2 HA-LAPID ======================================== cercava com imprecações. Pilatos não se atreveu a mandar marchar as suas legiões contra o povo, mas enviou soldados disfar- çados em judeus, que se misturaram na multidão e mataram um grande número de homens. Os judeus apresentaram final- mente, queixas contra as crueldades de Pilatos; e aquéle, obrigado a ir a Roma para se justificar, foi revogado. ----------------------------------------- O reinado de Agripa (41 a 44 da e. v.) 1 -Agripa intercede junto de Calígula -No reinado de Agripa, neto de Herodes e da infeliz Mariana, a judeia gozou pela última vez dum periodo de calma e de bon- dade. Agripa devia o seu trono ao impe- rador Calígula, do qual tinha sabido con- quistar-lhe as graças. Como este tirano tinha ordenado de colocar as suas estátuas nas sinagogas e no santuário mesmo de Jerusalém, com a ordem de adorar o impe- rador como uma divindade. Agripa usou da grande influência que tinha sobre êle para mandar acabar éstes vexames. (Os judeus de Alexandria tinham também enviado a Roma uma deputação para pedir a Calígula de por termo às perseguições. Esta depu- tação tinha à sua frente o célebre filósofo Philon. Calígula recebeu os embaixadores com rudeza. "Sois, pois, vós êstes con- templadores dos deuses, que não me que- rem reconhecer como tal, preferindo divini- zar um ser sem nome, enquanto que todos me adoram". Êle acrescentou: "Esta gente parece-me ainda mais tôla do que má, ne- gando a minha divindade!"). Ainda não tinha conseguido a resolução do assunto quando Calígula foi assassinado. Os judeus, que tinham escapado a um grande perigo, instituíram, para comemorar a data da sua morte, uma festa solene. 2-Agripa, rei piedoso e modesto- Cláudio, sucessor de Calígula, anulou a ordem do seu precursor e confirmou Agripa como rei da Palestina. Contràriamente ao seu avó Herodes. Agripa mostrou-se bon- doso e modesto e observava as leis religio- sas. Dizia-se que êle tinha tomado o encargo de reparar as faltas do seu ante- passado. Doou ao templo uma corrente de ouro que Calígula lhe tinha oferecido em sinal de amizade. Tornou a dar ao Sanhe- drin os seus direitos e não confiou o Sacer- dócio senão a homens piedosos. Na festa das Primícias, êle misturava-se sem nenhuma grandeza, na multidão que se dirigia para o Templo, levando êle próprio, como um sim- ples particular, a sua cesta de frutos ao santuário. -Se éle encontrava no seu caminho um cortejo nupcial, êle encostava o seu carro para o deixar passar livremente. Também foi muito amado pelo seu povo. Um dia que êle lia, numa assembléia pública, a pas- sagem do Deuteronómio (XVI, 15), que diz: "É do meio dos teus irmãos que tu deves escolher um rei"; a idéia da sua origem semi-idónea fêz-lhe derramar lágrimas. Mas de todos os lados lhe gritaram: "Tu és nosso irmão, tu es nosso irmão!" 3-Polítlca de Agripa. Sua morte- Agripa, lisongeando Roma, sonhava, em tornar a Judeia cada vez mais independente. Foi para êsse fim que éle cercou o arra- balde de Bézétha, ao norte da cidade, de muralhas altas. Éle quis também levantar fortificação à volta da cidade; mas os roma- nos, tomando conhecimento dos seus desí- gnios, proibiram-lhe estas construções.- A tenacidade de Agripa teria sem dúvida assegurado à Judeia a segurança para futuro, se a morte não viesse surpreende-lo na idade de 54 anos apenas. * A revolta contra Roma 1-Período de anarquia-O reinado de Agripa tinha sido como um radioso pôr do Sol precedendo uma noite sombria. Após a morte dêste rei, a Palestina foi de novo governada por procuradores, dos quais a maior parte, exercendo as suas funções com crueldade e arbitrariedade, tinham avidez de sangue e de ouro. A mais terri- vel anarquia reinou então na Judeia. A vio- lência e a imoralidade sobretudo nas classes ricas, aumentava de dia a dia. As familias pontificais eram corruptas. Os assassinatos eram muito freqüentes. Bandos armados
N.º 123, Ab-Elul 5704 (Jul-Ago 1944)
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