HA-LAPID 3 ======================================= ção judia que a-pesar-da sua composição heterogénica, tem o aspecto duma comuni- dade estavel e a recente chegada de Judeus do Galuth Askenaz constitue um elemento apreciavel para a difusão dos conhecimen- tos e práticas judaicas. A alma desta obra de redenção é o apóstolo dos Maranos o Capitão Artur carlos de Barros Basto (Abraham Israel Ben-Rosh), que é não só um valente militar, que serviu com uma grande distinção no front britânico das forças expedicionárias portuguesas em França, mas também uma figura heroica, recordando os românticos sephardim da fé judaica cuja constancia e dedicação brilharam atravez as trevas que envolveram o povo judeu durante séculos, após a grande expulsão de Espanha em 1492. Nascido marano e admitido oficialmente no judaismo em Dezembro de 1920, com uma admirável dedicação, manteve firmemente a causa judaica entre os seus irmãos mara- nos atravez os bons e maus momentos. A vida agitada da comunidade nascente do Porto, a cidade natal d'Uríel da Costa, re- corda os principios agitados das Comuni- dades sepharditas da Diaspora. O Capitão Barros Basto visita de tem- pos a tempos os diversos estabelecimentos maranos para proclamar a fé que nele exis- e. Publica um periódico intitulado "Ha- -Lapid" (O Facho) que forma um traço de união entre os maranos portugueses e o mundo judaico em geral. Foi o Capitão Barros Basto que tomou a iniciativa da edificação duma Sinagoga no Porto, que, pela grandeza do seu estilo, se devia tornar a catedral judia do norte de Portugal. Os meios postos à sua disposicão eram dos mais modestos e durante anos tinha-se notado que o edifício começado a 1 de julho de 1929, se apresentaria como uma ruina melancolica, testemunhando a falta de interêsse manifestado por este objectivo eminentemente judaico por aque- les de que se esperava uma ajuda efectiva. A pedido do Snr. Israel Levy, Rabbi mór de França (um dos membros do Comité dos maranos portugueses) o falecido Barão Edmond de Rothchild dera 500 libras para o fundo de construção, mas o seu exemplo não foi seguido por ninguém. Felizmente, o Comité pôde interessar na obra a Familia Kadoorie de Shanghai. Os snrs. Horace e Lawrence Kadoorie for- neceram todos os fundos necessários para o acabamento e arranjo interior do edifício, em honra de seus pais Sir Elly Kadoorie e da finada Laura Kadoorie. A erecção desta importante Sinagoga, simbolo do despertar judeu entre os mara- nos portugueses e testemunho triunfante da solidariedade de Israel, é, nestes dias agitados, uma das realisações judaicas mais encorajantes. A consagração da Sinagoga Kadoorie no Porto a 16 de Janeiro de 1938 constitue um acto histórico. Ele abrirá, é precioso espera-lo, uma nova e feliz época nos trá- gicos anais do judaismo português. Este dia coincidiu com o hamishah assar bish- vat (o ano novo das árvores). E' de bom augurio para o futuro dos maranos portu- gueses. Possa êle engrandecer e florescer para a gloria de Adonai. O grande Deus de israel! Bessiman Tob. ---------------------------------------- O. R. T. De vez em quando em noticias sobre organisações judaicas aparecem estas letras indicando uma prestante colectividade. Foi fundada por um grupo de israelitas, que, seguindo o exemplo tradicional de celebres Rabbis e do notavel filosofo Ba- rukh Espinosa, compreenderam que as apti- dões manuais não são incompatíveis com as intelectuais. Os seus fins são: 1.°-Ensinar aos jovens e aos adultos Judeus profissões industriais e agrícolas. 2.°-Propagar os metodos modernos e desenvolver a eficacia do trabalho entre os artifices judeus edosos. 3.°-Fundar e auxiliar cooperativas in- dustriais e agrícolas entre as massas judai- cas. Em resumo: contribuir para a recons- trução da economia judaica orientando o supranumerário de intelectuais, de peque- nos negociantes e vendilhões empobreci- dos para a industria e a agricultura e, du- ma maneira geral, crear uma nova geração de trabalhadores judeus especialisados.
N.º 083, Shebat 5698 (Dez 1938)
> P03