4 HA-LAPID ========================================== Consultório Iniciamos neste número esta secção des- tinada a dar resposta a várias preguntas que nos fazem sôbre assuntos religiosos ou que estejam relacionados com êles. As respostas, quando não forem assina- das, são dadas pelo conselho escolar do Instituto Teológico Israelita do Pôrto (Yeshi- bah Rosh-Pinah). Pregunta: O Ex.mo Sr. Professor Nogueira pede a explicação do que é o Talmud e de que livros se compõe. Resposta: O Talmud (Estudo), é uma vasta colec- tânea em hebreu e em arameu, compreen- dendo: 1.°-O texto da Mishnah, isto é, da Lei oral desde as suas origens até ao ano 220 da Era vulgar; 2.°-As interpre- tações e comentários de todos os géneros, inspirados por êste texto aos mestres e aos alunos das Escolas ou Academias Teológi- cas da Palestina e de Babilônia na época dos Amoraim, do ano 220 ao ano 500. Destas existem duas redacções: o Talmud de Jerusalém, terminado na Palestina nos meados do século IV e o Talmud de Babi- lônia, muito mais importante pela sua exten- são e conteúdo, terminado em Babilônia pelo ano 500, por Rab Ashi e Rabinah. Dá-se o nome de Ghemarah à parte do Talmud de Babilônia que é acrescentada à Mishnah. Cada um dêstes Talmuds segue a divisão da Mishnah, em seis ordens, que são subdivididas em tratados. Mas a pala- vra tratado não significa neste caso que as matérias sejam lôgicamente classificadas ou desenvolvidas. Não há, pelo contrário, ne- nhuma ordem real nestas duas enormes com- pilações. Assiste-se, lendo-as, às palestras e às discussões intermináveis que cada um dos versículos da Biblia inspira aos comen- tadores: subtis raciocinios de casuística e de jurisprudência, deduções sensatas ou audaciosas, história, lenda, religião, moral, filosofia, geografia, Zoologia, astrologia, su- perstições e tradições, ciência e poesia suce- dem-se e entrelaçam-se em cada capitujo quási em cada página. As opiniões mais diversas e as mais contraditórias se expres- sam nestas colectâneas, que representam cêrca de dez séculos de pensamento judeu; e não é para surpreender que algumas delas tenham parecido, sob vários aspectos, cho- cantes aos próprios talmudistas. Mas, em geral, as opiniões não obrigam senão os seus autores (cujos nomes são sempre ex- pressos) e não se impõem nem como dogma, nem como regras de conduta. Dois caminhos do pensamento se reco- nhecem, com efeito, em todos os desvios dêstes mesmos labirintos que são os dois Talmuds: 1.°-Os comentários da Lei pró- priamente dita pertencem ao pensamento jurídico e constituem uma jurisprudência, a Halashah, que possui força de Lei,-sob a condição com tudo que, de acôrdo com uma interpretação tradicional do Êxodo, cap. XXIII, vers. 2, a decisão tenha sido tomada por maioria de votos dos doutores que a discutiram; 2.°-Os comentários dos textos não legislativos da Biblia perten- cem, pelo contrário, à livre fantasia, que se liga, quer a um passado mais ou menos len- dário, quer ao conhecimento mais ou menos exacto da natureza ou do universo, quer pela necessidade de cativar ou comover uma assembléia de fieis, quer com o fim de des- cobrir os mistérios da criação ou perscrutar sôbre as visões de além-túmulo e as pro- messas dos Ultimos Dias. Ela cria então a Hagadah, conjunto de narrativas e fábulas, de noções e de ficções, de imagens e de simbolos onde nenhum judeu é obrigado a ver verdades rigorosas. II Pregunta : O Sr. J. A. P. G., tendo lido o estudo sôbre Yahia Ben-Yahia, pede lhe seja indi- cada uma maneira prática para passar da Era vulgar para a Era mussulmana. Resposta: Cálculo aproximado para transformar a era mussulmana em cristã ou vulgar. Subtrai-se 622 à data cristã, e depois como o ano mussulmano é mais curto que o ano solar cêrca de 11 dias, juntar um ano
N.º 107, Tishri-Heshvan 5702 (Set-Out 1941)
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