2 HA-LAPID ======================================== Os maranos Portugueses Inauguração da Sinagoga Kadoorie por Paul Goodman Por uma feliz coincidência, o 500.° ani- versário do nascimento em Lisboa de Don Isaac Abravanel, o maior dos exilados de Sepharade, acaba de ser comemorado em Portugal com a abertura solene duma Sina- goga no Porto, edificada principalmente para os maranos que regressaram ao Ju- daismo durante a última decada. A história dos Maranos é agora acesis- vel aos leitores ingleses pela brilhante obra do Dr. Cecil Roth, editado pela Sociedade de Publicações judaicas d'America em 1932. No epílogo intitulado: OS MARANOS DE HOJE o Dr. Cecil Roth relata a espan- tosa sobrevivencia destes numerosos cripto- -judeus que guardaram uma consciência judaica e a prática de ritos judaicos após mais de quatro séculos de terror e de re- pressão. E êle conclue: Quanto às últimas consequências dêste espantoso movimento, e' ainda demasiado cêdo para fazer um juizo. Após a minha primeira visita aos mara- nos portugueses em 1931, eu expunha no Jewish Chronicle de (Outubro de 1931) o re- sultado do meu inquérito no Pôrto, Bra- gança e outros centros maranos, especial- mente em conexao com a obra realisada graças à ajuda do Comité dos Maranos portugueses de Londres, o qual foi consti- tuído conseqüentemente à missão em- preendida em 1925 pelo saudoso Lucien Wolf, pela iniciativa da Aliança Israelita, da Anglo-Jewish Association e da Comu- nidade Hispano-portuguesa de Londres. Fiquei comovido, como qualquer outro visitante judeu o teria sido, pelo lado ro- mântico dos últimos sobreviventes do que foi outrora uma grande e poderosa secção do povo judeu. Para dizer a verdade, fui profundamente perturbado pelo vasto problema que se me apresentava como insoluvel. Não só o Comité Londrino dos Mara- nos Portugueses não tinha à sua disposição senao fracos meios, mas era preciso tomar cuidado de não revolver as cinzas do fana- tismo religioso num país onde os judeus são agora livres e gosam amplamente de todos os direitos de cidadão. A experien- cia de alguns anos tinha provado, além dis- so, que se o regresso dos Maranos suscitou um certo ínterêsse, foi antes em razão do seu carácter exótico, mas não provocou nenhuma ajuda substancial. Era preciso pois registar o triste facto que o Judaísmo, como religião, tinha aparentemente cessado de gerar êste espírito de vanguarda que se nota entre os Haluzim (pioneiros) do renas- cimento nacional na Palestina. Quando no decurso duma visita a Bra- tislava, vi o Rabbi Akibah Schreiber, o chefe da dinastia rabinica de Chatam Sofer, êste último, embora mostrando-se interes- sado pelos anussins (convertidos à fôrçaj de Portugal, manifestou, do ponto de vista halachico (jurisprudencia judaica) uma ati- tude crítica em face dos maranos regres- sando ao judaismo. Não há nenhuma dúvi- da que a questão genealógica dos Mara- nos levantou problemas que vão provocar interessantes checloth-u-Tschuboth (pregun- tas e respostas em matéria jusidica judaica). Se estes escrupulos tinham sido aplicados rigorosamente aos refugiados d'Espanha e de Portugal no século XVII, as Comunida- des sepharditas d'Amsterdam, de Londres e doutros lugares, dificilmente se teriam organisado. Os problemas imediatos foram resolvi- dos pelo Comité dos Maranos Portugue- ses, que concentrou os seus esforços no Porto, a Capital do Norte de Portugal. Porto torna-se o quartel general d'atracção para os grupos Maranos que desejem man- ter o contracto com o mundo judaico. Mas se o Judaismos, nestas regiões quási inaces- siveis vive num crepúsculo de superstições judias e católicas, Porto tem uma popula-
N.º 083, Shebat 5698 (Dez 1938)
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