6 HA-LAPID ====================================== No Ghetto de Varsóvia... Morrer... mas devagar!... No bairro mais miserável e insalubre de Varsóvia, que tinha sido duramente cas- tigado pelos bombardeamentos de Setembro de 1939 (nos velhos tempos do grito de "Sieg im Osten"), ergueram os invasores da Polónia, um Ghetto, e ai cercados por forte muralha, sem qualquer conforto e absolutamente isolados do Mundo, 600 a 700 mil judeus de diversas nacionalidades, vitimas da Kultur-ariana, esperavam que o magarefe teutónico os viesse abater. ...Em meados de 1942 os "defensores da Europa" ordenaram a "liquidação do Ghetto e com aquêle método característico começavam as deportacões e os massacres. nos quais os melhores frutos da ciência e indústria nazis foram postas em prática... Cámaras de gases, fuzilamentos em massa (talvez com tiros na nuca), enforcamentos e... outras torturas que excedem de longe aquelas do Santo Ofício, de triste me- mória... ...Um ano após esta "liquidacão" hu- manamente feita (sic) pelos "Herrenvolk" restavam ainda 35 mil judeus trabalhando como escravos e sempre com o "pesa- delo" duma "liquidação final" diante dos olhos... E no dia 20 de Abril de 1943 quiseram os nazis fazer essa "limpeza" mas... nem sempre o povo de Israel há-de sera "ovelha perseguida" das velhas lendas... e dispos- tos a vender cara a vida, êstes sobreviven- tes, mal alimentados, para não dizer famin- tos, quási sem armas, acolheram a Ges- tapo e as tropas nazis, com um nutrido fogo, que molestou bastante os "visi- tantes"... Os vencedores de quási tóda a Europa, os super-homens e defensores da Kultur e... da fé (?!) foram forçados a empregar canhões, tanques, lança chamas e aviões para vencer êsses restos de homens livres que quiseram defender a honra judaica. Após seis dias de sangrenta e feroz luta, depois do último cartucho ter sido queimado, aqueles que tinham escapado às balas, morriam no meio das chamas e das ruínas do Ghetto... Numa derradeira mensagem irradiada por um posto emissor clandestino, êles dirigindo-se aos seus irmãos da Palestina disseram: "Lutamos para salvar a honra de Israel e somos felizes por morrer de armas na mão"... Este massacre levantou em todo o mundo livre, uma onda de simpatia e com- paixão pelo martirizado mas invencível povo judaico, diversas foram as entidades aliadas e neutras que elevaram a voz num último apêlo ao que ainda pudesse existir de humano num coração nazi, afim de que tal barbarismo acabasse. Entre tantos nomes ilustres devo salien- tar o Arcebispo de York que em palavras de repassada comoção, evocou o longo martírio do Povo da Lei e reafirmou a imortalidade do mesmo. Vítimas de uma nação que através dos tempos tem semeado a morte, a fome e a ruína, por onde a tem levado a monomania de dominar o Mundo, nós os judeus prefe- rimos tôdas as torturas, a renegar a nossa velha Fé. Recordemos o que nos diz o capitulo 20 do Deuteronômio e encontraremos nele a fôrça que nos ampara e guia através de todos os azares da vida terrena... "Ouve, ó israel, vós estais hoje próxi- mos da batalha; não se amoleça o vosso coração: não temais, nem tremais, nem tenhais mêdo, pois o Eterno vosso Deus é aquele que vai convosco." Isaac Jacob Lopes Martins. ---------------------------------------- Visado pela Comissão de Censura
N.º 128, Ab-Elul 5705 (Jul-Ago 1945)
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