2 HA-LAPID ======================================= D. Floriana, essa só aparentemente abjurou da religião em que nasceu, para -dizia ela-não servir de obstáculo ás conveniências do marido, Ouvi-lhe esta confissão várias vezes, confissão que ela se encarregava de confirmar pela mais beata e mais supersticiosa atitude que se possa imaginar. Filha legitima duma espécie de esbir- ro, odiava o nome judeu; se estivesse na sua mão, os judeus todos da Holanda iam parar ao queimadeiro. D. Floriana morreu sem deixar filhos, portanto, sem ter a honra de ser a mãe do anticristo. Da "Recreação Periódica" o o o Uma entrevista com Emil Luwing Perfil regular, olhos claros, alternada- mente pensativos ou penetrantes, fonte de profundo pensador, assim nos aparece o primeiro estoriador da nossa época, no dia seguinte á conferencia que recentemente fez em París. Conhece-se a prodígiosa fecundidade do homem que escreveu nalguns anos: Goethe, Napoleon, Guillaume II, Le mond tel que je l'ai vu, e recentemente Les Entretiens avec Mussoline, não citando algumas das suas obras que a critica inglesa comparou por vezes ás obras de Carlyle ou de Macambay. Não se tem esquecido tampouco que, de familia judia convertida ao cristianismo, Luwing proclama altamente as suas origens numa hora trágica da Historia dos Judeus de Alemanha. Podemos interrogar o grande escritor e obter dêle algumas opiniões pessoais sobre a situação dos judeus pelo mundo e parti- cularmente na Palestina. -Que pensa da situação dos Judeus sob o regimen fascista ? --E' muiio próspera, nenhuma diferença é feita entre êles e os outros cidadãos. Al- guns ocupam até cargos oficiais. -Posso preguntar-lhe se me permite in- terpretar uma frase que se encontra nos En- tretiens avec Mussolini, frase à qual se tem dado interpretações diversas? -De qual se trata ? -Daquela onde o Duce afirma que as raças têm um mérito vão e que o individúo pode livremente escolher uma de entre elas, argumento do qual se tira a seguinte con- clusão: "Bem! eu escolhi o Mediterraneo e tenho Nietzche por grande aliado." Deve-se no Mediterraneo englobar a ra- ça semitica? -Mas sem duvida alguma, eu tenho dum lado, inclinação para a raça judaica, e de outro lado, quiz participar que os meus gostos e a minha cultura reclamam do Me- diterraneo, e que a minha gratidão adquiriu. Nitzeche tinha as mesmas ideias. -Ele tem efectivamente vivido sob o ceu da Italia. -Certamente. E como eu amo esta luz mediterranea, aquela que eu vi depois dos 25 anos sobre as margens do Lago Maior. -Creio que o Snr. é partidário do sio- nismo? -Tenho-o sempre defendido ardente- mente, e encontro-me assim em contradição comigo mesmo, porque eu, internacionalis- ta, defendo um movimento resolutamente nacionalista! Mas os sentimentos aqui de- vem sobressair aos principios, e eu sofri uma impressão que não pode ser esquecida no curso da minha viagem na Palestina, vendo a felicidade dos miseraveis exilados da Europa Oriental. Nada, na verdade,é mais comovente que esta ressurreição. -Há muito tempo que esteve na Pales- tina? -Três anos. Encontrava-me lá no mo- mento dos Sangrentos acontecimentos de Hebron e tive, depois do alvoroço, uma discussão com o grande-mufti, mas quando eu lhe preguntei: "Enfim, porque não con- denou publicamente os árabes instigadores do movimento ?" Ele ergueu-se e disse-me gravemente: "Desculpai-me é a hora da oração... -Não poderia mais habilmente esqui- var-se a uma resposta delicada ! -Visitou o Snr. a Universidade? -Sim, fiz lá mesmo uma conferência. Não estava ainda muito florescente para a época, mas está hoje bastante mais prós- pera. E que esplendida vista existe sobre toda a Transjordania!
N.º 052, Tabet 5693 (Jan 1933)
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