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Ha-Lapid הלפיד


N.º 029, Nissan 5690 (Mar-Abr 1930)







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               HA-LAPÍD                  3
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deus? Sim, a acreditar-sentam escritor cris-
tão do seu tempo Gregorio Nasianzêno. No
dizer deste polemista sacro, juliano, exal-
tando os judeus por textos tirados dos seus
livros, declarou que tinha chegado o momen-
to para eles reentrarem na sua pátria, re-
construirem o templo e darem força e vigor
aos seus costumes ancestrais. Tudo isto fa-
ria de Juliano o precursor imperial do sío-
nismo. De boa vontade acreditariamos nisso
se lessemos estas palavras na carta de Ju-
liano á Comunidade Judaica de que só pos-
suímos a primeira linha, ou se Gregorio Na-
zianzeno nos dissesse que tirava esta infor-
mação da carta referida; mas como não é
esse o caso e Gregorio Nazianzeno tem mui-
ta imaginação, é preciso duvidar.

Apesar dos rigores da censura bisantina,
conservamos uma longa passagem onde Ju-
liano' numa carta ao grande sacerdote pagão
da Asia, dá a sua opinião sobre os jddeus :
"esta gente, diz êle, é religiosa num sentido,
pois que o deus que eles adoram é na ver-
dade o deus todo poderoso e muito bom que
governa o mundo sensível e que nós proprios
veneramos sob outros nomes.

Tambem acho muito natural que eles fi-
quem fieis ás suas leis. O seu unico defeito,
é que, procurando satisfazer sobretudo ao
seu deus, não servem ao mesmo tempo os
outros." Juliano censura os judeus por não
serem ecleticos como ele!

Diz-se muitas vezes que Juliano favore-
ceu os judeus porque sabia-os hostis aos
cristãos. Não ha nas obras de Juliano uma
só palavra que motive esta opinião, Juliano
era um devoto do Deus Altissimo, que ele
chama Sol; o monoteismo dos judeus agra-
dava-lhe; os judeus não são, como os cris-
tãos inimigos dos sacrifícios, aos quais o im-
perador é tão dedicado que imola vitimas
com as suas proprias mãos; mas os romanos
destruíram o templo onde eles sacrificavam;
Juliano vai reconstrui-lo e o Altíssimo ser-
lhe-ha grato: este será um aliado, um prote-
tor a mais para o ímperio e para êle.

Que aconteceu a este projecto de levan-
tar um quarto templo? O unico texto preciso,
vinte anos posterior, é de historiador pagão
Amiano Marcelino Mostra-nos Juliano, no
começo de 363 apressando os preparativos
da sua expedição contra os persas, mas pen-
sando tambem nos grandes trabalhos que
deviam imortalisar o seu reinado, notavel-
mente a restauração do templo. Ele tinha,

diz Amiano, confiado este projecto a Alipio
d'Antioquia, seu amigo, que se ocupava disso
de acordo com o governador romano da pro-
víncia. Mas aconteceu que globos de fogo
sairam varias vezes da terra junto das fun-
dações e queímaram por vezes alguns ope-
rarios e tornaram o local inacessível; tendo-
-se renovado estes fenomenos. o projecto foi
abandonado."

Os escritores cristãos do tempo, contem-
poraneos, mas não testemunhas dos factos,
exageraram extraordinariamente esta historia:
raios, tremores de terra, furacões, nada fal-
tou. Se atendermos á narração de Amiano,
tudo se pode explicar num paiz vulcanico,
por gazes subterraneos, da natureza do gaz
dos pantanos, e pela timidez natural dos
operarios judeus desbravando as fundações
sagradas do templo. O Talmud conta uma
anedota relativa ao primeiro templo que pó-
de ter exercido alguma influencia. Acredi-
tava-se que o rei Josiah ali tinha enterrado
tesouros. Um dia, um padre do logar cons-
tata uma desigualdade no pavimento; chama
um colega que dá uma pancada com um
martelo. Imediatamente, por um interstício
do pavimento escapa-se uma chama que con-
some os dois indiscretos. Acreditava-se pois
em chamas subterranaas como em tesouros
escondidos.

Uma outra tradição, relatada no segundo
livro dos macabeus, quer que o fogo sagrado
conservado durante o cativeiro de Babiionia.
tenha sido encontrado nas fundações do tem-
plo na época de Nehemiah

E' ainda, se ha alguma verdade neste
episodio, uma manifestação do fogo subter-
raneo.

Mas não será melhor admitir, segundo o
sabío rabino inglês Adler, que Amiano se
inspirou na lenda nascida sob a pena dos
polemistas cristãos do tempo. e que a inter-
rupção dos trabalhos apenas começados pela
escavação da terra vegetal foi devida á cau-
sa mais natural do mundo, a morte do im-
perador, ferido por uma flecha seis meses
depois, quasi no principio da sua campanha
contra os persas? "O silencio de S. Jeroni-
mo, escrevia o historiador inglês Gibbon no
seculo XVIII, leva a suspeitar que uma mes-
ma historia, celebrada a distancia, podia ser
desprezada no local " Vós sabeis, com efei-
to, que S. Jeronimo passou uma grande par-
te da sua vida na Palestina; era êle, melhor
que qualquer outro, que deveria contar a


 
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