N.º 083, Shebat 5698 (Dez 1938) > P02
Primeira Página Página Anterior Diminuir imagem Imagem a 100% Aumentar imagem Próxima Página Última Página

Ha-Lapid הלפיד


N.º 083, Shebat 5698 (Dez 1938)







fechar




 2             HA-LAPID
========================================

        Os maranos Portugueses

   Inauguração da Sinagoga Kadoorie

                        por Paul Goodman

Por uma feliz coincidência, o 500.° ani-
versário do nascimento em Lisboa de Don
Isaac Abravanel, o maior dos exilados de
Sepharade, acaba de ser comemorado em
Portugal com a abertura solene duma Sina-
goga no Porto, edificada principalmente
para os maranos que regressaram ao Ju-
daismo durante a última decada.

A história dos Maranos é agora acesis-
vel aos leitores ingleses pela brilhante obra
do Dr. Cecil Roth, editado pela Sociedade
de Publicações judaicas d'America em 1932.
No epílogo intitulado: OS MARANOS
DE HOJE o Dr. Cecil Roth relata a espan-
tosa sobrevivencia destes numerosos cripto-
-judeus que guardaram uma consciência
judaica e a prática de ritos judaicos após
mais de quatro séculos de terror e de re-
pressão. E êle conclue: Quanto às últimas
consequências dêste espantoso movimento, e'
ainda demasiado cêdo para fazer um juizo.

Após a minha primeira visita aos mara-
nos portugueses em 1931, eu expunha no
Jewish Chronicle de (Outubro de 1931) o re-
sultado do meu inquérito no Pôrto, Bra-
gança e outros centros maranos, especial-
mente em conexao com a obra realisada
graças à ajuda do Comité dos Maranos
portugueses de Londres, o qual foi consti-
tuído conseqüentemente à missão em-
preendida em 1925 pelo saudoso Lucien
Wolf, pela iniciativa da Aliança Israelita,
da Anglo-Jewish Association e da Comu-
nidade Hispano-portuguesa de Londres.
Fiquei comovido, como qualquer outro
visitante judeu o teria sido, pelo lado ro-
mântico dos últimos sobreviventes do que
foi outrora uma grande e poderosa secção
do povo judeu.

Para dizer a verdade, fui profundamente
perturbado pelo vasto problema que se me
apresentava como insoluvel.

Não só o Comité Londrino dos Mara-
nos Portugueses não tinha à sua disposição

 

senao fracos meios, mas era preciso tomar
cuidado de não revolver as cinzas do fana-
tismo religioso num país onde os judeus
são agora livres e gosam amplamente de
todos os direitos de cidadão. A experien-
cia de alguns anos tinha provado, além dis-
so, que se o regresso dos Maranos suscitou
um certo ínterêsse, foi antes em razão do
seu carácter exótico, mas não provocou
nenhuma ajuda substancial. Era preciso
pois registar o triste facto que o Judaísmo,
como religião, tinha aparentemente cessado
de gerar êste espírito de vanguarda que se
nota entre os Haluzim (pioneiros) do renas-
cimento nacional na Palestina.

Quando no decurso duma visita a Bra-
tislava, vi o Rabbi Akibah Schreiber, o
chefe da dinastia rabinica de Chatam Sofer,
êste último, embora mostrando-se interes-
sado pelos anussins (convertidos à fôrçaj
de Portugal, manifestou, do ponto de vista
halachico (jurisprudencia judaica) uma ati-
tude crítica em face dos maranos regres-
sando ao judaismo. Não há nenhuma dúvi-
da que a questão genealógica dos Mara-
nos levantou problemas que vão provocar
interessantes checloth-u-Tschuboth (pregun-
tas e respostas em matéria jusidica judaica).
Se estes escrupulos tinham sido aplicados
rigorosamente aos refugiados d'Espanha e
de Portugal no século XVII, as Comunida-
des sepharditas d'Amsterdam, de Londres
e doutros lugares, dificilmente se teriam
organisado.

Os problemas imediatos foram resolvi-
dos pelo Comité dos Maranos Portugue-
ses, que concentrou os seus esforços no
Porto, a Capital do Norte de Portugal.
Porto torna-se o quartel general d'atracção
para os grupos Maranos que desejem man-
ter o contracto com o mundo judaico. Mas
se o Judaismos, nestas regiões quási inaces-
siveis vive num crepúsculo de superstições
judias e católicas, Porto tem uma popula-


 
Ha-Lapid_ano12-n083_02-Shebat_5698_Dez_1938.png [150 KB]
Primeira Página Página Anterior Diminuir imagem Imagem a 100% Aumentar imagem Próxima Página Última Página