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N.º 086, Tamuz-Ab 5698 (Jun-Jul 1938)







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Abraham Nunes Bernal e Isaac de Almeida
Bernal-dois mártires da Inquisição

                   Por NORBERTO A. MORENO.

A simpatia do Dr. Cecil Roth, erudito
judeu britânico, pela causa marana devemos
a publicação de um opúsculo que se intitula
"Abraham Nunes Bernal et autres martyres
contemporains de l'Inquisition", escrito como
seria de desejar que fossem todos os traba-
lhos de carácter histórico.

Dele vamos extrair os elementos essen-
ciais para a composição de uma ligeira bio-
grafia das duas personagens principalmente
tratadas no referido opúsculo e cujos nomes
deixamos a sobrepor estas linhas.

Trata-se de duas figuras que Ha-Lapid
deseja incluir numa galeria de mártires da
fé judaica que possa ficar como testemunho
do que foi a vida e a morte dos maranos e
portanto do que é o maranismo.

Manuel Nunes Bernal, que possuía tam-
bém o nome hebraico de Abraham, nasceu
de pais maranos em Almeida, Portugal, no
ano de 1612. Casou com Leonor Baez e
teve cinco filhos que educou na fé de seus
pais. Estabeleceu-se como comerciante em
Ecija, Espanha.

Leonor veio a ser, entre vários outros
judeus maranos, açoitada e condenada a
prisão perpétua pela Inquisição, em Córdova
por volta de 1655. Na mesma altura um
dos seus filhos, Jorge, de 13 anos de idade,
nascido em S. Lucar de Barrameda, foi con-
denado a quatro anos de prisão.

Em Córdova, Dezembro de 1625, isto é,
30 anos antes da condenação de Abraham
Nunes Bernal, foram chamadas a contas com
a Inquisição cerca de cinqüenta pessoas,
portugueses na quási totalidade, "culpados
do nefando crime de judaizar".

Contava-se entre estes, Ines Marques,
viúva de Francisco Rodrigues, de Vila Real,
cujo "crime" consistia em ter transformado,
para consolação mútua dos correligionáríos
perseguidos, a sua casa em Sinagoga.

Em 1655, em Córdova, 3 de Maio, junta-
mente cóm cinco outras pessoas, foi conde-
nado à fogueira Abraham Nunes Bernal.
Com a piedade característica os inquisidores
fizeram todos os possíveis para que os réus



se arrependessem do grande pecado de ado-
rar o Deus de Moisés. Quatro chegaram a
manifestar esse arrependimento, pelo que
tiveram a recompensa de serem estrangula-
dos antes de ir para a fogueira. Abraham
Nunes Bernal ficou, porém, incensível, de-
clarando que cousa alguma lhe poderia fazer
diminuir a fé no seu Deus.

O Marquês dos Velez que estava presente
ao acto comoveu-se corn aquela persistencia,
e, de crucifixo em punho, aproximou-se de
Abraham, exortando-o à conversão. Mas tudo
inútil. Abraham "foi queimado vivo porque
declarou ser um observador da Lei de Moí-
sés e morreu obstinado na sua crença, re-
cusando vir à nossa santa fé católica" segundo
reza a crónica hostil.

A notícia deste auto produziu dolorosa
impressão em Amsterdam, onde se haviam
já fixado vários membros da familia do már-
tir. Na Sinagoga realizou-se uma oração
fúnebre em sua memória. Isaac da Fonseca
Aboab traduziu num eloqüente discurso o
estado de alma dos correligionários residentes
naquela cidade. As notabilidades literárias
da Comunidade compuseram elegias também
em memória do mártir, que foram reunidas
num volume publicado com o título Elogios
que zelosos dedicaron á la Felice memória
de Abraham Nuñes Bernal, que fue que-
mada vivo sanctifcando el Nombre de su
Criador. Esta obra, publicada por Jacob
Bernal, é hoje muitíssimo rara.

Sabe-se que das vítimas do auto de Cór-
dova várias possuíam o nome de Baez, sendo
provavelmente parentes de Bernal.

Antes de 1650 foi também preso pela
Inquisição um jovem de 17 anos, Marco
(Isaac) de Almeida Bernal, de Montela
(Galícia), filho de Francisco Rodrigues de
Almeída e sobrinho de Abraham Nunes
Bernal.

Aquele jovem merece também especial
mensão ao lado de Abraham.

Durante cinco anos o Santo Ofício con-
servou-o preso em Valladolid, esperando con-
verte-lo ao catolicismo. No primeiro inter-


 
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