2 HA-LAPÍD ============================================= Um projecto morto á nascença Lembro que o 1.o templo, construido por Salomão no ano 1000 (antes da era vulgar), foi destruído pelos assirios ern 585; que um segundo templo menos sumptuoso foi edifi- cado após o regresso do exilio em 519; que este templo, profanado por Antioco Epifania, rei da Síria, foi puríficado em 165, por Ju- dah Macabeu, o que é ainda hoje comemo- rado com a festa de H'anucah; e finalmente que este templo, julgado muito pouco luxuo- so e provavelmente já caduco, foi substitui- do pelo terceiro templo, o de Herodes, a partir do ano 20 da era vulgar. Ainda se trabalhava nele no ano de 62. Depois da tomada de Jerusalem por Tito no ano 70, o terceiro templo foi destruído, mas não inteiramente: foi-o sómente depois da repressão da revolta de Bar-Kohebah por Adriano, em 135, que êle foi arrasado até ao solo e que a charrua cavou sulcos em cima dos seus alicerces. Nesta época, Jerusalem tornou o nome de Aeila Capitolina, e foi proibido aos judeus não só de lá morar mas tambem de lá entrar. Continuaram comtudo em numero bastante grande a viver nas cida- des e aldeias dos arredores. A sua condição e a dos judeus dissemi- nados por todo o imperio romano melhorou- -se de repente em 361, quando o sobrinho de Constantino, Juliano, cognomínado o após- tata, tornado ilustre na Galia por repetidas vitorias sobre os germanos, se tornou impe- rador. Do édito de tolerancia, proclamado em Milão em 311 por Constantino, êle es- forçou-se para o tornar uma realidade, o que ainda não tinha sido feito. Juliano, nascido em 331, tinha sido ba- tísado, mas o seu amor apaixonado pela ci- vilisação helenica tez com que ele adoptas- se em breve o paganismo. Por esse motivo muitas vezes se concluiu que este imperador, que não viajava sem um Homero e um Pla- tão nas suas bagagens, era sobretudo um fi- losofo, e o seculo XVIII fez dele um filoso- to no sentido que tinha então esta palavra. isto é, quasí um livre-pensador. Erro pro- fnndo: Juliano era um devoto, iniciado nos mistérios de Mitrah. inclinando-se deante dos velhos deuses do paganismo por causa do logar que eles tinham na literatura que lhe era querida, mas prestando sobretudo uma homenagem entusiastica aos deus Sol, con- siderado como a divindade por excelencia, o senhor dos ceus. O reinado de juliano foi muito curto. porque foi morto numa campanha contra os persas. Mas como era muito activo e gosta- va de escrever; como tambem os seus con- temporaneos e os bisantinos depois deles o considerarem como um dos mestres da lin- gua grega, os copistas de Bizancio nos con- servarem uma grande parte da sua obra, compreendendo as cartas e opusculos que se leem ainda com prazer. Com tudo como êle era hostil ao cristianismo, sem o perseguir, a censura bisantina, activa sobretudo a par- tir do ano 1000, suprimiu dos seus oscritos aqueles onde êle dizia mal da religião cris- tã; dai provém as lacunas lamentaveis para os eruditos. Mas, apesar dessas lacunas, tanto ocupou os historiadores e os polemístas do seculo IV que não ha talvez um personagem da antiguidade, excepto Cicero, do qual se conheça com tantos detalhes os actos e os pensamentos. Juliano tinha concebido uma multidão de grandes projectos, que contava realisar no seu regresso da campanha contra os persas; um deles era a restauração do templo de Jerusalem. Isto não é duvidoso, porque é ele mesmo que o diz. Duma longa carta de Ju- liano á comunidade dos judeus não resta se- não estas palavras: «Emprego todo o meu zelo e tornar a levantar o templo do Deus Altíssimo» E noutra carta, mais bem con- servada, escreve: «Que dirão os profetas dos judeus do seu templo, três vezes derrubado e ainda não reconstruido? Não falo disto para lhes fazer afronta, eu que tenho projectado de restabelecer, em honra do Deus que ali se invoca, o templo arruinado desde ha tanto tempo." Estes textos são formais. Juliano conce- beu ainda outros projectos a tavor dos ju-
N.º 029, Nissan 5690 (Mar-Abr 1930)
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