HA-LAPID 5 =================================================== direcção de Eleazar, filho de Simon. Pediu a demls- ção do governo, que não gosava da confiança do po- vo para a continuação da guerra contra os romanos. Os zeladores insistiam para que o grande-sacer- dote não fosseo chefe do governo e que se limitasse a exercer as suas funções no Templo; por outras pa- lavras, eles pediam a separação da Igreja e do estado. O governo, diziam eles, devia ser confiado a um se- nado, a um Sanhedrin de 70 homens, eleitos pelo povo. Os zeladores, não tendo força para derrubar o governo, formaram um partldo da oposição. Este es- tado de coisas continuou até ao verão do ano 68, quando refugiados chegaram da Galilela com a noti- cia da derrota do exercito judaico, devida a traição dum representante do governo, de Joseph, que go- sava liberdade no acampamento de Vespasiano. Os zeladores, que tinham afirmado que se não podia confiar no governo a direcção da guerra, acha- ram nisto uma ocasião para apelar para o povo. Alem disto, um refugiado, Joäo de Giscalab, que era um guerreiro famoso e que tinha combatido Jo- seph na Galileia, tinha sido admitido no conselho do Governo a sua chegada a Jerusalem. Depois da pri- meira sessao, ele avisou os zeladores que o governo tinha reaolvido entregar Jerusalem aos romanos. Uma grande excitação se manifestou nas massas; descon- fiado das proprias forças, estes elementos resolveram pedir auxilio aos Idumeus, e, com a sua ajuda, der- rubaram o governo. Ananiah, o presidente, assim co- mo os seus colegas, foram mortos pelos revolucioná- rios. Um novo governo, composto de 70 homens elei- tos pelo povo, fol instaurado, como o diz Joseph- "Eles reuniram por proclamação publica 70 dos prin- cipais do povos (Guerra dos judeus, IV, V, 3). A fim de separar a Igreja do Estado e de iliminar a influen- cia dos padres, resolveram que qualquer padre de- signado pela sorte podia desempenhar o oficio de grande sacerdote. Peusavam assim destruir a grande influencia exercida sobre os judeus pelo grande sacerdote, e, ao mesmo tempo, a religiao em geral. Profanaram o Templo; Joseph acusa-os disso. Acusa-os tambem de terem abolido o antigo sistema judiciario e de ter ins- tituido, em seu logar um novo Tribunal-o Tribunal Revolucionario-sustentando que todo o cidadão po- dia ser juiz, sem preparaçäo, nem autoridade especial "... os zeladores instituiram julgamentos e tribunais irrisorios... desempenhando, como num jogo, o pa- pel de juizes, sem terem autoridade para isso" (Guer- ra dos judeus, IV, V, 4). O novo governo, formado pelos zeladores, esta- beleceu um regimen de terror contra todos os que simpatlsavam com o antigo governo ou que comuni- cavam com os emigrados. Foi verdadeiramente o rei- nado do terror. Esforçavam-se particularmente de destruir a nobresa, como diz Joseph: "eles tinham sede sobretudo de sangue dos bravos e dos nobres, massacrando estes ultimos por inveja..." (Guerra dos judeus IV, VI, 1). Joseph declara que o relato de João é mentiroso. Parece-me que se pode por em duvida a palavra de conhecendo o grande patriotismo de João e a sua de- fesa heroica da Galileia contra os romanos. Joseph o seu patriotiamo deve tê-lo incitado a dizer a verdade. O proprio Joseph-admite que se Ananiah, chefe do governo, ttvesse vencldo, chegaria a um acordo com os romanos. "Ele compreendia perfeitamente que os romanos não podiam ser vencidos." (Guerra dos judeus IV, V, 13). A psicologia do governo compreende-se facil- mente. Depois do desastre de Galileia, tinha-se per- dido toda a esperança de bater os romanos e, te- mendo a difusão das ideias extremistas na Judeia, o governo estava pronto a sacrificar algumas liberdades e a entender-se com os romanos. Julgava poder as- sim desembaraçar-se dos revolucionarios. Os zelado- res qualificavam de traição o acto do grande-sacer- dote. Joao de Glscalah, que tinha derrubado o antigo governo, partilhava a vista dos zeladores relativamen- te á luta contra Roma, mas não a sua maneira d'en- carar o organisação interior, nem particularmente os seus meios de conduzir a guerra. Nascido para comandar, compreendia que a unica maneira de ganhar a guerra contra a potencia militar de Roma era confiar o poder a um só homem, a um ditador. Os zeladores temiam toda a ditadura, por um lado e por outro receavam muito que João quizesse estabelecer uma monarquia. (Guerra dos judeus, IV VII,1). Foi o começo duma guerra civil entre os dois partidos: os zeladores sob o comando de Eleazar, fi- lho de Simon e os partidarios de João. Eleazar, impotente para destruir as forças de João, pediu auxilio aos sicarios, conhecidos pela sua oposição a toda a soberanis. Com a chegada dos sica- rios, sob o comando de Simon. filho de Giscalah, a guerra civil tornou-se ainda mais furiosa. Os sicarios, inimigos de João, tambem não estavam satisfeitos com os zeladores, que não eram bastante radicais. As- sim se travou a grande guerra civil de Jerusalem, que conduziu a destruição da cidade e ao incendio do Templo Com a conquista de Jerusalem pelos romanos, a seita da Quarta Filosofia foi destruida e ela nunca mais reapareceu entre os judeus. Os fariseus que for- mavam o grosso da nação, retiraram-se para Jamniah e colocaram o Judaismo em bases solidas, e fizeram dele o organismo vivo que persistiu até aos nossos dias. Os revolucionarios politicos não renunciaram de nenhum modo as suas esperanças. As brazas ainda quentes inflamaram-se numa nova conflagração sob o reinado do Imperador Adriano; ela levou os judeus a uma maior ruina ainda. Os apocalipticos que não tinham tido aderentes antes da Revolução, dividiram-se, durante o seculo que prendeu a destruição do Templo, em varias fac- ções. A principal foi a dos cristãos, que julgavam ter vindo o Messias na pessoa de Jesus de Nazareth, cru- cificado sob Poncio Pilatos para reaparecer um dia em toda a sua gloria e julgar o mundo. Os cristãos dividiam-se em cristãos judeus e cris- tãos gentios. Estes ultimos eram internacionalistas, que admitiam que aquele que acreditasse em Jesus seria salvo. Os cristãos, que partilhavam, respeitante a egualdade dos homens, os principios dos sectarios da Quarta Fllosofia, distinguiam-se de estes pelos me- todos que empregevam para chegarem aos seus fins. Durante a Revolução, enquanto o espirito nacional judaico atingia a sua maior intensidade, estes cris- tãos pacifistas pregavam a não-resistencia e refugia- ram-se em Pelah para salvarem as vidas. Depois da conquista de Jerusalem pelos Romanos e o incendio do Templo os judeus ficaram impotentes sab a tirania dos seus opressores pagãos.
N.º 035, Kieslev 5691 (Nov-Dez 1930)
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