6 HA-LAPID ======================================== A CQNSCIÊNCIA A tradição iudaica chama a Joseph "Ha- -Çadik" (o justo), nome honorifico que ela não atribui nem a Abraham, nem a Moi- sés, Joseph é o Çadik, Phrque a Escritura Sagrada não lhe conhece pecado, mas úni- camente virtudes. Arrancado bruscamente à afeição de seu pai, vendido sem piedade num pais estrangeiro, lançado inocente- mente num sombrio calabouço, Joseph su- porta a sua infeliz sorte com uma constância inabalável. Nunca ele deixa o desespero invadir o seu coração, nunca uma palavra de murmúrio ou de rancor chega aos seus lábios. Apesar das injustiças que sofre, a sua figura respira sempre serenidade e bon- dade. Notai com que doçura ele fala ao copeiro-mór dos seus dissabores:-Fui le- vado do país dos hebreus e aqui não tinha nada feito quando me atiraram para um calabouço. Nem uma palavra amarga dirigida àque- les que mal lhe fizeram. As suas palavras são impregnadas de mansidão. Qual e a força mágica que sustenta este jovem mártir, que o torna mais forte que as cadeias que o carregam, mais resistente que o calabouço que o encerra? É que a sua consciência proclama alta- mente a sua inocência diante de Deus e dos homens, é que ele tem a convicção que o nosso destino vem dum Deus bom e Justo que mudará a desgraça em felicidade quando, na sua sabedoria infinita, ele tiver Julgado que o momento e chegado. Compreendeis agora porque este escravo, apenas saido da prisão, leva a cabeça alta, e que de nenhum modo tem o ar de intimi- dade que subitamente se encontra diante de Faraó todo~poderoso, diante deste semi- -deus que é o terror do seu povo e que, num momento de humor tirânico, entrega o seu criado ao cadafalso? Este Joseph não tem o ar de falar do seu igual? Não parece, mesmo na sua simplicidade, maior que este Faraó que espera ansiosamente da boca deste jovem hebreu a explicação dum sonho que perturbou o seu coração? Como diferentes aparecem ao lado dele os seus irmãos vindo ao Egipto! Joseph não tem senão que lhes falar um pouco duramente, e logo eles ficam abatidos e aflitos por todo o peso do pecado de que a sua consciência os acusa. "Eles dizem um para outro:-Na verdade, nós somos puni- dos por causa de nosso irmão: nós vimos o seu desespero quando ele gritava piedade e nós ficamos surdos. Eis porque esta des- graça nos acontece". E eles revivem a cena dolorosa em que o seu velho pai infe- líz, dominado pelo desespero, rasga os seus vestidos, chorando o seu filho amargamente. Eles o vêem assentado no chão, consu- mir-se dia a dia pela dor sem poderem-lhe dizer ainda a verdade. Vinte anos são já passados desde que eles praticaram o seu crime e a sua lembrança é ainda viva como se este acontecimento datasse de ontem. Recorda-se ainda exactamente as palavras que então pronunciou - "Não vos torneis culpados para com este menino! mas vós não me quisestes escutar. Pois bem, eis que o seu sangue nos é reclamado". Quantas vezes, durante estes vinte anos, os irmãos de Joseph, ajuizados pelos anos e atormentados pelo remorso, teriam dis- cutido a responsabilidade de cada um deles nesta perversidade que carregava a sua ju- ventude? E que o pecado não abandona o crimi- noso: ele sacode-o no momento da prova. Ah! como são pequenos agora os filhos de Jacob! Eles baixam a cabeça como se qui- sessem desaparecer do mundo. "Que dire- mos ao nosso senhor, como falar e como nos justificar? O Todo-Poderoso soube atingir a íniquidade dos seus servidores". Não há pior sofrimento que este sofri- mento moral de ter a consciência carregada e de dar conta disso. Mais franqueza, mais serenidade. O sentimento da culpabilidade envenena a existência do culpado, assombra a sua face, faz fugir o sono das suas pálpe- bras fá-lo sobressaltar no seu leito, ator- mentado por sonhos sinistros. É sobre este assunto que os nossos Sábios dizem:- Se o culpado não pode ser Julgado pelo JUIZ terrestre, porque o crime lhe é desconhe- cido. Deus nomeia o próprio culpado exe- cutor do julgamento divino. Os filhos de Jacob expiaram as suas
N.º 144, Nissan-Sivan 5709 (Mar-Mai 1949)
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