4 HA-LAPID ======================================= O "SHEMI" (O CARUNCHO) Um dia o rei Salomão, pensando na firmeza do seu trono e na grandeza do seu reino, disse cheio de vaidade: "Sou rei dum grande e firme império. Todos os povos me honram e admiram, toda a Terra de Israel me é fiel e, por isso, sou feliz. Quando estava, porém, embebido e ine- briado com sonhos tão dourados assaltou-o este terrivel pensamento: E se algum dia o meu trono, o meu reino, vai a terra?... Obsecado continuamente com este pen- samento, procura afincadamente uma solu- ção que lhe permita a eterna duração do seu trono, que ele, mais que a tudo, desejava. Como lembrança salvadora veio-lhe, então, esta, de esconjurar todos os animais e disse: Já sei. Vou esconjurar todos os animais e lá ninguém será capaz de o fazer derrocar. Assim, começou, juntamente com todos os nobres de sua corte, a por em prática a sua ideia. Depois, de ter dado a obra como pronta, vieram dizer-lhe que um pequenino insecto, chamado "shemí" não tinha sido esconjurado e que, por isso, seria necessário fazê-lo quanto antes. O rei, porém, quando tal lhe disseram. disse: "Oh! não vale a pena... Se é tão pequeno, como dizeis, não será ele com a sua insignificante força que me fará mal, ao meu reinou. E não o esconjurou. O trono, porém, foi a terra. Tudo se admira. Quem foi? Qual seria a criatura de tanta força e poder que fez assim derrocar um tão forte reino? Ninguém sabe responder a estas perguntas? Pois foi nem mais, nem menos do que o pequenino "shemi". Riem-se? Pois bem. Esse animalzinho, com uma actividade constante, foi traba- lhando, foi trabalhando continuamente. Hoje roeu um poucochínho. Amanhã mais um pouco. Depois, lá ficou uma perna roída. A seguir, passou à segunda perna, que deixa no mesmo estado. A seguir ainda, outra e outra. Quem olhar para o que foi um grande trono só verá já uma casca vacilante. Treme continuamente... Ao longe, ouve-se o rodar dum carroção. Aproxima-se. Que será do trono? Resis- tírá? Cairá? O carroção aproxima-se cada vez mais. Ah! Lá começa o trono a tremer!... O carroção está já próximo... Passou... e, ao barulho produzido pelas rodas girando a custo no eixo ferrugento e pelas já des- conjuntadas tábuas que o formam, junta-se o enorme estrondo do vacilante trono, caindo... Olha-se para ele e, do seu antigo esplen- dor, só podemos ver um montão de tábuas furadas e de ferro ferrugento. Tudo silêncio Tudo tristeza... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . É uma lenda. Apesar disso, além de ser muito interessante, não deixa de conter alguns úteis ensinamentos e ela nos faz lem- brar que, muitas vezes, coisas que, aparen- temente, não têm importância alguma, são elas que nos deitam a perder. Por isso. nunca, a exemplo desta lenda, deixemos de tomar em conta as pequeninas coisas, por- que é por elas que, muitas vezes, se goram alguns dos nossos sonhos e projectos. J. DUARTE. -------- SIGMUND SILBERSTEIN No dia 6 de Junho o Sr. Sigmund Silberstein, natural da Alemanha, que dali conseguiu fugir no tempo do feroz nazismo e veio refugiar-se no Porto, onde exercia a profissão de professor de ensino livre de linguas, foi chamado à presença de Deus Bendito. No dia 8 realizou-se o seu funeral no Cemitério Municipal de Agramonte. Até à sua última morada foi acompanhado por vários amigos seus e pelos seguintes israe- litas: Nathan Beigel, Presidente da Comu- nidade do Porto, Finkelstein, Vice-pre- sidente, Bronstein, Tesoureiro, Presman. Presidente da Assembleia Geral da Comu- nidade, Dr. Alfredo Kiefe, Vice-presidente e Provedor dos refugiados, e Prof. Capt. Bar- ros Basto, Reitor do Instituto Teológico Israelita, que pronunciou as últimas orações funebres segundo o rito português.
N.º 144, Nissan-Sivan 5709 (Mar-Mai 1949)
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