HA-LAPÍD 3 =========================================== deus? Sim, a acreditar-sentam escritor cris- tão do seu tempo Gregorio Nasianzêno. No dizer deste polemista sacro, juliano, exal- tando os judeus por textos tirados dos seus livros, declarou que tinha chegado o momen- to para eles reentrarem na sua pátria, re- construirem o templo e darem força e vigor aos seus costumes ancestrais. Tudo isto fa- ria de Juliano o precursor imperial do sío- nismo. De boa vontade acreditariamos nisso se lessemos estas palavras na carta de Ju- liano á Comunidade Judaica de que só pos- suímos a primeira linha, ou se Gregorio Na- zianzeno nos dissesse que tirava esta infor- mação da carta referida; mas como não é esse o caso e Gregorio Nazianzeno tem mui- ta imaginação, é preciso duvidar. Apesar dos rigores da censura bisantina, conservamos uma longa passagem onde Ju- liano' numa carta ao grande sacerdote pagão da Asia, dá a sua opinião sobre os jddeus : "esta gente, diz êle, é religiosa num sentido, pois que o deus que eles adoram é na ver- dade o deus todo poderoso e muito bom que governa o mundo sensível e que nós proprios veneramos sob outros nomes. Tambem acho muito natural que eles fi- quem fieis ás suas leis. O seu unico defeito, é que, procurando satisfazer sobretudo ao seu deus, não servem ao mesmo tempo os outros." Juliano censura os judeus por não serem ecleticos como ele! Diz-se muitas vezes que Juliano favore- ceu os judeus porque sabia-os hostis aos cristãos. Não ha nas obras de Juliano uma só palavra que motive esta opinião, Juliano era um devoto do Deus Altissimo, que ele chama Sol; o monoteismo dos judeus agra- dava-lhe; os judeus não são, como os cris- tãos inimigos dos sacrifícios, aos quais o im- perador é tão dedicado que imola vitimas com as suas proprias mãos; mas os romanos destruíram o templo onde eles sacrificavam; Juliano vai reconstrui-lo e o Altíssimo ser- lhe-ha grato: este será um aliado, um prote- tor a mais para o ímperio e para êle. Que aconteceu a este projecto de levan- tar um quarto templo? O unico texto preciso, vinte anos posterior, é de historiador pagão Amiano Marcelino Mostra-nos Juliano, no começo de 363 apressando os preparativos da sua expedição contra os persas, mas pen- sando tambem nos grandes trabalhos que deviam imortalisar o seu reinado, notavel- mente a restauração do templo. Ele tinha, diz Amiano, confiado este projecto a Alipio d'Antioquia, seu amigo, que se ocupava disso de acordo com o governador romano da pro- víncia. Mas aconteceu que globos de fogo sairam varias vezes da terra junto das fun- dações e queímaram por vezes alguns ope- rarios e tornaram o local inacessível; tendo- -se renovado estes fenomenos. o projecto foi abandonado." Os escritores cristãos do tempo, contem- poraneos, mas não testemunhas dos factos, exageraram extraordinariamente esta historia: raios, tremores de terra, furacões, nada fal- tou. Se atendermos á narração de Amiano, tudo se pode explicar num paiz vulcanico, por gazes subterraneos, da natureza do gaz dos pantanos, e pela timidez natural dos operarios judeus desbravando as fundações sagradas do templo. O Talmud conta uma anedota relativa ao primeiro templo que pó- de ter exercido alguma influencia. Acredi- tava-se que o rei Josiah ali tinha enterrado tesouros. Um dia, um padre do logar cons- tata uma desigualdade no pavimento; chama um colega que dá uma pancada com um martelo. Imediatamente, por um interstício do pavimento escapa-se uma chama que con- some os dois indiscretos. Acreditava-se pois em chamas subterranaas como em tesouros escondidos. Uma outra tradição, relatada no segundo livro dos macabeus, quer que o fogo sagrado conservado durante o cativeiro de Babiionia. tenha sido encontrado nas fundações do tem- plo na época de Nehemiah E' ainda, se ha alguma verdade neste episodio, uma manifestação do fogo subter- raneo. Mas não será melhor admitir, segundo o sabío rabino inglês Adler, que Amiano se inspirou na lenda nascida sob a pena dos polemistas cristãos do tempo. e que a inter- rupção dos trabalhos apenas começados pela escavação da terra vegetal foi devida á cau- sa mais natural do mundo, a morte do im- perador, ferido por uma flecha seis meses depois, quasi no principio da sua campanha contra os persas? "O silencio de S. Jeroni- mo, escrevia o historiador inglês Gibbon no seculo XVIII, leva a suspeitar que uma mes- ma historia, celebrada a distancia, podia ser desprezada no local " Vós sabeis, com efei- to, que S. Jeronimo passou uma grande par- te da sua vida na Palestina; era êle, melhor que qualquer outro, que deveria contar a
N.º 029, Nissan 5690 (Mar-Abr 1930)
> P03