HA-LAPID 7 ======================================== Retido pelo seu respeito por Deus "que a inteligência mais vasta não pode conhe- cer senão imperfeitamente", o poeta hebreu regressa às criaturas. Êle descreve os seres misteriosos encarregados de cumprir as vontades celestes, o local onde as almas encontram o seu castigo e encontram os zos eternos em remuneração da sua con- duta sôbre a terra. Finalmente êste canto magnífico termina por uma confissão como- vente das misérias e dos vícios da huma- nidade, admiração profunda da grandeza de Deus, consciência da fraqueza humana, vivo reconhecimento pelos beneficios do Criador, necessidade imperiosa de arrepen- dimento e de perdão, tais são os sentimen- tos que inspiram a Kether Malkhuth e lhe deram um lugar nas nossas orações de Kipur. IV O ofício da manhã nos reconduz a semelhantes pensamentos, mas a idéia da vaidade das coisas terrenas é expressa com mais fôrça e renova-se freqüentemente. Possuir a graça divina num só momento e morrer depois! Tal é o grito de paixão religiosa posta por um dos nossos grandes poetas hebreus, Judah Ha-Levi! (Êle vivia em 1120). O ho- mem, estrangeiro sôbre a terra, nada tem que esperar senão de Deus. Êle não é mais que nada, poeira e corrução; os seus pecados são demasiados numerosos para serem contados. Se Deus o passa no ca- dinho da sua justiça, nada restará dêle. Mas Deus tem piedade dele, que volta para Êle. O tribunal celeste, bem diferente da justiça dos homens, em lugar de infligir uma condenação, só tem misericórdias a conceder àquele que confessa as suas fal- tas. É preciso pois arrepender-se; é pre- ciso consagrar-se ao jejum, à dor; mas é preciso sobretudo bem fazer. "O verda- deiro jejum que agrada a Deus, não é, diz o próprio profeta Isaías, não é de curvar devotadamente a cabeça, de se cobrir de cinzas: é de romper tôda a união com a iniqüidade, de pôr em liberdade os que São oprimidos, de partilhar o seu pão com os que estão esfomeados, e os seus vesti- dos com os que estão nus." É à luz destes altos pensamentos morais do profeta que nos devemos alumiar para compreender as nossas orações adicionais de Mussaf. Aqui tudo é cheio do passado; todo o cerimonial antigo regressa à vida nas recordações de israelita. Os nossos doutores quizeram apresentar aos nossos olhos o grande pontífice de Jerusalém pro- cedendo à celebração dos ritos expia- tórios. Nós o seguimos no santuário; nós o vemos purificar-se, oferecer o incenso e os sacriflcios. Parece-nos ouvir a sua voz pronunciando as fórmulas santas, e nós mesmos as proclamamos a face contra a terra, como outrora os nossos pais no re- cinto do templo: "Bendito seja para sem- pre o nome glorioso do Senhor." Estas magestosas cerimónias, que foram objecto de tantos desgostos, e das quais os nossos poetas amargamente choraram a interrupção, tinham, nós o vimos, um sen- tido profundo. Elas reconciliavam o povo com o seu Deus e consigo próprio pelo arrependimento que elas excitavam. O ofí- cio de Mussaf parece ter por fim especial de mostrar que a oração, com a penitência, substitui perante Deus os sacrifícios anti- gos, e que, feito em comum por uma famí- lia de irmãos, se encoraja pelo exemplo, ela tem mais poder para reconduzir ao fim, mais eficácia para obter o perdão. Também a oração do meio do dia (Min- hah) é ela a expressão das mais largas idéias de clemência e de misericórdia. Depois de ter pedido por todos os seres amados que perdemos, e sermos compene- trados dêste pensamento, que a morte nos espera um dia a todos sem excepção, reto- mamos confiança em nós, convencendo-nos que a bondade divina nos espera todos também com a mesma certeza que a morte. Nenhuma destas criaturas não é privada dela. Tôdas. desde a mais íntima até à mais inteligente, são, da parte de Deus objecto dum imenso amor. Todos os homens, quaisquer que sejam crenças e o seu culto, são os filhos do Senhor. Um profeta de Israel esqueceu-se ao ponto de desconhecer esta grande lei de perdão e de misericórdia. Jonas não quis tornar-se o glorioso instrumento da clemência divina junto duma nação pagã. Também Deus, por uma lição plena de indulgência e de gran- deza, vem lhe lembrar que não é para os homens um amo sempre irritado a perto
N.º 120, Kislev-Tevet 5704 (Nov-Dez 1943)
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