2 HA-LAPID ========================================== A Revolução contra a Roma Imperial nos anos 65 a 70 da Era vulgar ...Infelizmentm a unica fonte, onde é possivel estudar a Revolução judaica dos anos 65 a 70, e' a obra de Flavio Joseph, que foi uma testemunha ocular destes acon- tecimentos, mas era um emigrado, que de- testava e desprezava todos os chefes do par- tido adverso. Felizmente, Joseph, homem fino e habil, não era um historiador no sen- tido moderno da palavra, mas um cronista. Não só se contradiz varias vezes, mas tam- bem é incapaz de dissimular inteiramente os manejos dos seus adversarios. E' o que per- mite compreender os acontecimentos da Re- volução judaica segundo os proprios escritos de Joseph. Sob a influencia dos ensinamentos dos profetas e da literatura apocalitica, que ensi- navam que Israel era o povo escolhido por Deus e que todos os filhos de Israel eram iguais perante o Senhor, uma agitação po- pular nasceu na Judeia contra a dinastia de Herodes. Ela visava a crear um Estado on- de todos os filhos de Israel seriam iguais perante Deus e onde reinaria entre os ho- mens uma egualdade absoluta. Este movi- mento conduziu á formação de duas seitas. Elas tinham de comum o principio da egual- dade economica e, porísso, a supressão do dominio dum homem sobre outro. Elas só diferiam nos meios de realisarem os seus fins. Uma pode ser chamada apocalitíca e a outra a quarta filosofía. A primeira era religiosa na sua essencia, opunhe-se a toda a violencia e pregava não só a não resistencia, mas tambem o amor do inimigo. "Se um homem procura fazer-te mal, faz-lhe bem. vae-te e ora por ele" es- creve Joseph no Testamento dos doze pa- triarcas. Mas avisavam-se os ricos de que era mais facil a um camelo passar pelo fundo duma agulha que um rico entre no reino dos ceus. A segunda seita era revolucionaría e sustentava que a força era necessaria para estabelecer a egualdede entre os homens. Os que se opuzessem a estas ideias eram ini- migos e deviam ser compelidos pela violen- cra. Ao terror era preciso opôr o terror e o reinado da corrupção só podia ser suprimida pela força ao serviço do direito, Joseph culpa as duas seitas pela tomada de Jerusalem e pela destruição do templo. Chama ladrões e bandidos aos adeptos da quarta filosofia, ao mesmo tempo que chama doidos aos da Apocalipse. Eis ss termos em que se exprime: "Ha- via ainda um partido de scelerados, cujas acções eram menos impuras, mas cujas in- tenções eram peores, e, mais que estes as- sassinos, conduziram a cidade da prosperi- dade para a ruina. Estes homans enganavam e abusavam do povo cobrindo-se com a inspiração divina, mas eram partidarios de inovações e de mu- danças no governo. Eles persuadiam assim a multidão para que agisse como doidos e precederam-na no deserto pretendo que Deus lhes mostrava lá o sinal da liberdade. (Guerra dos Judeus, II, XIII, 4.) Não creio que seja possivel aceitar o ve- redictum de Joseph. Conhecemo-lo como um aventureiro, que se tornou general do exercito galíleu por motivos muito pessoais, prompto a trair os judeus ao primeiro revê- so; não podendo fazer confiança nele. Emi- grada, ele detestava os seus inimigos e pin- tava-os com as sombrias côres do odio. De resto ele mesmo admite, numa outra passa- gem, que os sicarios ou adeptos da quarta filosofia tinham uma grande dedicação pela liberdade e que, segundo eles, Deus devia ser o unico chefe e o unico Senhor (Anti- guidades Judaicas XVIII, 1,6). De mesma forma, no discurso que põe na boca de Eleazar, o ultimo chefe dos Si- carios, antes da queda da fortaleza de Mas- sadah, faz-lhe dizer: -"Ha muito tempo que resolvemos não ser mais escravos dos Romanos, nem de quem quer que seja senão do proprio Deus, que é o verdadeiro e justo senhor do gene- ro humano; eis que chegou o tempo de pôr em prática esta resolução... Nós fomos os primeiros a revoltarmo-nos contra eles e so- mos ainda os ultimos a combate-los. Não posso deixar de acreditar que Deus nos con-
N.º 034, Heshvan 5691 (Oct-Nov 1930)
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