6 HA-LAPÍD ================================================ curso aos seguintes termos, e que foi muito aplaudido: Minhas senhoras e mens senhores: Ha factos, ha epocas, ha (datas, que: jamais devem ser esquecidas; ha homens, ha nomes, ha mestres que tambem devem ser lembrados com muito carinho, muita estima e muita admiração. Recordar tudo e todos os que teem trabalhado para o progresso da nossa religiao, unindo os velhos judeus ou seus descendentes, pregando a sua liberta- ção e difundindo os seus preceitos, é um dever de todos aqueles que tem amor á velha religiao de seus avós, a quem nem a ameaça, nem, a tortura, nem a morte souberam pagar a sua crença sincera e pura. No tempo dos monarquicos em que os vassalos eram meramente coisas ao dispor do seu rei; no tempo em que os homens eram deixados de pais a lilhos como se fossem elementos dum rebanho ou moveis duma casa; no tempo em que os que deviam ser nobres desciam á baixeza de ser esbirros, e o povo, desgraçado, pobre e ignorante, era apenas lenha das fogueiras ou montes de podidrão dentro dos carceres; nesses tempos fomos nós os juideus os mais mal- aventurados. Não nos deixavam cultivar terrenos, viviamos separados em bairros, e sugeitavam-nos a ser míseros; e quando alguma epidemia arrasava eram os judeus as vitimas expiatórias que tinham de ser torturadas, expoliadas e queimadas para aplacar as furias desse deus Moloch que tem assento em Roma; quando algum fenómeno natural se dava, a ignorancia cio povo chamava-lhe milagre, e se alguem mais ilustrado tentava destruir essa supertição, eram ainda os judeus os infelizes que tinham de suportar as bravezas do povo fanático e a ferocidade dos canibais tonsurados. Pobre povo! Miseravel tempo. Que nos restava então? Fugir ou esconder. Os que podiam recolhiam-se ao primeiro navio que passava, agachando-se no porão com receio de que fôssem ainda ai os familiares tigrinos da Inquisição, sofrendo o folego, reprimindo as lagrimas e supor- tando as dôres, até que êsse berço hospilaleiro ba- louçasse longe da terra das fogueiras, dos Potros e das polés, e pudessem na coberta respirar ávidamente o oxigênio da liberdade, chorar a saudade da terra em que tinham nascido, mitigar as dores das amarguras bem sentidas. Olhavam o ceu, e lá, muito longe, nos paramos do infinito ecoavam os seus Cânticos a Adonai por lhes ter dado êsse reliigto em meio de tantos sofri- mentos. E imploravam do bom Deus de Israel a mi- sericordia para o mesmo povo que tanto os tinha feito sofrer e até para os algozes dos seus pais e sem irmãos. E os que não puderam fugir? Esses correram como animais acossados pelas feras a esconder-se nos mon- tes onde as intempérias do tempos, as inclemências das tempestades e os horrores da fome, eram mais benignos e mais humanos do que os corações dos inquisidores e dos seus esbirros e familiares. Dor- miam mais tranquilos nas cavernas do lobo e do lince do que nas caras onde a toda a hora o sobressalto os acordava temendo o bater da aldrava ou o mandato de captura. Mas felizmente êsses tempos vão longe e nós hoje podemos cantar Hossanah a Adonai dentro do nosso templo, dentro da nossa Sinagoga. Faz hoje precisamente um ano que a primeira pedra, a pedra basilar, aqui foi colocada para sobre ela se erguer o monomento que vedes. Foi a dedicação, foi o esforço, foi a tenacidade dum só homem que tudo isto fez. Não descansar não esmorecia, não tergiversava; seguia a sua rota uma esteira de luz, pois o guiava um bom timoneiro -era o seu amor ao bom Deus de israel. Este foi de terra em terra, de povo em povo, de casa em casa procurar os seus irmãos; êle pediu a todos para que o ajudassem na sua tarefa; êle criou o Instituto Israelita, ele estudou e ensinou; êle eu fez uns cânticos, êle fez o nosso hino de redenção, ele imprimiu livros, e por fim pôde ver realizado parte do seu Sonho de sempre. E' preciso que todos o aju- dem na sua obra. Está começada, convem acaba-la Esse homem a quem nós os judeus tanto devemos está ali. A Deus o nosso Hossanah, ao Snr. Capitão Barros Basto o nosso sincero preito de gratidão. Minhas senhoras e meus senhores ! No tempo de Salomão, sôbre a porta sublime estavam gravadas estas palavras: E', Foi e Será. Escrevamo-las nós tambem na Sinagoga do nosso coração, e interpretemo-las assim: E', Foi e Será Deus a quem devemos sempre amar e venerar. E', Foi e Será o Snr. Capitão Barros Basto a quem devemos o nosso Templo, a nossa União, a nossa plena liberdade. Que as bençãos de Deus o envolvam e a toda a sua Ex.ma Familia. Disse. Recitaram a Judia os talmidim Yomtob Rodrigues de Belmonte e Eliezer de Sousa Chicha de Penamacôr. Uma aria para tenor por Levi Rafael Henriques de Belmonte. Vou recitar por Johanan Santos de Bragança A chorar por Ionathan Lopes. Balada da Neve por Samuel Braz Rodrigues. Foram todos muito aplaudidos. Findo os recitativos subiu á tribuna o Exmo Snr. Capitão Bar- ros Bastos que com palavras bem frizantes recordou o dia de ontem com amargura e comoção bem sentida: A Inquisição, a Es- pulsão. E o dia de hoje pelo renascimento, constante: A Libertação e o Reaparecimento. Por fim pediu a todos os presentes a que guiassem os amedrontados, (tementes ao tempo primitivo) á Mekor H'aim. Ao fim os talmidim entoaram o Hino Nacional Hebraico que a numerosa assistencia ouviu de pé em sinal de respeito e veneração. Entre a assistencia notavam-se varias familias judias-maranas, que neste dia iam ali pela primeira vez.
N.º 039, Sivan 5691 (Mai-Jun 1931)
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