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N.º 114, Kislev-Tevet 5703 (Nov-Dez 1942)







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         COMEMORAÇÕES CENTENÁRIAS

           Don Yahia Ben-Yahia

(Um dos colaboradores de D. Afonso Henriques)

         por A. C. de BARROS BASTO

        (CONTINUAÇÃO no NÚMERO 101)

A parte cristã de Portugal, legada por
Afonso VI, Rei da Galiza, Leão e Castela, a
sua filha natural D. Teresa, mulher de Hen-
rique de Borgonha, neto do Rei da França,
Roberto-o Excomungado, havia-se tornado
num estado independente graças a seu filho
D, Afonso Henriques.

D. Afonso I de Portugal havia estabele-
cido a sua corte em Coimbra, onde se fora
refugíar Yahia Ben-Yahia, o grande auxi-
liador de Ibn-Caci, Emir do Algarve.

Quem era este homem?

Yahia Ben-Yahia era um nobre judeu,
descendente de Yahia Ben-Yahia, que se
havia notabilizado no reinado de Abdallah,
tilho de Mohamed I, Emir de Córdova pelas
suas qualidades militares, e além disso se-
gundo a tradição, era considerado como
oriundo da Casa Real de David, o Rei
psalmista. Esta antiga familia hebraica usava
um brazão de armas partido em pala tendo
na dextra um leão com um ramo de pal-
meira numa mão-na sinistra do escudo
patenteava uma águia com as garras abertas
e afastadas e mostrando a sua cauda entre
as garras, aberta como uma flor.

Como poderá haver alguém que estranhe
usar este nobre judeu entre os muçulmanos
o nome de Mohamed Ibn-Yahia, vou dar
alguns exemplos desta duplicação de nomes,
um entre os judeus e outro entre os árabes:

O célebre ministro do Rei de Granada,
Samuel Ben-Nagrela era chamado pelos ára-
bes Ismael Ibn-Nagrela; o gramático Jonas
Marinas entre os árabes era Abulwalid Me-
ruan Ibn-Djanash; Salomão ben Judah Ben-
-Gabirol, designado pelos escolásticos cristãos
da Idade-média por Avicebron ou Avicebrol,
era entre os árabes Abu-Ayub Suleiman
Ibn-Yahia; o filho de Samuel en-Nagrela e
que era rabino, era conhecido entre os árabes



pelo nome de Abu Huçain Joseph Ibn-Na-
grela; e o célebre poeta Judah Ha-Levy era
entre os árabes Abul-Hassan Iehudah Ibn
Halevy.

D. Afonso Henriques antevendo no fugi-
tivo um auxiliar precioso para o seu desejo
de expansão territorial recebe-o com muito
agrado e honra. Ben-Yahia já era conhe-
cido do soberano portugues porque fora ele
que viera a Coimbra como embaixador de
Ibn-Caci pedir a ajuda militar portuguesa
para o seu antigo chefe e amigo, o Emir de
Mértola.

Entre Ben-Yahia, o audacioso e astuto
conquistador do Castelo de Mértola, o mais
forte de todo o Algarve e El-Rei D. Afonso
se travaram longas conversações de carácter
militar sobre um assunto que preocupava o
Rei de Portugal.

Santarém era uma das principais povoa-
ções de Belatha e a que mais receio inspi-
rava aos portugueses. Dali saíam a maior
parte das algaras, que iam levar a devas-
tação e a morte até aos distritos situados no
coração de Portugal. A solidez e o inaces-
sível do Castelo de Santarém, e o grande
número de defensores tinham convencido
D. Afonso de que os seus recursos militares
não eram suficientes para o tomar à escala
vista. Depois de muito ter cogitado sobre a
maneira de haver a cidade, se pela força, se
por qualquer estratagema, escutando os con-
selhos e opiniões de Ben-Yahia resolveu
finalmente apoderar-se dela durante a noite
e com assalto repentino de um modo seme-
lhante ao usado pelo guerreiro judeu no seu
assalto a Mértola.

Mem Ramires, um fidalgo da casa do
Rei, foi por este instruído do plano e enviado
a Santarém, com o fim secreto de estudar
atentamente o local e ver por onde seria


 
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