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Ha-Lapid הלפיד


N.º 039, Sivan 5691 (Mai-Jun 1931)







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 6                HA-LAPÍD
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curso aos seguintes termos, e que foi muito
aplaudido:

Minhas senhoras e mens senhores:

Ha factos, ha epocas, ha (datas, que: jamais devem
ser esquecidas; ha homens, ha nomes, ha mestres que
tambem devem ser lembrados com muito carinho,
muita estima e muita admiração.

Recordar tudo e todos os que teem trabalhado
para o progresso da nossa religiao, unindo os velhos
judeus ou seus descendentes, pregando a sua liberta-
ção e difundindo os seus preceitos, é um dever de
todos aqueles que tem amor á velha religiao de seus
avós, a quem nem a ameaça, nem, a tortura, nem a
morte souberam pagar a sua crença sincera e pura.

No tempo dos monarquicos em que os vassalos
eram meramente coisas ao dispor do seu rei; no
tempo em que os homens eram deixados de pais a
lilhos como se fossem elementos dum rebanho ou
moveis duma casa; no tempo em que os que deviam
ser nobres desciam á baixeza de ser esbirros, e o povo,
desgraçado, pobre e ignorante, era apenas lenha das
fogueiras ou montes de podidrão dentro dos carceres;
nesses tempos fomos nós os juideus os mais mal-
aventurados. Não nos deixavam cultivar terrenos,
viviamos separados em bairros, e sugeitavam-nos a
ser míseros; e quando alguma epidemia arrasava eram
os judeus as vitimas expiatórias que tinham de ser
torturadas, expoliadas e queimadas para aplacar as
furias desse deus Moloch que tem assento em Roma;
quando algum fenómeno natural se dava, a ignorancia
cio povo chamava-lhe milagre, e se alguem mais
ilustrado tentava destruir essa supertição, eram ainda
os judeus os infelizes que tinham de suportar as
bravezas do povo fanático e a ferocidade dos canibais
tonsurados.

Pobre povo! Miseravel tempo.

Que nos restava então? Fugir ou esconder. Os
que podiam recolhiam-se ao primeiro navio que
passava, agachando-se no porão com receio de que
fôssem ainda ai os familiares tigrinos da Inquisição,
sofrendo o folego, reprimindo as lagrimas e supor-
tando as dôres, até que êsse berço hospilaleiro ba-
louçasse longe da terra das fogueiras, dos Potros e
das polés, e pudessem na coberta respirar ávidamente
o oxigênio da liberdade, chorar a saudade da terra em
que tinham nascido, mitigar as dores das amarguras
bem sentidas.

Olhavam o ceu, e lá, muito longe, nos paramos
do infinito ecoavam os seus Cânticos a Adonai por
lhes ter dado êsse reliigto em meio de tantos sofri-
mentos. E imploravam do bom Deus de Israel a mi-
sericordia para o mesmo povo que tanto os tinha
feito sofrer e até para os algozes dos seus pais e sem
irmãos.

E os que não puderam fugir? Esses correram como
animais acossados pelas feras a esconder-se nos mon-
tes onde as intempérias do tempos, as inclemências
das tempestades e os horrores da fome, eram mais
benignos e mais humanos do que os corações dos
inquisidores e dos seus esbirros e familiares. Dor-
miam mais tranquilos nas cavernas do lobo e do lince
do que nas caras onde a toda a hora o sobressalto os
acordava temendo o bater da aldrava ou o mandato
de captura.

Mas felizmente êsses tempos vão longe e nós

 

hoje podemos cantar Hossanah a Adonai dentro do
nosso templo, dentro da nossa Sinagoga.

Faz hoje precisamente um ano que a primeira
pedra, a pedra basilar, aqui foi colocada para sobre
ela se erguer o monomento que vedes.

Foi a dedicação, foi o esforço, foi a tenacidade
dum só homem que tudo isto fez. Não descansar
não esmorecia, não tergiversava; seguia a sua rota
uma esteira de luz, pois o guiava um bom timoneiro
-era o seu amor ao bom Deus de israel.

Este foi de terra em terra, de povo em povo, de
casa em casa procurar os seus irmãos; êle pediu a
todos para que o ajudassem na sua tarefa; êle criou o
Instituto Israelita, ele estudou e ensinou; êle eu fez
uns cânticos, êle fez o nosso hino de redenção, ele
imprimiu livros, e por fim pôde ver realizado parte
do seu Sonho de sempre. E' preciso que todos o aju-
dem na sua obra. Está começada, convem acaba-la

Esse homem a quem nós os judeus tanto devemos
está ali. A Deus o nosso Hossanah, ao Snr. Capitão
Barros Basto o nosso sincero preito de gratidão.

Minhas senhoras e meus senhores !

No tempo de Salomão, sôbre a porta sublime
estavam gravadas estas palavras:

E', Foi e Será.

Escrevamo-las nós tambem na Sinagoga do nosso
coração, e interpretemo-las assim:

E', Foi e Será Deus a quem devemos sempre amar
e venerar.

E', Foi e Será o Snr. Capitão Barros Basto a quem
devemos o nosso Templo, a nossa União, a nossa
plena liberdade.

Que as bençãos de Deus o envolvam e a toda a
sua Ex.ma Familia.
   Disse.



Recitaram a Judia os talmidim Yomtob
Rodrigues de Belmonte e Eliezer de Sousa
Chicha de Penamacôr. Uma aria para tenor
por Levi Rafael Henriques de Belmonte.
Vou recitar por Johanan Santos de Bragança
A chorar por Ionathan Lopes. Balada da
Neve por Samuel Braz Rodrigues. Foram
todos muito aplaudidos. Findo os recitativos
subiu á tribuna o Exmo Snr. Capitão Bar-
ros Bastos que com palavras bem frizantes
recordou o dia de ontem com amargura e
comoção bem sentida: A Inquisição, a Es-
pulsão. E o dia de hoje pelo renascimento,
constante: A Libertação e o Reaparecimento.
Por fim pediu a todos os presentes a que
guiassem os amedrontados, (tementes ao
tempo primitivo) á Mekor H'aim. Ao fim os
talmidim entoaram o Hino Nacional Hebraico
que a numerosa assistencia ouviu de pé em
sinal de respeito e veneração.

Entre a assistencia notavam-se varias
familias judias-maranas, que neste dia iam
ali pela primeira vez.


 
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