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N.º 114, Kislev-Tevet 5703 (Nov-Dez 1942)







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 6              HA-LAPID
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mais fácil a escalada. O homem de con-
fiança de D. Afonso Henriques era cauteloso
e de viva inteligência e com inteligencia e
cautela entrou na cidade pretextando negó-
cios, seguindo indicações de Ben-Yahia, tudo
analisando e medindo e tudo repetindo a
El-Rei quando regressou a Coimbra.

Ficou satisfeito El-Rei D. Afonso com o
relato que Mem Ramires lhe fizera da sua
missão e resolveu tomar Santarém por esca-
lada, sendo a principal condição para o bom
exito o absoluto segrédo. El-Rei nem aos
seus mais íntimos comunicou a idéia. Con-
sultou porém o Prior de Santa-Cruz, D. Teo-
tónio, cujo conselho tivera sempre por avisado
e cauteloso, o qual não achou irrealizável,
embora temerário o empreendimento. Deci-
diu-se pois a lançar-se na aventurosa empresa.

Conferenciou com os cavaleiros Lourenço
Viegas, Pero Pais e Gonçalo de Sousa e
fe-los cientes da sua resolução, das notícias
que recebera e do plano que tinha em
mente, recomendando-lhes o máximo sigilo,
sob pena de morte.

No dia 10 de Março de 1147 sai de
Coimbra D. Afonso acompanhado por 250
dos seus melhores cavaleiros. No dia se-
guinte manda o judeu Martin Moab com
mais dois mensageiros, a Santarém, anun-
ciar aos mouros que findavam as tréguas
três dias depois. Desempenharam os men-
sageiros a sua missão.

Findava o prazo marcado numa sexta-
-feira, e na noite de sábado, pouco depois da
meia-noite os guerreiros portugueses tomam
de assalto e por surpreza o forte castelo de
Santarém, os incidentes do assalto a his-
tória regista a acção dum mancebo chamado
Moygem, nome que parece se tratar dum
judeu.

Satisfeito com o grande exito alcançado,
El-Rei D. Afonso não esqueceu os serviços
prestados por Ben-Yahia, e para o recom-
pensar, após a tomada de Lisboa, agraciou-o
com o senhorio de Unhos, Frielas e Aldeia
dos Negros e concedeu-lhe brazão de armas
representando um campo com uma cabeça
de mouro ao centro. Da última povoação
doada tomaram os seus descendentes o ape-
lido Negro.

D. Yahia Ben-Yahia estabeleceu então a
sua casa em território portugues, sendo o
tronco duma familia judaica ilustre, que
muitos e assinalados serviços prestou a este 
pais.



Quando em 1148 os almoadas penetraram
na Andaluzia e perseguiam os judeus, que
se não queriam converter ao islamismo
D. Yahia aproveitou-se do valimento que
possuia junto de D. Afonso Henriques para
aliviar tanto quanto possível, a sorte dos
seus irmãos de fé fugidos. Acolheu com
carinho várias familias judaicas, que vinham
refugiar-se em Portugal, ajudando-as a cria-
rem uma nova existencia neste país, que
também fora hospitaleiro para ele, D, Afonso
Henriques escolheu-o pelas suas altas quali-
dades para chefe supremo dos judeus portu-
gueses (Rabi-mor), sendo tido em grande
estima por todos os israelitas deste reino,

Voltemos a falar do Ibn-Caci, o ex-amigo
de D. Yahia.

Em Junho ou Julho de 1146 o primeiro
exército almóada é enviado à Peninsula sob
o comando dum homem de confiança do
soberano marroquino. Acompanhava a expe-
dição, na qualidade de Alwali do Algarve,
Ibn-Caci.

Pouco tempo depois, com a ajuda deste
exército, Ibn-Caci é novamente senhor de
Mértola, Silves, etc.

Em 1151, Ibn-Caci. pretendendo sacudir
o jugo dos almóadas propõe aliança a Afonso
Henriques, que lhe foi funesta.

O historiador árabe Ibn-Alcatib, diz:
"Ibn-Arrique acolheu bem o seu pe-
dido e mandou-lhe um dos seus cavalos,
um escudo e uma lança. Os habitantes de
Silves recearam as conseqüências desta inge-
rência e então trataram de se porem a
coberto duma tal ameaça. Para isso afas-
taram da cidade seu filho Alhuçain Ibn-Amed
Ibn-Caci com um pretexto qualquer. Depois
um grupo de habitantes de Silves trouxe um
homem algemado fingindo que ele tinha sido
apanhado a fazer pilhagem. Êles pediram
autorização ao capitão da guarda da cidade
para entrar, e, enquanto ele ia obter essa
licença, um troço deles penetrava no castelo
e matava Ibn-Caci, e levantando a sua cabeca
na ponta duma lança bradou: Eis aqui o
Madi dos Nazarenos! Estes sucessos da
morte de Ibn-Caci passaram-se em Jumada
1.° do ano de 546." (Agosto ou Setembro
de 1151).

Em 1151 D. Yahia Ben-Yahia, acompa-
nhando D. Afonso Henriques, numa operação
militar para a conquista de Alcácer do Sal,
que foi mal sucedida, caíu mortalmente
ferido na luta travada entre os mouros de-


 
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