6 HA-LAPID =========================================== crianças; e estes cantos arrancavam-lhe lá- grimas do fundo do coração. Os gritos de dor repetiram-se seis vezes; depois, de cada vez, vinha a criança recém- -nascida, e no fim aquelas arrebatadoras cantilenas infantis. Depois disto, um grande silencio. Outra vez ainda, ouviu-se soar um canto alegre e jubiloso e o rabino disse: Agora, é o primeiro filho que festeja a iniciação religiosa, e fui eu que a despojei dessa alegria. O silencio restabeleceu-se novamente. Alguns anos depois, soaram outra vez os cantos de júbilo e o rabino disse: Agora, conduz ela a filha ao tálamo nup- cial; oh desgraça! desgraça! essa satisfação arrebatei-lha eu. Cada vez que ouvia a voz, não era já nem lamentando, nem chorando, mas sempre em cantos deliciosos e suaves, e o rabino dizia: Teria sido uma mãe feliz, e fui eu que destruí a sua felicidade. Foi assim que o rabino viveu toda a vida da jovem, Teria dado muito para ouvir, uma vez só que fosse, em vez daquelas deliciosas melo- dias, algumas queixas amar as: por essa forma, ficaria certo que lhe ca ria conhecer a desgraça neste mundo; mas o seu desejo não se cumpriu, e o rabino vertendo lágrimas sobre a guemarah, dizia: Pois que! é possível que tivesse de ser feliz a um ponto destes! Então desejava morrer, consumir-se; aquele canto fatigava-lhe a vida. Todavia, não podia morrer. Estava velho e decrépito; todos os correligionários tinham descido à cova antes dele; as próprias crian- ças, que na infancia ele tinha abençoado, viu-as depois encostadas às muletas, velhas, tristes e caducas, zombarem da morte em vão, e morrerem. Mas ele não podia morrer. Quando chegará esse momento, mulher? preguntava ele muitas vezes: quanto tempo queres tu viver ainda? Então, ouviu-se uma vez, pela volta da meia noite, soar no fundo do pátio um la- mento semelhante ao de um moribundo. Agora, morreu, disse o rabino; Deus seja louvado para todo o sempre! No dia seguinte, ao romper da manhã, os talmidim (discípulos) foram dar com ele, sem vida, com a cabeça deitada sobre a guemarah (Talmud). Vida comuna! PORTO As festas de Tishri-Na Sinagoga Ka- doorie Mekor Haim, à Rua Guerra Junqueiro n.° 340, realizaram-se as festividades de Rosh Ha-Shanah (Ano-Novo), de Kipur (Grande Perdão) e Sukoth (Cabanas). Vá- rias pessoas vieram da província expressa. mente para tomarem parte na austera peni- tencia do santo dia de Kipur. CALDAS-DA-RAINHA Nesta vila onde estão concentrados cerca de 400 almas judaicas, refugiadas, organiza- ram, como já aqui informamos, um Beth Ha-Midrash (oratório) para o culto normal diário. Para as festividades do Ano-Novo e Kipnr improvisaram uma Sinagoga no amplo salão de festas do Montepio, devidamente orna- mentado, sendo esses adornos gentilmente cedidos pela familia Serrano. Com o fim de dar assistencia moral a esses irmãos de fé, desterrados do seu lar, a Comunidade Israelita do Pôrto delegou no seu digno 1.° Secretário Sr. Menasseh Bendob, o benéfico encargo de lhes desejar que Deus Bendito em breve tempo ponha fim às suas atribulações. O Sr. Menasseh fazia-se acompanhar dum Sepher Thorah (Livro da Lei) e vários livros de orações para as tres festas. Nessas festas solenes foi feita uma ora- ção de benção aos governantes, dita em hebraico pelo respectivo oficíante e em seguida em língua portuguesa pelo delegado do Porto, o Sr. Menasseh Bendob. ------------------------------------------ Visando pela Comissão de Censura
N.º 113, Tishri-Heshvan 5703 (Set-Out 1942)
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