HA-LAPID 5 ==================================================== não teve conselheiros; foi da sua divina vontade e da sua infinita sabedoria que emanaram as suas ordens- sagradas e irrevogaveis. Como nos poderiamos per- suadir de que Ele tinha descido á terra? Como se ousaria dizem blasfêmia que Deus morreu ou que en- terrou seu filho com instruçoes sôbre o que devia fa- zer para salvação dos homens, não sendo ésse filho dependente dele, visto que ele é o mesmo Deus que seu Pai e como tal não pode depender de ninguém? Vé-se no entanto no Evangelho, nas Actas dos Após- tolos e em S. Paulo que éste Deus mortal não faz o que êle quer mas sim segue a vontade de seu Pai. Eu faço, diz ele, o que meu Pai. que me enviou para vós, me ordena; eu volto para aquele que me enviou para vós. Se Deus enviou ao mundo seu filho sob o aspec- to de uma criatura mortal para operar a redempção que os Profetas tinham prometido a Israel, não o poderiamos aceitar senão como o Ser tal como o co- nheciamos. O seu poder era restrito assim como os seus dias e ninguem pode crer sem impiedade que possa haver limite na divindade, que ela não seja absolutamente independente e que ela não seja por si mesma; é por consequencia impossivel que os Israelitas possam reconhecer em características tam opostas aquelas que deve ter o seu Redemptor, aquele que os Cristãos adoram, e que êles queriam fazer venerar ao povo escolhido do Senhor. CAPITULO II "Onde se prova que Israel não deve acreditar na encarnação." Moisés, este servidor tão querido de Deus, pe- diu-lhe para O ver face a face, e o Senhor respondeu- lhe: "Nenhum mortal me pode ver e viver." Estas divinas palavras bastam para convencer os Cristãos da impossibilidade de reconhecer Deus na pessoa de Jesus Cristo sob o seu aspecto humano, nada o distinguiu dos outros homens, que ele esteve sujeito como todos os mortais a todas as enfermidades da natureza humana: ninguem o declarou Deus du- rante a sua vida: as poucas pessoas que se tinham ligado a ele, que passavam entre o povo por igno- rantes e libertinos nunca lhe deram os atributos da divindade. Como se podera acreditar que ele afirmou que era Deus a pessoas que o negaram e que denun- ciaram ao Senhedrim a impureza da sua vidae a fal- sidade da sua doutrina. Desde que se confessa que Deus disse de Moisés que era um homem segundo a sua vontade que lhe recusou a graça eminente de ver a sua divina gló- não se poderia crer que Ele a tenha concedido a um outro mortal; a não ser que se diga que Ele é irre- gular e inconsequente nas suas acções. O Senhor, segundo o confessam os Cristãos, não se quiz mos- trar no maior dos Profetas, aquele que Ele escolheu dara ser o director e conductor do seu povo e todos os povos que viviam no século de Jesus Cristo o viam familiarmente e lhe falavam sem mistério. Isso é tão absurdo que os Cristãos que o acreditam não podem prestar-lhe fé se quizerem ser sinceros con- sigo mesmos e tudo o que avançam para responder ás objecções que lhes fazem a este respeito nao tem melhor fundamento que o seu erro. Mas não devem dizer que Deus se mostrou aos homens sob o seu aspecto divino, eles afirmam medrosamente que ele tomou a forma humana para mostrar-se. Mas como o puderam reconhecer? Não foi nem pelo seu mérito nem pelas suas obras visto que aquelas que nos con- tam os historiadores da sua vida são directamente opostos á divindade. Para nos convencermos mais dos erros do Cris- tianismo basta ler o texto sagrado. Nunca nenhum mortal me verá para que lhe não fique na memória a minima impressõo que lhe permita fazer uma ima- gem a merecida semelhança, Estas palavras devem persuadir a todos que é impossivel crer sem impiedade que Deus se tenha mostrado a quem quer que seja. Elas são bastantes para persuadir os mais obstinados Cristãos da falsi- dade da sua doutrina e para tornar mais crentes os Israelitas na verdade daquela que Deus lhes comuni- cou pela boca do mais perfeito dos Profetas. O decá- logo proibe em expressões tam claras a adoração de imagens que os homens podessem fazer à semelhan- ça de Deus, que é inutil citar outras passagens do texto sagrado onde se repete esta proibição. Os Israelitas não se deixarão tentar por nenhuma razão que possa destruir este preceito. Muitos da- queles que se afastaram dele confirmaram o seu cri- me e a sua impiedade. Com respeito aqueles que fizeram a apostasia da fé dos seus antepassados e que persistiram na sua perigosa opinião, mal deviam acreditar nisso e pre- tendem por explicações mais subtis que sólidas jus- tificar-se de uma idolatria manifesta posto que defen- dida pelos mais sábios doutores do Cristianismo. CAPITULO III "Em que se faz ver a Israel a idolatria do cris- tianismo a fim de que não caia no mesmo erro". O Senhor quiz instruir tambem o seu povo sobre o que ele devia fazer para não se tornar culpavel na idolatria que não só o advirtiu da que seguiam entao os povos que viviam antes dos israelitas, mas também da que devia introduzir mais tarde, Jesus Cristo. Pre- vendo a divina sabedoria que se trataria de abolir o verdadeiro culto para adorar Divindades inventadas pelos homens e representadas sob vários aspectos, a todas singularisa e detalha no Deuteronômio, a fim de que os filhos que adoptar nunca pudessem vir a en- ganar-se por ignorancia. Os Cristãos querem que Jesus Cristo seja Deus sob o aspecto humano, e dão a sua mãe atributos de Divindade e a fazem Rainha dos céus. O espirito san- to sob a forma duma pomba é também um Deus que eles adora; e para que não haja nada de defeituoso no texto sagrado, um cordeiro e uma serpente partici- pam da natura divina. A-fim-de que não vos façais imagens talhadas á semelhança do homem e da mulher, nem de nenhum animal de quatro patas que existem na terra nem a nenhuma ave que voe no ar, nem a nenhum animal que rasteja na terra, etc. Eis aqui precisamente todas as imagens sob as quais os Cristãos adoram a Divindade. Deus homem, Deus espirito santo sob a forma duma pomba, Deus reconhecido por S. João sob o aspecto de um cordeiro pascal deve ter vindo para expiar as faltas do género humano. Deus serpente é adorado é adorado porque Moisés mandou fundir uma em metal por ordem do Senhor. A mae de Jesus Cristo é reco- nhecida como Rainha dos céus e os Cristãos rendem- lhe um culto semelhante ao de seu filho. Ora não ha idolatria mais ridicula e portanto mais facil de evitar.
N.º 032, Ab 5691 (Jul-Ago 1930)
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