HA-LAPID 3 ====================================== volver e restaurar a prosperidade duma terra onde outrora correra leite e mel. Protestaram contra o Livro Branco o Ex-ministro das Colonias, Churchill, Bal- dwin, Chamberlain, Amery e o general Smutz da União Sul Africana. Protestos e manifestações se realisa- ram em todas as nações onde ha grandes comunidades judaicas. No dia 17 de Novembro foi o governo trabalhista atacado fortemente por Lloyd Georg, Amery, Herbert Samuel, James Rothnhild, etc. Poucos dias depois o Governo conce- dia de novo licença para emigrarem judeus para a Palestina e mostrou desejos de ter uma conferencia com os chefes do na- cionalismo judaico a fim de estudarem uma formula de acordo. -------------- Notavel conferência SPINOSA Ha tempos o "Seculo" publicava a seguinte noticia, referente a uma confe- rência realisada no dia 26 de maio, em Lisboa: "Constituiu uma brilhante lição de filosofia a conferencia, que o snr. dr. Joaquim de Carvalho fez, no Instituto Costa Cabral, discreteando sobre Spi- nosa. A vida de Spinosa foi o comentário vivo da sua filosofia, e, mais do que isso a introdução necessária á sua filosofia por que o problema que se propôs não é puramente especulativa, mas sim um problema prático, ético-religioso. Nasceu Spinosa em 1633, filho de fa- milia portuguesa, de judeus, em Amster- dam. Seu pai chamava-se Miguel Spinosa e era natural de Vidigueira; a mãe, De- borah de Spinosa, era tambem portugue- sa, assim como a madrasta, Ester de Spinosa, de Lisboa, que o acompanhou desde a idade de cinco anos. Depois destas notas inéditas sobre o grande filosofo, disse o snr. dr. Joaquim de Carvalho que em toda a sua obra não ha um unico eco de Portugal. Apesar do meio familiar em que vivia, apesar da escola em que estudou Talmud Tora a lingua portuguesa, não ha nele o mais pequeno eco português. Aos 18 anos fez a sua formação rabi- nica, a sua preparação para o rabinato, mas a curiosidade insaciavel do seu es- pirito levou-o a procurar saber a filosofia e as sciencias do seu tempo. Van den Ende ensinou-lhe o latim, e com o dominio desta lingua aprendeu Spinosa a matematica, a fisica e a filoso- fia cartesiana, cuja influencia na sistema- tização das suas idéas foi decisiva. Afastou-se, depois da sinagoga, criti- cou a Biblia e encontrou nela contradi- ções, tendo contacto com os meios cris- tãos que reduziam ao minimo as formas dogmaticss, convertendo a religião numa atitude puramente interior. Vem depois a sua excomunhão me- nor pelos israelitas e excluido, em se- guida, da comunidade, por 30 dias, após o que é tambem excluído totalmente e amaldiçoado sendo todo e qualquer judeu proibido de todo o com ele. Só, isolado, sem apoio material nem moral, exposto a todas as hostilidades, procurou por si proprioa lei e a finalidade suprema da sua vida. Expõe o notavel conferente os cara- cteres do panteismo de Spinosa, salien- tando o acôrdo com a sciencia cartesia- na, afirmando que se trata de uma con- cepção que não identifica Deus com os objectos que nos circundam, mas com o que na natureza é estruturalmente inteli- givel. Referindo-se aos caracteres da nature- za humana segundo Spinosa afirma que a sua filosofia repudiou inteiramente a idéa do livre arbitrio. A filosofia de Spinosa é uma filosofia que pretende libertar-nos do Imperio das paixões, porém, sem sombra de ascetis- mo, e o homem livre, para Spinosa, é o homem que apetece a alegria na plena posse de si e que, em vez de pensar na morte, pensa na vida presente, na medi- da em que ela tem o seu fundamento em Deus, isto é, na vida eterna. Depois de algumas considerações so- bre a imortalidade, a eternidade e o amor intelectual de Deus, o snr. professor dr. Joaquim de Carvalho concluiu a sua bri-
N.º 035, Kieslev 5691 (Nov-Dez 1930)
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