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N.º 090, Shevat 5699 (Jan 1939)







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 2             HA-LAPID
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Carta do Bispo e Inquisidor do Porto a El-Rei D. João III

"SENHOR: - O Provisor de Braga e Gomes
Afonso Prior da Igreja colegiada de Guimarãis,
vieram a esta cida e estar aos despachos fi-
nais de muitos feitos da Santa Inquisição
como Vossa Alteza mandou de que eu recebi
muita Consolação porque com eles, e com as
pessoas que lá estavam se julgaram muitos
feitos como Deus a eles e a mim inspirou é
certo que me descarregaram mui bem a
consciencia, e me parece cousa mui neces-
sária nas cidades em que há de haver, e
assentar-se Inquisição haver pessoas de-
putadas e idóneãs em letras e virtude para
se juntarem com os Inquisidores aos despa-
chos finais, contra dúvidas entre locutórias
de que as partes apelam, que não importam
nada às-vezes, e somente as querem para as
apelações irem à Corte, e nisso se consumir
o tempo, se disto não fora já muitos foram
despachados há dias, e supor também que
ainda o não podem ser agora, e todavia dos
que se prenderam até agora são despachados
muitos com penitencias leves, e alguns pou-
cos ausoiutos, e ao presente estão senten-
ciados para irem ao cadafalso perto de qua-
renta pessoas presas deles julgados a morte,
que pedem reconciliações, e eles a cárcere
perpétua com sambenitos, e deles a cárceres
temporais, e agora estamos assentando os
que serão admitidos a reconciliação porque
a pedem, e os que também o não devam e
além destes presentes julgados haverá perto
de vinte ausentes que julgados que se reme-
tem à cúria secular, assim que me parece
que irão ao cadafalso entre presentes e au-
sentes perto de sessenta, e o Provisor se há
de partir agora para Braga por serem acaba-
das as férias, e ser lá necessário, e eu roguei
ao Prior, que ficasse aqui ainda alguns dias,
e ele o fez, e beijarei as mãos de Vossa
Alteza, por lhe escrever agradecimentos de
quem bem feito o tem ambos neste caso por
serviço de Deus e seu, e também me parece
que não deve de abrir mão do Prior de Gui-
marães porque o acho virtuoso e letrado
e idôneo para este caso, e não tão ocupado
como o Provisor de Braga que também me
parece muito letrado, e homem de bem e o
Prior me parecia mui conveniente para a
visitação do arcebispado na cleresia se ele o
quere aproveitar e cumpre ser logo em se
acabando este auto, o qual já se não começa



de ordenar o cadafalso por Vossa Alteza não
mandar provisão para o Corregedor o qual
deve logo demandar para se começar o cada-
falso e se fazerem outros aparelhos. Cá é
fama que Vossa Alteza chega a Coimbra e
ou aí, ou Almeirim se dai não houver de
passar adiante poderá ser, que lhe irei beijar
a mão para lhe dar conta do que me parece
acerca da Inquisição de Braga para se bem
poder fazer, se de algumas outras cousas.
que são serviço de Vossa Alteza..."

A seguir pede ao rei que não consinta
que o Nuncio, conforme constava, cerceie as
acções da Inquisição, a seguir queixa-se da
gente do Porto de quem diz que como aqui
não podem viver fidalgos, cada um deles o
é dizendo que eles não achão em mim deixar
de castigar os herejes por sua culpa nem
lhe quero dar confiança a leigos, pesa mo-
ralmente com a Inquisição, porque as mais
dos homens desta terra tratam por via dos
cristãos novos a quem tem dado dinheiro, e
como nestas terras não sabem quão delicada
é a justiça da Inquisição. Êle D. Baltazar
tem-se sacrificado muito no desempenho dos
cargos de Bispo e de Inquisidor e espraia-se
em queixas numerosas contra a Camara e
autoridades seculares e camarárias de quem
entre muitas cousas que enchem seis grandes
páginas diz me mandaram um recado por
tres homens, muito descortez, o qual me foi
dado na mesa da Inquisição perante todos
os Deputados, a saber o Provizor de Braga,
e o Prior de Guimarãis e jorge Roiz e o
Dr. joão do Avelar, e o meu Vigário e um
Bacharel meu, e o recado dizia "Dizem o
juiz e vereadores que mandeis tirar a reca-
dação da Portagem, e arca em que se lança
porque o povo está mui alvoraçado, e se
não que éles usarão de seu remédi", do
que as pessoas que comigo estavam, ficaram
espantadas.

Termina a carta pela notificação que faz
dumas excomunhões com que agraciou alguns
funcionários camarários por me impedirem a
arrecadação de minhas rendas a que Julga
ter direito por um foral que cita. A carta finda
por "Beijo as mãos de Vossa Alteza, cuja
leal vida e estado Deus guarde. Do Porto a
20 de Outubro de 1542.

                       O Bispo no Porto.

(Da col. Moreira já citada).


 
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