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N.º 032, Ab 5691 (Jul-Ago 1930)







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 2              HA-LAPÍD
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A QUEDA

O ultimo procurador romano, na Palesti-
na, foi Gesinus Florus e foi a sua avidez e
insaciavel cubiça, que determinaram a ruptura
final, com Roma, ocorrida entre 64 a 66 e.
v. Este governador, de execranda memoria,
ligou-se, secretamente, aos bandos de ladrões,
que infestavam o país, para roubar e matar,
e compartilhavam dos despojos dos saques,
com o seu omnipotente protector que, pela
sua venalidade, impelia os judeus á revolta,
ainda no intuito oculto, de melhor se apro-
priar das suas riquezas.

Entrou em Jerusalem e, apesar do pro-
positado socego da população, matou e roubou,
sem piedade.

Sete governadores romanos, haviam suce-
dido uns após outros, rapidamante, e todos
eles egualmente crueis contra um povo, que
não queria reconhecer e sacrificar á divinda-
de dos imperadores. Povo. que preferia perder
riquezas, casa, terras e até a propria vida, a
prestar culto a idolos, ainda que estes fôssem
do proprio imperador da poderosa Roma.
Para os funcionarios romanos, esse povo tinha
o aspecto de uma gente obstinada, quasi
demente. a quem era preciso dominar, pela
palavra ou pela espada, e empregaram esta
ultima. Durante anos de terror, matou-se
desapiedadamente. Aos rebanhos, os judeus
foram queimados e crucificados. Durante
quatro anos terríveis, o pequeno povo judeu,
num canto obscuro do imperio romano, resis-
tia ao poder das mais famosas legiões roma
nas e á habilidade dos conquistadores do
mundo.

No ano de 66 a inquietação tinha chegado
ao auge. Mas a grande insurreição, que havia
de arrastar consigo a destruição do estado
judaico, não era fomentada, apenas, pelos
judeus da Judeia; na fomentação da revolta,
tem logar predominante a Galileia, onde
ainda ecoavam os sons dos antigos profetas,
e cuja população mantinha um patriotismo
ardente, que se opunha, com firmeza, contra
as infiltrações do exterior.

Na Galileia tinha surgido a seita dos
zeladores, que, admitindo as práticas demo-
craticas dos faríseus, ficavam, contudo, fieis
ás antigas ideias dos hebreus nomadas, para
quem, só Jehovah é digno de ser servido,

 

como chefe. Da Galileia partiu, pois, o grito
de alarme, que foi atear o incendio em todas
as colonias dos judeus, estabelecidas fóra da
Palestina. Os países longinquos, de um
judaismo primitivo, oferecem-se para comba-
ter e a descrição da ruína de Jerusalem, do
escritor Josefus, do primeiro seculo da era
vulgar, que foi testemunha presencial, diz-nos
que, do milhão e cem mil judeus, qne cairam
mortos, na defeza de Jerusalem, a maior
parte não era nativa da Judeia, mas tinha
vindo ali, para celebrar a pascoa.

E' efectivamente esse escritor, Josefus.
que tambem foi general das tropas judaicas,
a fonte principal, por onde nos vem o conhe-
cimento do que se passou. durante o cêrco de
Jerusalem, celebre na Historia. Dentro da
cidade, os sitiados dividiam-se em trez
campos, em luta uns com os outros, a res-
peito de quem havia de dirigir a guerra e da
maneira como esta havia de ser dirigida.

Um dos partidos ocupava a parte baixa
da cidade, outro a parte alta e o terceiro
tinha-se alojado numa area, dentro do proprio
Templo. Duas destas facções, guerreavam-se
pela posse dos celeiros, até que alguem
lançou fogo a estes e eles foram completa-
mente destruidos. Mais de um milhão de
judeus ali estavam em luta encarniçada e
fratricida. encurralados, entre altas muralhas,
num recinto, que apenas media uns mil e
seiscentos metros quadrados aproximadamen-
te; quasí sem mantimentos e com o perigo
romano á porta. Da Síria tinham descido as
legiões romanas, para sufocar os rebeldes,
mas, estes batiam-se como leões ferozes,
indomaveís. Batíam-se com desespero e
heroísmo, na defesa da patria e da religião.
contra o tirano estrangeiro e insolente De
ambos os lados a guerra era ímplacavel. O
imperador Nero compreendeu a extensão da
revolta, e que dominá-la não seria facil;
enviou, pois, para o teatro da guerra, dois
dos seus mais habeis generaes: Vespasiano e
Tito, filho dêste.

Vespasiano tinha sido chamado a Roma,
para ser coroado imperador e Tito começara
o cêrco. Perto da muralha norte, tinham-se
levantado montes de terra, sobre os quais
assentavam os arietes. A uma distancia de
dez quilometros, em torno da cidade, haviam-
se cortado todos os troncos d'arvores, para a
construção dos arietes. Dia e noite, incessan-
temente, ouvia-se o estrondo daqueles ins-


 
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