HA-LAPID 7
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O QUE UM REFUGlADO
DEVE SABER
O Comité de Assistencia aos Refugiados
de Paris, publicou estes prudentes conselhos
dirigidos aos que, fugindo à intolerância e à
perseguição, vieram procurar um refúgio em
França:
1.° Não se meta em política, porque as
leis do nosso país vo-lo proibem;
2.° Cuide da sua apresentação;
3.° Seja delicado e discreto;
4.° Seja modesto. Não elogie as quali-
dades do país que acaba de deixar e as quais
lhe parecem faltar em França. "Na minha
terra tudo ia melhor" é uma fórmula que
ferirá os franceses que o escutam;
5.° Aprenda depressa a expressar-se em
frances. Não fale em voz alta e, se fala uma
língua estranjeira, evite faze-lo em público,
na rua, num transporte comum, num café;
6.° Respeite todas as nossas leis e todos
os nossos costumes. Quando estiver emba-
raçado por uma dificuldade legal, adminis-
trativa ou jurídica, dirija-se a uma organiza-
ção reconhecida pelas autoridades ou a um
advogado que nós lhe indicarmos, que é me-
lhor do que certos agentes que o arranjarão
em vez de arranjar os seus casos.
Nós desejamos ser-lhe úteis e pedimos-
-lhe que nos ajude seguindo estes conselhos,
que são os seus primeiros deveres para com
a Comunidade francesa que o acolhe.
(Fazemos nosso este aviso substituindo
as palavras França e franceses por Portugal
e portugueses).
*
EM BUSCA DE TORQUEMADA
É o título dum livro de Robert Loewel,
em que o autor refere uma viagem a Portu-
gal e Espanha e fala do passado judaico
nestes países e dos vestígios ainda existen-
tes desse passado.
O Univers Israelite de Paris, publica uma
apreciação desse livro, da qual extractamos
o seguintez-"Portugal apresenta-nos uma
outra tonalidade. Os maranos tanto toma-
ram, através os séculos, o costume de pra-
ticar o seu culto em segredo, que lhes é
muito difícil hoje pratica-lo à luz do día...
A religião permanece, para eles, inseparável
duma vaga noção de mistério e de ocultismo.
As recordações da Inquisição são vivazes
a tal ponto que em Bragança, actualmente,
ainda se esconde a lâmpada de Shabbath
num pote de barro para não ser vista do
exterior, e tem o cuidado de, quando rezam,
terem as portas e janelas bem fechadas. Os
maranos não conseguem deshabituar-se deste
gosto da noite".
Êste gosto persistente pela sombra fez
dizer graciosamente ao Capitão Barros Basto,
do qual se sabe o corajoso apostolado:
"É talvez por causa de longos hábitos ances-
trais, que, eu também, gosto mais das ora-
ções da noite... "
Á MEMÓRIA DOS ISRAELITAS
MORTOS PELA FRANÇA
*
No dia 19 de Junho foi inaugurado sole-
nemente, em Donamont, o monumento à me-
mória dos Israelitas mortos pela França.
Este monumento consta duma muralha
onde estão afixadas as duas tábuas da lei
com os 10 mandamentos esculpidos em carac-
teres hebraicos, tendo por baixo, em frances,
a seguinte legenda:
Aos franceses aliados e voluntários estranjeiros
israelitas mortos pela França.
O terreno onde assenta o monumento
judeu foi posto por Monsenhor Ginisty, bispo
de Verdun, à disposição da Comissão do
Monumento Israelita, que conta, entre os
seus membros, o general judeu A. Weiler,
presidente, e várias personalidades eminentes
da Comunidade de Paris; o bispo de Verdun
subscreveu para este monumento, como nu-
merosas personalidades judias subscreveram
para o Ossárío, que está sob o sinal da cruz.
Colocada sob o alto patronato do Sr. Pre-
sidente da República, dos Srs. Presidentes
do Senado e da Camara, efectivamente pre-
sidida por M. Champinchi, Ministro da Ma-
rinha, com a comparencia de numerosas no-
tabilidades civis, militares, religiosas, e de
numerosas associações de antigos combaten-
tes, esta manifestação teve um lugar de des-
taque entre as que nesse dia celebraram a
vitória de Verdun.
N.º 086, Tamuz-Ab 5698 (Jun-Jul 1938)
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