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N.º 029, Nissan 5690 (Mar-Abr 1930)







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 2                HA-LAPÍD
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Um projecto morto á nascença

Lembro que o 1.o templo, construido por
Salomão no ano 1000 (antes da era vulgar),
foi destruído pelos assirios ern 585; que um
segundo templo menos sumptuoso foi edifi-
cado após o regresso do exilio em 519; que
este templo, profanado por Antioco Epifania,
rei da Síria, foi puríficado em 165, por Ju-
dah Macabeu, o que é ainda hoje comemo-
rado com a festa de H'anucah; e finalmente
que este templo, julgado muito pouco luxuo-
so e provavelmente já caduco, foi substitui-
do pelo terceiro templo, o de Herodes, a
partir do ano 20 da era vulgar. Ainda se
trabalhava nele no ano de 62.

Depois da tomada de Jerusalem por Tito
no ano 70, o terceiro templo foi destruído,
mas não inteiramente: foi-o sómente depois
da repressão da revolta de Bar-Kohebah por
Adriano, em 135, que êle foi arrasado até ao
solo e que a charrua cavou sulcos em cima
dos seus alicerces. Nesta época, Jerusalem
tornou o nome de Aeila Capitolina, e foi
proibido aos judeus não só de lá morar mas
tambem de lá entrar. Continuaram comtudo
em numero bastante grande a viver nas cida-
des e aldeias dos arredores.

A sua condição e a dos judeus dissemi-
nados por todo o imperio romano melhorou-
-se de repente em 361, quando o sobrinho
de Constantino, Juliano, cognomínado o após-
tata, tornado ilustre na Galia por repetidas
vitorias sobre os germanos, se tornou impe-
rador. Do édito de tolerancia, proclamado
em Milão em 311 por Constantino, êle es-
forçou-se para o tornar uma realidade, o que
ainda não tinha sido feito.

Juliano, nascido em 331, tinha sido ba-
tísado, mas o seu amor apaixonado pela ci-
vilisação helenica tez com que ele adoptas-
se em breve o paganismo. Por esse motivo
muitas vezes se concluiu que este imperador,
que não viajava sem um Homero e um Pla-
tão nas suas bagagens, era sobretudo um fi-
losofo, e o seculo XVIII fez dele um filoso-
to no sentido que tinha então esta palavra.
isto é, quasí um livre-pensador. Erro pro-
fnndo: Juliano era um devoto, iniciado nos

mistérios de Mitrah. inclinando-se deante dos
velhos deuses do paganismo por causa do
logar que eles tinham na literatura que lhe
era querida, mas prestando sobretudo uma
homenagem entusiastica aos deus Sol, con-
siderado como a divindade por excelencia, o
senhor dos ceus.

O reinado de juliano foi muito curto.
porque foi morto numa campanha contra os
persas. Mas como era muito activo e gosta-
va de escrever; como tambem os seus con-
temporaneos e os bisantinos depois deles o
considerarem como um dos mestres da lin-
gua grega, os copistas de Bizancio nos con-
servarem uma grande parte da sua obra,
compreendendo as cartas e opusculos que se
leem ainda com prazer. Com tudo como êle
era hostil ao cristianismo, sem o perseguir,
a censura bisantina, activa sobretudo a par-
tir do ano 1000, suprimiu dos seus oscritos
aqueles onde êle dizia mal da religião cris-
tã; dai provém as lacunas lamentaveis para
os eruditos. Mas, apesar dessas lacunas, tanto
ocupou os historiadores e os polemístas do
seculo IV que não ha talvez um personagem
da antiguidade, excepto Cicero, do qual se
conheça com tantos detalhes os actos e os
pensamentos.

Juliano tinha concebido uma multidão de
grandes projectos, que contava realisar no
seu regresso da campanha contra os persas;
um deles era a restauração do templo de
Jerusalem. Isto não é duvidoso, porque é ele
mesmo que o diz. Duma longa carta de Ju-
liano á comunidade dos judeus não resta se-
não estas palavras: «Emprego todo o meu
zelo e tornar a levantar o templo do Deus
Altíssimo» E noutra carta, mais bem con-
servada, escreve: «Que dirão os profetas dos
judeus do seu templo, três vezes derrubado
e ainda não reconstruido? Não falo disto para
lhes fazer afronta, eu que tenho projectado de
restabelecer, em honra do Deus que ali se
invoca, o templo arruinado desde ha tanto
tempo."

Estes textos são formais. Juliano conce-
beu ainda outros projectos a tavor dos ju-


 
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