profanaram a sua dignidade que era sagrada desde Aarão o primeiro da sua raças: Enfim os seus pecados eram tão grandes que um autor cristão diz que Deus tem sempre o chicote levantado sôbre Israel, que ele o puniu sempre da sua cólera desde que saiu da Ba- bilônia até que o Imperador Titus o destruiu enfim. José conta as inimisades, os assassinatos, os furtos e os incestos que os filhos de Israel cometeram enquan- to que possuiram o 2.° Templo; um Soberano sacri- ficador imolava seu irmão neste edifício sagrado, uni outro vendia a dignidade sacrificador, um outro afo- gava-se em vinho, o Soberano Pontífice e todos sole- nisavam as maiores festas esganando-se uns aos ou- tros no Templo. Eis ali a temor de Deus, eis ali a san- tidade que trouxeram da Babilónia. Endurecidos no seu crime obrigaram o Senhor a ressuscitar-lhes os Romanos para os destruir, como Moisés lhes tinha prometido no Deuteronômio. Que os autores cristãos digam-se são êstes os efeitos-da redenção prometida na lei e nas Profecias. A terceira circunstância da redenção que se vão saberia aplicar à volta da Babilônia. é que os filhos de Israel devem morar perpetuamente na terra Santa ande Deus lhes prometeu um repouso e uma tranqui- lidade de que não gosaram desde o seu primeiro cati- veiro. Ele retirará das suas mãos o vaso da sua colera para o fazer beber ás nações nas quais êles dormirão eternamente e serão cheios de glória do Senhor, sua sabedoria, os seus bons habitos, da exacta observação de tôdos os seus divinos preceitos não produzirão somente o perdão mas o esquecimento dos seus peca- dos e de tôdos os seus crimes, e segundo a Profecia de Zacarias subirão todos os anos para se humilhar deante do Senhor dos exercitos e para a festa dos Ta- bernaculos. O regresso da Babilônia produziu efeitos comple- tamente contrários: apenas Ciro lhes permitiu edificar o Templo logo o seu filho Cambises revogou a ordem e proibiu-lhes esta defesa produziu funestos efeitos: os Arabes e as outras nações Visinhas aproveitaram a ocasião para a permissão de edificar o Templo, dois jovens judeus que sairam de Jerusalém encontraram este Profeta e lhe disseram que os males e as misérias que sofreram eram insuportáveis e os obrigavam à fuga que se não podia exagerar suficientemente os tormentos que os israelitas suportavam, que se tinham queimado as portas da sua cidade, derrubadas as mu- ralhas, e que os levavam todos os dias cativos. Os Reis da Persia e da Caldea de que eles foram subdi- tos na fuga trataram-nos como escravos, até que Alexandre o grande lhes restituiu a sua liberdade por intermédio do grande sacrificador Jadus que lançan- do-se a seus pés teve a satisfação de obter o poderem viver com mais repouso. Os Gregos continuaram a persegui-los, furtaram- lhes a cidade de Jerusalem, profanaram o Templo e proibiram sob a pena de morte o exercicio da sua religião. Durante o reinado de Antiocho os bravos Machabeos livraram-os em parte dum jugo tão pesa- do deixando-os no entanto sugeitos a diversos Prin- cipes até que os romanos os tomaram sob a sua pro- teção, para os entregar na continuação tributária é en- fim para os destruir e lhes fazer experimentar todas as infelicidades de que não tinham podido libertar-se até ao presente. Eis que foi a redenção da Babilônia que os cristãos pretendem ser aquela que o Senhor prometeu ao seu povo. Eis a liberdade de que deve gosar perpetuamente sem perturbação, sem inquieta- ção e sem estar submetido ás nações. Eu queria saber porque artifício, porque sofismas os Doutores que sustentam uma opinião tao pouco provavel, poderão persuadir aos espiritos mais crédulos que as promes- sás de Deus se muitas vezes repetidas nesta redenção são cumpridas, ainda que não tenha uma das circuns- tancias necessárias para as tornar verosimil. Os auto- res que não podem desconvir desta verdade, procuram obscurecer por outros subterfugios tambem frivolos. Eles supõem três Jerusalens, três Siões e dois Israeis. Uma Jerusalem terrestre que é a que foi construida no regresso da Babilônia, uma Jerusalem militante que é a Igreja cristã e uma Jerusalem triunfante que é o ceu e a glória onde estão colocados os bemaventura- dos. Uma Sião ou Templo terrestre que e' o que se construiu em Jerusalem, um Templo vivo que são os cristãos e um Templo celeste que é o Empireo e o Sião das almas gloriosas. Um Israel corporal que é a descendencia do Patriarca Abraão e a sua posteri- dade, um Israel espiritual composto de todas as na- ções do mundo e convertido à lei cristã. Tal é a base e o fundamento solido sobre qual os cristãos fundam a sua lei; é por estas admiraveis distinções que êles explicam os Profetas, e comentam com tanta confusão como improbilidade todas as passagens da escritura santa. De qualquer maneira que os seus autores pos- sam explica-lo, pregam no com tanta audácia que a sua aplicação seria incontestavel. O que não podem aplicar à Jerusalem terrestre é então adaptado a Jeru- salem militante: importa-lhes pouco que a escritura fale em termos expressos da casa de Jacob e de Juda, querem que a lei à falta de razão persuada o que elês dizem; e usam da mesma maneira para convencer os espiritos crédulos ou que são completamente destitui- de conhecimenos, que o texto sagrado designa a Je- rusalem triunfante quando não sabem que é a mili- tante. Se é Israel que é chamado nas passagens que citam, é o espiriual; as nações que abraçaram a reli- gião cristã e não a corporal, isto é a descendencia de Abraão ou os Judeus. Se o texto sagrado diz que Is- rael e Juda voltarão à terra que seus pais herdaram para a possuir eternamente, pretendem que esta terra é a glória e que aqueles que conheceram o Messias são Israel e Juda. As guerras e a destruição de que fala o Profeta deve tomar se tambem metaforicamente. Deve acreditar-se para comprazer-lhes que é uma ba- talha dos impios contra os justos, do vicio contra a virtude; o Templo sagrado que o Senhor promete em Ezequiel, a descrição que o Profeta faz dos coros, praticos e compartimentos deste Templo são as di- versas ordens de Padres, de monges e de religiosos, os Abades, os Bispos e os Cardiais que nós vemos hoje entre os Católicos: enfim para se distanciar de tudo o que prova evidentemente a promessa de Deus para persuadir que todas as Profecias são cumpridas, confundem o ceu com a terra, a terra com a glória, a cidade santa com o conjunto dos cristãos, Israel, Ja- cob e Juda com os pagãos, as desordens da guerra com a oposição espiritual dos vícios contra a virtude, o Templo completamente material que é com a salva- ção das almas ou com a religião que professam e etc. Fundam-se em todas estas explicações absurdas e ri- dículas nas palavras de Sam Paulo que diz que a luta mata e que o Espirito vivifica, e concluem daí que não é preciso por consequência ligar-lhes o sentido li- teral da santa escritura, mas servir-se do sentido es- piritual; mas todas estas vãs distinções podem mais passar por jogos de espirito de que por raciocinios capazes de provar a verdade dos seus sentimentos; nada e mais oposto ao bom senso que dizer que não é preciso ler nem entender o que está escrito, mas o que se quere que aquelas palavras significam: o que deve certamente autorisar os Ateus que explicam a lei e os Profetas como querem para justificar as suas opi-
N.º 046, Shebath-Adar 5692 (Jan-Fev 1932)
> P03