HA-LAPID 5 =========================================== COMEMORAÇÕES CENTENÁRIAS Don Yahia Ben-Yahia (Um dos colaboradores de D. Afonso Henriques) por A. C. de BARROS BASTO (CONTINUAÇÃO no NÚMERO 101) A parte cristã de Portugal, legada por Afonso VI, Rei da Galiza, Leão e Castela, a sua filha natural D. Teresa, mulher de Hen- rique de Borgonha, neto do Rei da França, Roberto-o Excomungado, havia-se tornado num estado independente graças a seu filho D, Afonso Henriques. D. Afonso I de Portugal havia estabele- cido a sua corte em Coimbra, onde se fora refugíar Yahia Ben-Yahia, o grande auxi- liador de Ibn-Caci, Emir do Algarve. Quem era este homem? Yahia Ben-Yahia era um nobre judeu, descendente de Yahia Ben-Yahia, que se havia notabilizado no reinado de Abdallah, tilho de Mohamed I, Emir de Córdova pelas suas qualidades militares, e além disso se- gundo a tradição, era considerado como oriundo da Casa Real de David, o Rei psalmista. Esta antiga familia hebraica usava um brazão de armas partido em pala tendo na dextra um leão com um ramo de pal- meira numa mão-na sinistra do escudo patenteava uma águia com as garras abertas e afastadas e mostrando a sua cauda entre as garras, aberta como uma flor. Como poderá haver alguém que estranhe usar este nobre judeu entre os muçulmanos o nome de Mohamed Ibn-Yahia, vou dar alguns exemplos desta duplicação de nomes, um entre os judeus e outro entre os árabes: O célebre ministro do Rei de Granada, Samuel Ben-Nagrela era chamado pelos ára- bes Ismael Ibn-Nagrela; o gramático Jonas Marinas entre os árabes era Abulwalid Me- ruan Ibn-Djanash; Salomão ben Judah Ben- -Gabirol, designado pelos escolásticos cristãos da Idade-média por Avicebron ou Avicebrol, era entre os árabes Abu-Ayub Suleiman Ibn-Yahia; o filho de Samuel en-Nagrela e que era rabino, era conhecido entre os árabes pelo nome de Abu Huçain Joseph Ibn-Na- grela; e o célebre poeta Judah Ha-Levy era entre os árabes Abul-Hassan Iehudah Ibn Halevy. D. Afonso Henriques antevendo no fugi- tivo um auxiliar precioso para o seu desejo de expansão territorial recebe-o com muito agrado e honra. Ben-Yahia já era conhe- cido do soberano portugues porque fora ele que viera a Coimbra como embaixador de Ibn-Caci pedir a ajuda militar portuguesa para o seu antigo chefe e amigo, o Emir de Mértola. Entre Ben-Yahia, o audacioso e astuto conquistador do Castelo de Mértola, o mais forte de todo o Algarve e El-Rei D. Afonso se travaram longas conversações de carácter militar sobre um assunto que preocupava o Rei de Portugal. Santarém era uma das principais povoa- ções de Belatha e a que mais receio inspi- rava aos portugueses. Dali saíam a maior parte das algaras, que iam levar a devas- tação e a morte até aos distritos situados no coração de Portugal. A solidez e o inaces- sível do Castelo de Santarém, e o grande número de defensores tinham convencido D. Afonso de que os seus recursos militares não eram suficientes para o tomar à escala vista. Depois de muito ter cogitado sobre a maneira de haver a cidade, se pela força, se por qualquer estratagema, escutando os con- selhos e opiniões de Ben-Yahia resolveu finalmente apoderar-se dela durante a noite e com assalto repentino de um modo seme- lhante ao usado pelo guerreiro judeu no seu assalto a Mértola. Mem Ramires, um fidalgo da casa do Rei, foi por este instruído do plano e enviado a Santarém, com o fim secreto de estudar atentamente o local e ver por onde seria
N.º 114, Kislev-Tevet 5703 (Nov-Dez 1942)
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