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N.º 090, Shevat 5699 (Jan 1939)







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O AUTO-DE-FÉ NO PORTO

A 11 DE FEVEREIRO DE 1543

(Segundo o testemunho do Corregedor
Dr. Francisco Toscano).

CARTA DIRIGIDA A EL-REI D. JOÃO III

SENHORZ: V. Alteza me escreveu que o
Bispo desta cidade tinha despachado alguns
feitos dos cristãos novos que se prenderam
pala Inquisição, que se haviam de remeter à
cúria secular, e que eu os despachasse pelos
processos, que de seus casos eram ordenados
como fôsse direito, sem apelação, nem agravo.

Esta provisão veio com outras do Bispo,
o qual logo fez ordenar tudo o que era
necessário e mandou fazer em um campo
desta cidade, donde estava a porta do Sol
tres cadafalsos pela ordenança dos de Lisboa
e a 11 deste mes de Fevereiro se fez o auto,
em que houve 84 penitentes, a saber; 4 que
padeceram, 21 que se queimaram em está-
tuas, 15 de cárcere perpétua com sambeni-
tos, 43 penitenciados a cárcere temporal de
um até dez anos e duas testemunhas falsas:
as heresias destes (segundo as sentenças
delatavam) foram muitas e graves, e valeu
aos de cárcere perpétua, que pediram mesa,
com muita contrição, O auto foi bem feito
e sossegado com boa ordem que nele houve,
pôs grande espanto à gente desta terra, que
nunca outro tal viram. Estimou-se a gente
que a ele veio assim desta terra como de
fora em 30.000 pessoas, e parece que esta
justiça foi feita por vontade de Deus, e que
chovendo os dias dantes de muita água e
vento, o dia do auto subitamente se tornou
mui sereno e claro, durou o auto com a
queima até às 5 da tarde; nesta terra houve
muito proveito, e fruto assim no espiritual,
como temporal depois que a Santa Inquisi-
cão se nela; o Bispo que o fez bem, e com
muita diligencia e porque se diz que ele se
quere escusar, porque certo, ele e os oficiais
que aqui tem são de esta arte para este Santo
Ofício, porque de cem pessoas que tiram des-
pachados nunca se pode saber de seus despa-
chos senão depois de publicadas as sentenças.

(A seguir refere-se a obras que são ne-
cessárias em uns conventos).

A carta é datada (do Porto a 15 de Feve-
reiro de 543).

                (a) Franscisco Toscano.

(Copiada da colecção de listas impressas e ma-



nuscritas dos Autos-de-Fé, públicos e particulares,
celebrados pela Inquisição de Coimbra, corrigida e
anotada por António Joaquim Moreira, Lisboa).

(Vol. 865 da Secção 1.863 dos reservados da
Biblioteca Nacional de Lisboa).



        AS VÍTIMAS DO AUTO-DE-FÉ
               DO PORTO

Auto Público da Fé (único de que temos
notícia) celebrado no Campo, junto à Porta-
-do-Sol, da cidade do Pôrto, em 11 de Feve-
reiro de 1543.

Sendo inquisidor da Inquisição do Porto,
D. Fr. Baltazar Limpo, Carmelita, Bispo da
mesma cidade, e depois Arcebispo de Braga.

Armaram-se para este auto tres cadafal-
sos, à semelhança de Lisboa. Fez-se tudo
com muito sossego e boa ordem. Acabou-se
pelas 5 da tarde.

A gente que concorreu a ver esta festa
calculou-se em mais de cinqüenta mil pes-
soas.

Saíram no auto 42 homens e 43 mulhe-
res, dentre os quais foram:
Relaxados em carne:- Três homens e
uma mulher.

Relaxados em Estátua-Dezasseis ho-
mens e cinco mulheres.

Penitenciados:-Saíram 15 de sambe-
nito e cárcere perpétua; saíram 43 conde-
nados a cárcere de 1 até 10 anos; saíram 2
por testemunhas falsas.

Uma das mulheres processadas neste
auto, chamava-se Guiomar Rodrigues, X. N.

Em Lamego também por este tempo
houve inquisição, de que era inquisidor o
seu Bispo D. Agostinho Ribeiro, mas do
que por ela se fez nada sabemos.

(Da colecção Moreira, já citada).

Uma das vítimas deste auto de fé, foi
Gabriel Alvares, condenado porque sendo
judeu, e tendo-se tornado X.N. (cristão
novo) depois do baptismo usou de práticas
e ritos judaicos, e em sua casa em Mato-
zinhos fazer esnoga, onde recebia muitos
cristãos novos da cidade do Porto.

Processo 10.262 (secção da Inquisição
de Coimbra). Promotor o Dr. João do Avelar
-data do processo 1541.

(Arquivo Nacional da Torre do Tombo).


 
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