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N.º 069, Tevet-Shevat 5695 (Dez-Fev 1935)







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dos medíocres e dos intrigantes, mas da
virtude intelectual e moral. Porque, um
golpe ainda, as instituições valem à propor-
çao daquilo que elas permitem á excelencia
possoal de se revelar e de se exercer.

E, agora, considerai que sentido profun-
do torna a vida com esta concepção da
diversidade harmônica. Nada é creado em
vão. Cada ser tem disposicões, um caracter,
im destino que o distinguem, é investido
dum papel particular e duma dignidade sin-
gular.

Deixaremos toda a inveja por ser tão
tola como imoral. lnteressamo-nos por cada
homem, persuadidcs que cada um tem um
valor em si, que é preciso empenhar-se em
apreciar e colocar nas melhores condições
para desabrochar.

Entretanto, dir-se-á, exaltando a indivi-
vidualidade como vós o fazeis, encorajais o
egoísmo, o egotismo, o narcisismo a cultura
do eu atrai o culto do eu E isso serão os
excessos da concorrencia da ambição, do
nitzscheismo super-excitados.

Esta objecção não sustenta nada diante
da discriminação que nós fizemos entre o
bom e o mau individualismo. Nós assenta-
mos desde o principio que separar o indivi-
duo da sociedade é uma pobre abstração,
porque não há nenhum individuo perfeita-
mente fechado e isolado. Para não dar disto
uma prova sem réplica, a criança é origina-
riamente numa parte da sua mãe, e ambos
não podem viver senão se são alimentados
e protegidos. Eis pois a socialidade estabe-
lecida desde as origens e duma maneira
necessária.

A Razão, a Consciência, o Coração sã-
mente exercitadas nos ensinam que cada
um depende dos outros na própria qualida-
de em que se distingue; que é mesmo a con-
dição da nossa existencia ajudarmo-nos e
completarmo-nos mutuamente.

Para que haja comunidade, solidariedade
sociedade, é preciso todo o conjunto da
identidade e da diferença. Assim há troca,
cada um é ao mesmo temdo credor e deve-
dor, porque cada um é ao mesmo tempo
imitador e creador.

Se todos fossem semelhantes isso seria
a repetição esteril e a taciturna uniformida-
de. De que podia servir então a Comunida-
de? Mas, por outro lado, não é preciso que
a diferença seja tal que nela não haja mais
consonancia possivel. Por consequência, é



preciso todo o conjunto dos individuos di-
versamente qualificados e um organismo
social que faça colaborar para obem comum
todas esta variedade de poder, que nos
leva e nos habitúa a nos tornarmos produ-
tivos e a nos elevarmos uns pelos outros no
respeito e na benevolência.

"Cada um de nós, observou-se, é rico
por um certo lado e pode dar aos outros,
cada é pobre por tal aspecto. Pois ninguém
pode perder a força de outrem. O mais mi-
seravel pode sempre dar um pouco de
amor".

A nossa divisa será:Todos por cada um,
cada um por todos, se bem que, cada um
será por todos e todos por cada um. Nem a
separação, nem o nivelamento, mas o com-
pleto e nobre jogo da solidariedade inteli-
gente e consentida.

Assim fundaremos a cidade das pessôas
morais, sabeodo-se tais e respeitando-se
como tais. Realizaremos a ordem social, em
que os homens, no lugar de se odiar e de
se contrariar se apreciarão e se ajudarão
num concurso previamente pacífico. Cada
um vivendo duma maneira mais sincera,
mais livre, mais activa, mais altruista, co-
nheçerá o que faz o mais sólido e o mais
duradoiro da felicidade, e ao mesmo tempo
o que comunica a maior grandeza á alma
humana.

A união obter-se-á não pelo gastamento
dos elementos que apaga as diferenças,
mas pelo acrescentamento destes mesmos
elementos. dando a cada um bastante força
para obter o respeito dos outros, e a todos
bastante nobreza para amar a Diversidade
na Unidade.

Recordemos estas palavras de Amiel:
"A sociedade exemplar deve assemelhar-se
a uma grande sociedade musical onde tudo
se organiza, se subordina, se disciplina para
o amor da arte e para executar uma obra-
-prima.

"Ninguém é forçado, ninguém é explo-
rado, ninguem desempenha hipocritamente
um papel interesseiro. Todos empregam o
seu talento e contribuem reflectida e alegre-
mente para a obra comum".

Em conclusão tudo se sustenta no ani-
verso, que é uma composição de forças, de
vibrações, de reações e de combinações em
solidariedade de ligações constantes. Mundo
mineral, mundo vegetal, mundo animal.
mundo humano, mundo liberal, tudo isso


 
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