8 HA-LAPID ========================================= Graciosa Homenagem No dia 18 de Dezembro para comemo- rar o aniversario natalicio do Sr. Capitão Barros Basto, os Talmidim (seminaristas) da Yeshibah Rosh Pínah (Instituto Teolo- gico Israelita do Porto) resolveram organi- sar uma festa de homenagem ao seu Di- rector. Ea noite desse dia os Talmidim foram a casa do nosso Director sauda-lo entoando cantos hebraicos e convidaram-no a ir à Yeshibah. Na sala principal do instituto, que se achava engalanada com colchas de damasco e bandeiras sionista, portuguesa, francesa, inglêsa e norte-americana reali- sou-se o sarau com o seguinte programa: Ha-Tikvah (Hino Nacional Judaico), cantado em hebraico pelos Talmidim e acompanhado a orgão por M lle Broustein. Terminado o hino que foi ouvido de pé pela assistência, o Talmid Levi Rafael Henriques, de Belmonte subiu á tribuna e dirigindo-se ao Sr. Capitão Barros Basto, proferiu as palavras seguintes, plenas de emoção: "Ex.mo Snr. Capitão: Não podem os judeus portugueses es- quecer que V. Ex.a quem atravez de todas as dificuldades e de todos os sacrifícios su- portando tantos dissabores e tantas malque- renças nos ligou de novo, e nos mostrou que publicamente podemos patenter a nos- sa fé. Foi V. Ex.a que nos procurou aqui, e ali despersos, cheios de medo, ainda de que voltassem êsses tristes tempos em que os nossos avós foram perseguidos e tortu- rados, para nos dar a boa nova de que em o nosso Portugal outra aurora raiava, e ao calôr dela nós podíamos aquecer, sem re- ceio. Foi V. Ex.a pelo seu esfôrço, e pelo seu acrisolado amôr ao povo sacrificado, pela sua crença em Adonai, ao nosso bom Deus, ergueu estes muros, onde temos a Arca Santa, onde veneramos a Santa Lei de Deus. Em nome pois dos meus compa- nheiros, destes a quem V. Ex.a tributa des- velado afecto e ministra a instrução que nos fará amanhã continuadores da obra dos nossos antepassados, pregadores intemera- tos da Lei de Moisés, em nome destes seus filhos adoptivos, venho pedir a V. Ex.a que nos aceite esta pequenina festa como pe- nhor da nossa profunda gratidão. E' pe- quenina, é modesta mas foi o nosso cora- ção que a fez, e por isso é cheia de since- ridade, e de amor. Ex.mo Snr. Capitão: Que V. Ex.a assista por muitos anos a festas como a que hoje lhe dedicamos, e que todos os judeus portugueses lhe agra- deçam como nós o bem que lhes tem feito, é o que pedimos ao bom Deus de Israel." Terminada esta saudação com uma sal- va de palmas, o Talmid Yomtob Rodrigues recitou em hebraico Azor-I akhaberekha (do Talmud) e o Talmid Judah Benjamim Branco recitou a sua tradução em lingua portuguesa. Egoismo infantil, poesia dita por Elieser de Sousa Chicha, de Penamacor; Amel e Penor, por Tobiah Diogo, de Belmonte; Sofrimenios, por Joseph Lopes; Boas-noi- tes, por Johanan Santos; A casa do cora- ção, por João Lopes, de Bragança. Todos foram muito aplaudidos. Então foi cantada Ha-Tikivah em portu- guês pelos Talmidim. Findo este canto o veneravel Rabbi Barud Ben-Jacob subiu á Tribuna e produ- ziu um belo darush em lingua sephardy (Judeo-iberica) associando-se á festa sali- entando o esforço do homenageado que comparou a Judah Macabeu. Então o capitao Barros Basto proferiu palavras de agradecimento e incitou os presentes a que sempre celebrassem com brilho a festa de Hanukah, que tratando-se duma restauração deve ser para os maranos a festa predileta pois tambem pelas suas vontades se restaura em Portugal o culto da Suprema Unidade. Em seguida o home- negeado abraçou os Talmidim enquanto a assistencia o cobria de aplausos. Terminou a festa com um chá elegante servido na sala da aula pelas gentis damas da Comunidade bem como um Porto d'honra onde se trocaram amaveis brindes. Foram recebidos numeros telegramas de felicitações enviados por judeus mara- nos de Bragança, Porto, Covilha, Belmonte, e Penamacor e Coimbra.
N.º 035, Kieslev 5691 (Nov-Dez 1930)
> P08