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N.º 114, Kislev-Tevet 5703 (Nov-Dez 1942)







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 2            HA-LAPID
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         A FESTA DE HANUKÁ

    (EXTRACTO DUMA CONFERÊNCIA)

Instituíu Judah Macabeu a festa de Ha-
nuká, para ser celebrada todos os anos
durante oito dias por todo o povo de Israel.

Esta festa tem um carácter eminente-
mente alegre e consolador. Lembra-nos um
passado glorioso, incute em nossos corações
ideias viris e generosas, e nos ensina con-
juntamente a honrarmos os nossos heróicos
antepassados, a conservarmos sempre vivo e
inalterável o culto da nossa sagrada pátria,
a admirarmos, cheios de amor e gratidão a
incansável solícitude corn que o nosso Deus
nos favorece, e a não deixarmos apagar-se
em nós a esperança de melhores dias para
a nossa querida nação.

É a 25 de Kislev, em Dezembro, perto
do Solstício de Inverno, quando os dias vão
começar a crescer, e o sol, dilatando a sua
curva celeste, não tarda a derramar sóbre a
terra maior soma de luz e de calor, que os
Israelitas celebram a Hanuká, a sua festa
das Candeias, a sua Restauração.

É também em Dezembro que Portugal,
o belo país que habitamos e amamos como
uma segunda pátria, festeja a sua libertação
do jugo pesado e insuportável de outros An-
tiocos, não menos tiránicos e implacáveis
que o nosso-o jugo dos Filipes.

Pequeno, altivo e indómito como nós,
como nós confinado num estreito litoral ao
extremo ocidental dum continente e à beira
dum vasto mar, Portugal teve, como nós,
periodos de glória e decadência, duas recon-
quistas-sôbre os mouros a primeira, a
segunda sôbre os espanhóis, uma missão
grandiosa, heróis e guerreiros afamados, le-
gisladores e poetas que são o assombro do
universo.

Dia a dia desafiado no seu brio pelas
sombrias e ameaçadoras ondas no Atlântico,
que havia ele de fazer senão aceitar-lhes o
repto, arremeter contra elas, vence-las, avas-
salá-las, e fazer nelas tamanha brecha, que
por ela tem passado desde então, e até ao
fim dos séculos hão-de continuar a passar,
as frotas de toda a terra.

Sorte análoga coube a Israel Tendo à
retaguarda o peso de tôda a Ásia: dia a
dia assistindo aos embates de cem povos



desenfreados, vendo a terra agitada nas con-
vulsões frenéticas do ódio, da cobiça, da
violencia, da idolatria e da corrupção, voltou
os olhos para o imenso Mediterrâneo, que se
estendia aos seus pés, e num grito que
atravessou o espaço e cujos ecos ainda hoje
se não extinguíram, proclamou a unidade de
Deus, a unidade da criação, a unidade da
família humana, a unidade da Lei!

Portugal abriu caminho no oceano; Israel,
no coração do homem-oceano não menos
vasto, profundo e agitado.

Vanguarda do exército da civilização, Por-
tugal, do alto das suas caravelas, e de espada
em punho, lá foi oceano fora, ultimar o
ciclo das descobertas e fazer entrar na vas-
salagem da Europa o dominio integral de
todo o nosso globo.

Emissárío de Deus na terra, Israel tam-
bém navegando laboriosamente por entre as
tumultuosas ondas de perseguição, ora bai-
xando até aos abismos dos cárceres Inquisi-
toríais, ora pousando no alto das fogueiras e
dos cadafalsos, lá foi, mar de lágrimas fora,
esteiado na sua fé, e arvorando o livro da
sua Lei, varrer, à luz dos seus fulgentes
raios, as derradeiras sombras do paganismo,
manifesto ou disfarçadm-esse fautor de
desunião e de discórdia,-e entregar a hu-
manidade, sem distinção de raças nem pro-
cedencias, as chaves autênticas do reino dos
céus!

Israel e Portugal, duas das mais pequenas
nações do mundo, foram, são e serão sempre
dois grandes povos que bem mereceram da
humanidade!

Os Israelitas portugueses são portugueses
duplamente ou duplamente Israelitas, e por
isso, cabe-lhes duplamente o dever de hon-
rarem, com a sua ilustração e com os seus
actos, as duas nobres e benementas nações
a que se honram de pertencer!

      29 de Kislev de 5764
     28 de Dezembro de 1913

                      JOSEPH BENOLIEL.


 
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