HA-LAPID 5 ======================================== - e tambem D, Manuel que seguiu esta mesma politica-permitiu que uma obra que tão facilmente poderia ser feita em portu- guez, fosse impressa em espanhol. O que aqui expomos n'uma simples hipotese, mas parece-nos hipotese admissível. Abraham Ben Samuel Zacuto nasceu em Salamanca em 1450 approximadamente e morreu na Turquia pelo ano de 1510 De sua vida pouco conhecemos, sabemos no entanto que ele era um astrónomo de vasta reputação e um professor de grande nome na universidade de sua terra natal, cleccio- nando mais tarde em Saragoça. Depois da expulsão dos judeus de Espanha, Zacuto fixou-se em Lx. onde brevemente foi no- meada astrônomo e historiador da côrte de D. João II. Um docomento hebreu, datado de 9 de Junho de 1493, assinado "Abraham Zacuto, matemático da côrte", é uma prova de que Zacuto n'essa data fazia os seus estudos sob a proteção do rei D. João II e assim continuou, mesmo durante o reinado de D. Manuel até á expulsão dos judeus, quando se viu forçado a abandonar Portugal com seu filho Samuel. Após uma viagem cheia de perigos e vicissitudes chegaram finalmente a Tunis, onde Zacuto viveu até á invasão dos espa- nhoes fugindo então para a Turquia onde findou os seus dias. Foi durante a sua estada em Tunis em 1504, que Zacuto escreveu uma historia cronológica dos judeus, desde a Creação até 1500, intitulando-a "Sefer ha-Juhasin" e na qual fez realçar a literatura judaica. Em 1473 ainda em Salamanca, Lacuto escreveu o "B'ur Luhot" que publicado em Leiria em 1496, n'uma tradução latina por Joseph Vecinho, foi intitulado "Almanach Perpelnum". O velho historiador Gaspar Correa con- ta-nos ingenualmente o seguinte nas suas crónicas "Lendas da India". "Antes de D. Manuel ordenar o desco- brimento do caminho para a India, mandou chamar de Beja um judeu conhecido como grande astrólogo, chamado Zacuto, falou-lhe secretamente e encumbiu de estudar pro- fundamente e o aconselhar se se devia em- preendeu o descobrimento da india e se esse descobrimento poderia vir a ser uma realidade, se fosse possivel encontrar o ca- minho para a india, ele estaria disposto a gastar tudo quanto fosse preciso, mas sem o conselho de Zacuto nada resolveria, para tal o tinha chamado... o judeu que traba- lhasse, procurasse com cuidado, com todo o seu grande conhecimento durante o tempo que lhe fosse necessario e então achasse uma resposta para esta questão. O judeu tornou para Beja, estudou aplicadamente, e chegando a conclusões m.t satisfatorias, voltou ao Rei cheio de alegria e disse-lhe. Majestade, estudei como maior cuidado e aplicação, conforme V. A. me ordenára, e encontrei que a província da India fica muito longe d'estas paragens, separando-a de nós grandes mares e terras, terras todas elas habitadas por gente negra; n'essa pro- víncia ha grandes riquezas e generos que são transportados para muitas partes do mundo, mas grandes perigos têm de ser vencidos para que eles possam chegar á nossa terra que tão longe fica; tudo isto eu achei e com a ajuda de Deus, nosso Senhor eu ri que V. A. ha-de descobrir o caminho para essa terra e que dentro de pouco tempo ha-de conquistar grande parte da India, pois que, Majestade, o nosso planeta está m.t abaixo da esplera que contem os ceus e a terra que Deus ha-de entregar ao nosso poder e V. A. ha-de realizar tudo. ... .......................................... E encontrei que 2 irmãos, vossos subdi- tos, descobrirão a India, mas não consegui achar quem eles são. Mas desde que seja a vontade de Deus, ele no-los mostrará Disse portanto a S. A. toda a verdade pela qual responderei com a minha cabeça, conforme a vontade de Deus, o Poderoso"--O rei, ao ouvir isto agradeceu ao judeu e recomen- dou-lhe o maior segredo, pois que pelas suas palavras a sua fortuna vivia a ser gran- demente atingida". A narração de Gaspar Correa é para nós cheia de interese, principalmente quan- do ele menciona as palavras quási proféti- cas de Zacuto. O Rei Manuel, diz-nos Correa "dedicava-se muito á astrologia e muitas vezes trabalhava com o judeu Zaento". Outra narração contemporania diz-nos: "o vira muito dado a astrologia, tanto que quando os navios saíam para a india ou quando eram esperados de volta, ele costu- mava mandar a Diogo Mendes Vizinho, grande astrologo portuguez e judeu que vi- via em Lisboa, que predissese os seus seus destinos. Depois da morte de Diogo Mendes
N.º 029, Nissan 5690 (Mar-Abr 1930)
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