2 HA-LAPÍD ============================================ A QUEDA O ultimo procurador romano, na Palesti- na, foi Gesinus Florus e foi a sua avidez e insaciavel cubiça, que determinaram a ruptura final, com Roma, ocorrida entre 64 a 66 e. v. Este governador, de execranda memoria, ligou-se, secretamente, aos bandos de ladrões, que infestavam o país, para roubar e matar, e compartilhavam dos despojos dos saques, com o seu omnipotente protector que, pela sua venalidade, impelia os judeus á revolta, ainda no intuito oculto, de melhor se apro- priar das suas riquezas. Entrou em Jerusalem e, apesar do pro- positado socego da população, matou e roubou, sem piedade. Sete governadores romanos, haviam suce- dido uns após outros, rapidamante, e todos eles egualmente crueis contra um povo, que não queria reconhecer e sacrificar á divinda- de dos imperadores. Povo. que preferia perder riquezas, casa, terras e até a propria vida, a prestar culto a idolos, ainda que estes fôssem do proprio imperador da poderosa Roma. Para os funcionarios romanos, esse povo tinha o aspecto de uma gente obstinada, quasi demente. a quem era preciso dominar, pela palavra ou pela espada, e empregaram esta ultima. Durante anos de terror, matou-se desapiedadamente. Aos rebanhos, os judeus foram queimados e crucificados. Durante quatro anos terríveis, o pequeno povo judeu, num canto obscuro do imperio romano, resis- tia ao poder das mais famosas legiões roma nas e á habilidade dos conquistadores do mundo. No ano de 66 a inquietação tinha chegado ao auge. Mas a grande insurreição, que havia de arrastar consigo a destruição do estado judaico, não era fomentada, apenas, pelos judeus da Judeia; na fomentação da revolta, tem logar predominante a Galileia, onde ainda ecoavam os sons dos antigos profetas, e cuja população mantinha um patriotismo ardente, que se opunha, com firmeza, contra as infiltrações do exterior. Na Galileia tinha surgido a seita dos zeladores, que, admitindo as práticas demo- craticas dos faríseus, ficavam, contudo, fieis ás antigas ideias dos hebreus nomadas, para quem, só Jehovah é digno de ser servido, como chefe. Da Galileia partiu, pois, o grito de alarme, que foi atear o incendio em todas as colonias dos judeus, estabelecidas fóra da Palestina. Os países longinquos, de um judaismo primitivo, oferecem-se para comba- ter e a descrição da ruína de Jerusalem, do escritor Josefus, do primeiro seculo da era vulgar, que foi testemunha presencial, diz-nos que, do milhão e cem mil judeus, qne cairam mortos, na defeza de Jerusalem, a maior parte não era nativa da Judeia, mas tinha vindo ali, para celebrar a pascoa. E' efectivamente esse escritor, Josefus. que tambem foi general das tropas judaicas, a fonte principal, por onde nos vem o conhe- cimento do que se passou. durante o cêrco de Jerusalem, celebre na Historia. Dentro da cidade, os sitiados dividiam-se em trez campos, em luta uns com os outros, a res- peito de quem havia de dirigir a guerra e da maneira como esta havia de ser dirigida. Um dos partidos ocupava a parte baixa da cidade, outro a parte alta e o terceiro tinha-se alojado numa area, dentro do proprio Templo. Duas destas facções, guerreavam-se pela posse dos celeiros, até que alguem lançou fogo a estes e eles foram completa- mente destruidos. Mais de um milhão de judeus ali estavam em luta encarniçada e fratricida. encurralados, entre altas muralhas, num recinto, que apenas media uns mil e seiscentos metros quadrados aproximadamen- te; quasí sem mantimentos e com o perigo romano á porta. Da Síria tinham descido as legiões romanas, para sufocar os rebeldes, mas, estes batiam-se como leões ferozes, indomaveís. Batíam-se com desespero e heroísmo, na defesa da patria e da religião. contra o tirano estrangeiro e insolente De ambos os lados a guerra era ímplacavel. O imperador Nero compreendeu a extensão da revolta, e que dominá-la não seria facil; enviou, pois, para o teatro da guerra, dois dos seus mais habeis generaes: Vespasiano e Tito, filho dêste. Vespasiano tinha sido chamado a Roma, para ser coroado imperador e Tito começara o cêrco. Perto da muralha norte, tinham-se levantado montes de terra, sobre os quais assentavam os arietes. A uma distancia de dez quilometros, em torno da cidade, haviam- se cortado todos os troncos d'arvores, para a construção dos arietes. Dia e noite, incessan- temente, ouvia-se o estrondo daqueles ins-
N.º 032, Ab 5691 (Jul-Ago 1930)
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