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N.º 120, Kislev-Tevet 5704 (Nov-Dez 1943)







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 6            HA-LAPID
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lei, os doutores que tinham sucedido aos
profetas tiveram que pensar em estabelecer
cerimónias novas, que recordassem as
antigas e que podessem inspirar aos israe-
litas os mesmos pensamentos de arre-
pendimento, de contríção e de temor de
Deus. O jejum foi necessariamente con-
servado em todo o seu rigor; além da dor
que êle infringe ao homem, éle torna-se
uma oferenda pessoal que cada um trás
a Deus. Muitas vezes nós temos dado ao
nosso corpo satisfações supérfluas; nós
podemos bem durante um dia lhe recusar
o necessário. Mas o sacrifício não pode
ser mantido, e como êles servem a marcar
outrora as diversas fases do dia solene,
foi preciso substitui-los por várias orações
dum carácter muito especial.

Outrora o culto feria os olhos e o espi-
rito; hoje a pompa religiosa desapareceu.
mas o espírito e o coração são profunda-
mente tocados por sublimes meditações.

Os poetas judeus da Idade-Média, dignos
e inteligentes discípulos dos doutores dos
primeiros tempos, elevam para Deus a alma
dos fiéis por cantos religiosos. que lem-
bram os esplendores do culto antigo, mas
que sobretudo fazem pensar ao nada do
homem e nas suas faltas à misericórdia e
a grandeza de Deus.

A véspera de Kipur, o israelita prepa-
ra-se seriamente para a grande expiação do
dia seguinte. Não só êle purifica o corpo
com uma ablução, que é o simbolo da
purificação da sua alma, mas êle deve san-
tificar-se por benefícios espalhados à volta
dêle. A penitência, segundo o judaísmo, é
inseparável da caridade. Pelo meio do dia
os fiéis se juntam. e cada um se entrega a
um primeiro exame de consciência. Todos
são avisados que éles se devem apresentar
à noite perante Deus, libertos de todos os
compromissos para com os seus irmãos.
O perdão do Senhor não pode vir senão
depois do próximo ofendido. Quando o
sol desapareceu no horizonte, a hora santa
da expiação soou. Uma oração emocio-
nante sai de tôdas as bocas; nós pedimos
a Deus uque tantas vezes atendia os pa-
triarcas, os profetas e os justos de todos
os séculos, de se dignar ouvir as novas
vozes que o imploram."

O livro sagrado da lei de nossos pais é
então solenemente trazido à presença da
assembléia; e a voz do pontífice, ao meio



do recolhimento e da emoção, nos anuncia
que Deus nos considera quites de todos os
compromissos contratados com êle, se, a
mão sobre a nossa consciência, nos não
podemos executa-los. Mas se os nossos
votos para com Deus são declarados nulos
todos os nossos juramentos para com os
nossos irmãos em particular e para com a
sociedade em geral devem ser rigorosa-
mente mantidos, quando não formos rele-
vados por aquêles mesmos a quem nós os
prestamos. "Senhor, dizia David, quem
poderá subir a tua santa montanha? São
os que caminham na integridade e na jus-
tiça..., aquêle que mantém, mesmo contra
o seu interêsse, as promessas que fêz."
(Salmo XV).

Neste augusto instante melhor que em
qualquer outra ocasião, uma restrição men-
tal seria desonesta culpada e impia. A ver-
dadeira piedade não poderia nunca dar a
mão à má fé. Logo começa a oração da
noite; ninguém é esquecido, nem os chefes
religiosos que são mortos, nem os ausentes,
nem os viajantes, nem as vítimas da per-
seguição. Em Israel, não se dirigem ao
Céu súplicas egoístas, éste povo de irmãos,
em virtude da sublime solidariedade que
faz dêle uma fôrça moral indomável, pede
sempre por todos, quer êles peçam assis-
tência, quer éles implorem perdão.

Quando a oração é terminada, a noite
já cobriu a terra com os seus véus. O re-
pouso nos é permitido. Mas antes que o
sono feche as nossas pálpebras, os cantos
sagrados do rei profeta nos convida uma
vez mais a meditações santas; e uma su-
blime poesia, obra admirável dum pro-
fundo pensador judeu, eleva a nossa alma
até aos pés do trono celeste. (Ben-Gabirol.
que vivia em 1040, autor de Kether Mal-
khuth; celebra Deus que criou o mundo,
nos ensina os atributos divinos e nos faz
assistir ao esplêndido espectáculo do seu
poder "achando o nada por dele fazer sair
o universo". A religião e a ciência são as
duas asas de que o poeta se serve para
voar na imensidade do infinito. Êle nos
arrebata, no seu impetuoso esforço, dum
planeta a outro, explicando as leis, medindo
a forma e a órbita, segundo os dados cien-
tificos do seu tempo. O audacioso poeta,
levado pela sua imaginação fogosa, ultra-
passa as mais altas esferas, e não para senão
no limiar secreto da divina Magestade.


 
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