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N.º 120, Kislev-Tevet 5704 (Nov-Dez 1943)







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              HA-LAPID                7
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Retido pelo seu respeito por Deus "que 
a inteligência mais vasta não pode conhe-
cer senão imperfeitamente", o poeta hebreu
regressa às criaturas. Êle descreve os seres
misteriosos encarregados de cumprir as
vontades celestes, o local onde as almas
encontram o seu castigo e encontram os
zos eternos em remuneração da sua con-
duta sôbre a terra. Finalmente êste canto
magnífico termina por uma confissão como-
vente das misérias e dos vícios da huma-
nidade, admiração profunda da grandeza
de Deus, consciência da fraqueza humana,
vivo reconhecimento pelos beneficios do
Criador, necessidade imperiosa de arrepen-
dimento e de perdão, tais são os sentimen-
tos que inspiram a Kether Malkhuth e lhe
deram um lugar nas nossas orações de 
Kipur.

                IV

O ofício da manhã nos reconduz a
semelhantes pensamentos, mas a idéia da
vaidade das coisas terrenas é expressa com
mais fôrça e renova-se freqüentemente.
Possuir a graça divina num só momento e
morrer depois!

Tal é o grito de paixão religiosa posta
por um dos nossos grandes poetas hebreus,
Judah Ha-Levi! (Êle vivia em 1120). O ho-
mem, estrangeiro sôbre a terra, nada tem
que esperar senão de Deus. Êle não é
mais que nada, poeira e corrução; os seus
pecados são demasiados numerosos para
serem contados. Se Deus o passa no ca-
dinho da sua justiça, nada restará dêle.
Mas Deus tem piedade dele, que volta para
Êle. O tribunal celeste, bem diferente da
justiça dos homens, em lugar de infligir
uma condenação, só tem misericórdias a
conceder àquele que confessa as suas fal-
tas. É preciso pois arrepender-se; é pre-
ciso consagrar-se ao jejum, à dor; mas é
preciso sobretudo bem fazer. "O verda-
deiro jejum que agrada a Deus, não é, diz
o próprio profeta Isaías, não é de curvar
devotadamente a cabeça, de se cobrir de
cinzas: é de romper tôda a união com a
iniqüidade, de pôr em liberdade os que
São oprimidos, de partilhar o seu pão com
os que estão esfomeados, e os seus vesti-
dos com os que estão nus."

É à luz destes altos pensamentos morais
do profeta que nos devemos alumiar para



compreender as nossas orações adicionais
de Mussaf. Aqui tudo é cheio do passado;
todo o cerimonial antigo regressa à vida
nas recordações de israelita. Os nossos
doutores quizeram apresentar aos nossos
olhos o grande pontífice de Jerusalém pro-
cedendo à celebração dos ritos expia-
tórios.

Nós o seguimos no santuário; nós o
vemos purificar-se, oferecer o incenso e os
sacriflcios. Parece-nos ouvir a sua voz
pronunciando as fórmulas santas, e nós
mesmos as proclamamos a face contra a
terra, como outrora os nossos pais no re-
cinto do templo: "Bendito seja para sem-
pre o nome glorioso do Senhor."

Estas magestosas cerimónias, que foram
objecto de tantos desgostos, e das quais os
nossos poetas amargamente choraram a
interrupção, tinham, nós o vimos, um sen-
tido profundo. Elas reconciliavam o povo
com o seu Deus e consigo próprio pelo
arrependimento que elas excitavam. O ofí-
cio de Mussaf parece ter por fim especial
de mostrar que a oração, com a penitência,
substitui perante Deus os sacrifícios anti-
gos, e que, feito em comum por uma famí-
lia de irmãos, se encoraja pelo exemplo,
ela tem mais poder para reconduzir ao fim,
mais eficácia para obter o perdão.

Também a oração do meio do dia (Min-
hah) é ela a expressão das mais largas
idéias de clemência e de misericórdia.
Depois de ter pedido por todos os seres 
amados que perdemos, e sermos compene-
trados dêste pensamento, que a morte nos
espera um dia a todos sem excepção, reto-
mamos confiança em nós, convencendo-nos
que a bondade divina nos espera todos
também com a mesma certeza que a morte.
Nenhuma destas criaturas não é privada
dela. Tôdas. desde a mais íntima até à
mais inteligente, são, da parte de Deus
objecto dum imenso amor.

Todos os homens, quaisquer que sejam
crenças e o seu culto, são os filhos do
Senhor. Um profeta de Israel esqueceu-se
ao ponto de desconhecer esta grande lei
de perdão e de misericórdia.

Jonas não quis tornar-se o glorioso
instrumento da clemência divina junto
duma nação pagã. Também Deus, por
uma lição plena de indulgência e de gran-
deza, vem lhe lembrar que não é para os
homens um amo sempre irritado a perto


 
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