2 HA-LAPID =========================================== A FESTA DE HANUKÁ (EXTRACTO DUMA CONFERÊNCIA) Instituíu Judah Macabeu a festa de Ha- nuká, para ser celebrada todos os anos durante oito dias por todo o povo de Israel. Esta festa tem um carácter eminente- mente alegre e consolador. Lembra-nos um passado glorioso, incute em nossos corações ideias viris e generosas, e nos ensina con- juntamente a honrarmos os nossos heróicos antepassados, a conservarmos sempre vivo e inalterável o culto da nossa sagrada pátria, a admirarmos, cheios de amor e gratidão a incansável solícitude corn que o nosso Deus nos favorece, e a não deixarmos apagar-se em nós a esperança de melhores dias para a nossa querida nação. É a 25 de Kislev, em Dezembro, perto do Solstício de Inverno, quando os dias vão começar a crescer, e o sol, dilatando a sua curva celeste, não tarda a derramar sóbre a terra maior soma de luz e de calor, que os Israelitas celebram a Hanuká, a sua festa das Candeias, a sua Restauração. É também em Dezembro que Portugal, o belo país que habitamos e amamos como uma segunda pátria, festeja a sua libertação do jugo pesado e insuportável de outros An- tiocos, não menos tiránicos e implacáveis que o nosso-o jugo dos Filipes. Pequeno, altivo e indómito como nós, como nós confinado num estreito litoral ao extremo ocidental dum continente e à beira dum vasto mar, Portugal teve, como nós, periodos de glória e decadência, duas recon- quistas-sôbre os mouros a primeira, a segunda sôbre os espanhóis, uma missão grandiosa, heróis e guerreiros afamados, le- gisladores e poetas que são o assombro do universo. Dia a dia desafiado no seu brio pelas sombrias e ameaçadoras ondas no Atlântico, que havia ele de fazer senão aceitar-lhes o repto, arremeter contra elas, vence-las, avas- salá-las, e fazer nelas tamanha brecha, que por ela tem passado desde então, e até ao fim dos séculos hão-de continuar a passar, as frotas de toda a terra. Sorte análoga coube a Israel Tendo à retaguarda o peso de tôda a Ásia: dia a dia assistindo aos embates de cem povos desenfreados, vendo a terra agitada nas con- vulsões frenéticas do ódio, da cobiça, da violencia, da idolatria e da corrupção, voltou os olhos para o imenso Mediterrâneo, que se estendia aos seus pés, e num grito que atravessou o espaço e cujos ecos ainda hoje se não extinguíram, proclamou a unidade de Deus, a unidade da criação, a unidade da família humana, a unidade da Lei! Portugal abriu caminho no oceano; Israel, no coração do homem-oceano não menos vasto, profundo e agitado. Vanguarda do exército da civilização, Por- tugal, do alto das suas caravelas, e de espada em punho, lá foi oceano fora, ultimar o ciclo das descobertas e fazer entrar na vas- salagem da Europa o dominio integral de todo o nosso globo. Emissárío de Deus na terra, Israel tam- bém navegando laboriosamente por entre as tumultuosas ondas de perseguição, ora bai- xando até aos abismos dos cárceres Inquisi- toríais, ora pousando no alto das fogueiras e dos cadafalsos, lá foi, mar de lágrimas fora, esteiado na sua fé, e arvorando o livro da sua Lei, varrer, à luz dos seus fulgentes raios, as derradeiras sombras do paganismo, manifesto ou disfarçadm-esse fautor de desunião e de discórdia,-e entregar a hu- manidade, sem distinção de raças nem pro- cedencias, as chaves autênticas do reino dos céus! Israel e Portugal, duas das mais pequenas nações do mundo, foram, são e serão sempre dois grandes povos que bem mereceram da humanidade! Os Israelitas portugueses são portugueses duplamente ou duplamente Israelitas, e por isso, cabe-lhes duplamente o dever de hon- rarem, com a sua ilustração e com os seus actos, as duas nobres e benementas nações a que se honram de pertencer! 29 de Kislev de 5764 28 de Dezembro de 1913 JOSEPH BENOLIEL.
N.º 114, Kislev-Tevet 5703 (Nov-Dez 1942)
> P02