, tudo isso
N.º 069, Tevet-Shevat 5695 (Dez-Fev 1935)
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