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Ha-Lapid הלפיד


N.º 144, Nissan-Sivan 5709 (Mar-Mai 1949)







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 6             HA-LAPID
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            A CQNSCIÊNCIA

A tradição iudaica chama a Joseph "Ha-
-Çadik" (o justo), nome honorifico que ela
não atribui nem a Abraham, nem a Moi-
sés, Joseph é o Çadik, Phrque a Escritura
Sagrada não lhe conhece pecado, mas úni-
camente virtudes. Arrancado bruscamente
à afeição de seu pai, vendido sem piedade
num pais estrangeiro, lançado inocente-
mente num sombrio calabouço, Joseph su-
porta a sua infeliz sorte com uma constância
inabalável. Nunca ele deixa o desespero
invadir o seu coração, nunca uma palavra
de murmúrio ou de rancor chega aos seus
lábios. Apesar das injustiças que sofre, a
sua figura respira sempre serenidade e bon-
dade. Notai com que doçura ele fala ao
copeiro-mór dos seus dissabores:-Fui le-
vado do país dos hebreus e aqui não
tinha nada feito quando me atiraram para
um calabouço.

Nem uma palavra amarga dirigida àque-
les que mal lhe fizeram. As suas palavras
são impregnadas de mansidão.

Qual e a força mágica que sustenta este
jovem mártir, que o torna mais forte que
as cadeias que o carregam, mais resistente
que o calabouço que o encerra?

É que a sua consciência proclama alta-
mente a sua inocência diante de Deus e
dos homens, é que ele tem a convicção
que o nosso destino vem dum Deus bom e
Justo que mudará a desgraça em felicidade
quando, na sua sabedoria infinita, ele tiver
Julgado que o momento e chegado.

Compreendeis agora porque este escravo,
apenas saido da prisão, leva a cabeça alta, e
que de nenhum modo tem o ar de intimi-
dade que subitamente se encontra diante de
Faraó todo~poderoso, diante deste semi-
-deus que é o terror do seu povo e que,
num momento de humor tirânico, entrega
o seu criado ao cadafalso? Este Joseph não
tem o ar de falar do seu igual? Não parece,
mesmo na sua simplicidade, maior que este
Faraó que espera ansiosamente da boca
deste jovem hebreu a explicação dum sonho
que perturbou o seu coração?

Como diferentes aparecem ao lado dele
os seus irmãos vindo ao Egipto! Joseph
não tem senão que lhes falar um pouco



duramente, e logo eles ficam abatidos e
aflitos por todo o peso do pecado de que a
sua consciência os acusa. "Eles dizem um
para outro:-Na verdade, nós somos puni-
dos por causa de nosso irmão: nós vimos
o seu desespero quando ele gritava piedade
e nós ficamos surdos. Eis porque esta des-
graça nos acontece". E eles revivem a
cena dolorosa em que o seu velho pai infe-
líz, dominado pelo desespero, rasga os seus
vestidos, chorando o seu filho amargamente.
Eles o vêem assentado no chão, consu-
mir-se dia a dia pela dor sem poderem-lhe
dizer ainda a verdade. Vinte anos são já
passados desde que eles praticaram o seu
crime e a sua lembrança é ainda viva como
se este acontecimento datasse de ontem.
Recorda-se ainda exactamente as palavras
que então pronunciou - "Não vos torneis
culpados para com este menino! mas vós
não me quisestes escutar. Pois bem, eis que
o seu sangue nos é reclamado".

Quantas vezes, durante estes vinte anos,
os irmãos de Joseph, ajuizados pelos anos
e atormentados pelo remorso, teriam dis-
cutido a responsabilidade de cada um deles
nesta perversidade que carregava a sua ju-
ventude?

E que o pecado não abandona o crimi-
noso: ele sacode-o no momento da prova.
Ah! como são pequenos agora os filhos de
Jacob! Eles baixam a cabeça como se qui-
sessem desaparecer do mundo. "Que dire-
mos ao nosso senhor, como falar e como
nos justificar? O Todo-Poderoso soube
atingir a íniquidade dos seus servidores".

Não há pior sofrimento que este sofri-
mento moral de ter a consciência carregada
e de dar conta disso. Mais franqueza, mais
serenidade. O sentimento da culpabilidade
envenena a existência do culpado, assombra
a sua face, faz fugir o sono das suas pálpe-
bras fá-lo sobressaltar no seu leito, ator-
mentado por sonhos sinistros. É sobre este
assunto que os nossos Sábios dizem:- Se
o culpado não pode ser Julgado pelo JUIZ
terrestre, porque o crime lhe é desconhe-
cido. Deus nomeia o próprio culpado exe-
cutor do julgamento divino.

Os filhos de Jacob expiaram as suas


 
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