2 HA-LAPID ============================================= Carta do Bispo e Inquisidor do Porto a El-Rei D. João III "SENHOR: - O Provisor de Braga e Gomes Afonso Prior da Igreja colegiada de Guimarãis, vieram a esta cida e estar aos despachos fi- nais de muitos feitos da Santa Inquisição como Vossa Alteza mandou de que eu recebi muita Consolação porque com eles, e com as pessoas que lá estavam se julgaram muitos feitos como Deus a eles e a mim inspirou é certo que me descarregaram mui bem a consciencia, e me parece cousa mui neces- sária nas cidades em que há de haver, e assentar-se Inquisição haver pessoas de- putadas e idóneãs em letras e virtude para se juntarem com os Inquisidores aos despa- chos finais, contra dúvidas entre locutórias de que as partes apelam, que não importam nada às-vezes, e somente as querem para as apelações irem à Corte, e nisso se consumir o tempo, se disto não fora já muitos foram despachados há dias, e supor também que ainda o não podem ser agora, e todavia dos que se prenderam até agora são despachados muitos com penitencias leves, e alguns pou- cos ausoiutos, e ao presente estão senten- ciados para irem ao cadafalso perto de qua- renta pessoas presas deles julgados a morte, que pedem reconciliações, e eles a cárcere perpétua com sambenitos, e deles a cárceres temporais, e agora estamos assentando os que serão admitidos a reconciliação porque a pedem, e os que também o não devam e além destes presentes julgados haverá perto de vinte ausentes que julgados que se reme- tem à cúria secular, assim que me parece que irão ao cadafalso entre presentes e au- sentes perto de sessenta, e o Provisor se há de partir agora para Braga por serem acaba- das as férias, e ser lá necessário, e eu roguei ao Prior, que ficasse aqui ainda alguns dias, e ele o fez, e beijarei as mãos de Vossa Alteza, por lhe escrever agradecimentos de quem bem feito o tem ambos neste caso por serviço de Deus e seu, e também me parece que não deve de abrir mão do Prior de Gui- marães porque o acho virtuoso e letrado e idôneo para este caso, e não tão ocupado como o Provisor de Braga que também me parece muito letrado, e homem de bem e o Prior me parecia mui conveniente para a visitação do arcebispado na cleresia se ele o quere aproveitar e cumpre ser logo em se acabando este auto, o qual já se não começa de ordenar o cadafalso por Vossa Alteza não mandar provisão para o Corregedor o qual deve logo demandar para se começar o cada- falso e se fazerem outros aparelhos. Cá é fama que Vossa Alteza chega a Coimbra e ou aí, ou Almeirim se dai não houver de passar adiante poderá ser, que lhe irei beijar a mão para lhe dar conta do que me parece acerca da Inquisição de Braga para se bem poder fazer, se de algumas outras cousas. que são serviço de Vossa Alteza..." A seguir pede ao rei que não consinta que o Nuncio, conforme constava, cerceie as acções da Inquisição, a seguir queixa-se da gente do Porto de quem diz que como aqui não podem viver fidalgos, cada um deles o é dizendo que eles não achão em mim deixar de castigar os herejes por sua culpa nem lhe quero dar confiança a leigos, pesa mo- ralmente com a Inquisição, porque as mais dos homens desta terra tratam por via dos cristãos novos a quem tem dado dinheiro, e como nestas terras não sabem quão delicada é a justiça da Inquisição. Êle D. Baltazar tem-se sacrificado muito no desempenho dos cargos de Bispo e de Inquisidor e espraia-se em queixas numerosas contra a Camara e autoridades seculares e camarárias de quem entre muitas cousas que enchem seis grandes páginas diz me mandaram um recado por tres homens, muito descortez, o qual me foi dado na mesa da Inquisição perante todos os Deputados, a saber o Provizor de Braga, e o Prior de Guimarãis e jorge Roiz e o Dr. joão do Avelar, e o meu Vigário e um Bacharel meu, e o recado dizia "Dizem o juiz e vereadores que mandeis tirar a reca- dação da Portagem, e arca em que se lança porque o povo está mui alvoraçado, e se não que éles usarão de seu remédi", do que as pessoas que comigo estavam, ficaram espantadas. Termina a carta pela notificação que faz dumas excomunhões com que agraciou alguns funcionários camarários por me impedirem a arrecadação de minhas rendas a que Julga ter direito por um foral que cita. A carta finda por "Beijo as mãos de Vossa Alteza, cuja leal vida e estado Deus guarde. Do Porto a 20 de Outubro de 1542. O Bispo no Porto. (Da col. Moreira já citada).
N.º 090, Shevat 5699 (Jan 1939)
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