HA-LAPID 5 ======================================== Não tomou nenhuma esposa. Havia pen- sado desposar a filha do seu mestre Van den Ende. Estava desgostoso, mas a sua ciência e o seu espírito haviam-no seduzido. Foi o condiscipulo de Espinosa, Kerkring de Hambourg, que se casou com ela. Espinosa era duma constituição fraca. Sofreu a tisica darante os ultimos vinte anos da sua vida. Sentindo vir a hora suprema, olha a morte intrépidamente. Entregou a alma a Deus a 21 de Fevereiro de 1677, tendo á sua cabeceira o seu amigo Louis Meyer. Foi-se embora aos 44 anos. A sua Etica não apareceu senão depois da sua morte. Não se reconheceu o valor de Espinosa senão no fim do século XVIII. Desde então a sua influência não cessa de crescer. Ela é exercida. notavelmente, sobre Le- mirg, Tichte, Shellíng, Hegel, Schleierma- cher, Goethe, Renan, Taine. * * * Depois desta escassa biografia, resta-me dar algumas indicações sobre as suas prin- cipais conseções. No seu Tratado Teologi- co-politíco não ataca a sua crença, mas sim o fanatismo. Apoia a verdadeira religião contra as desfigurações. Filosofia e Teolo- gia são independentes uma da outra, por- que elas apontam as verdades da natureza diferentemente. A Revelação ocupa-se da disciplina moral, do amor de Deus e dos homens; deixa livre as especulações e as crênças. Em matéria de interpretação foi um dos percursores da critica cientifica. Não fazia senão retomar o metodo de interpretação natural dito Peschat, pratica- da anteriormente por Raschi, Rambam. Abraham ibn Ezra. Estabelece três facul- dades de conhecer: a imaginação, a razão e a intuição. A maior realidade é a substancia que é infinita, quere dizer única, que existe neces- sáriamente, e por amor de si, Deus. Sendo infinito, Deus tem aspectos ou atributos in- finitos. Sómente conhecemos dois destes: o pen- samento e o entendimento. Estes atributos sendo infinitos não podem constituir sêres finitos, os quais são devidos a modificações dos seus atributos, que Espinosa chama "Modos". Estes modos produzem os sêres indivi- duais dos quais cada um tem como dispo- sição intima o esforço para perseverar no seu ser. Deus, enquanto substância infinita, é chamado "natura-naturante"; enquanto que êle é uma questão com os modos, é dito "natura-naturada". A essência é o principio da vida ema- nente nos sêres, o ser no que tem de per- manente e de próprio. A ideia da Lei aproxima o finito do in- finito. A alma humana, infinita pela ideia de Deus, compreende pela consciência a vida universal que se manifesta nela O bem supremo e o conhecimento de Deus, nossa salvação e nossa bemaventurança consistem num amor constante por Deus. Conhecendo por uma espécie de necessidade eternal, a consciência de si próprio de Deus e das coisas jámais o sábio cessa de ser, asse- gura para sempre a veçadadeira paz da alma. A alma humana não pode acabar inti- mamente com os corpos; resta dela alguma coisa de eterna. Há necessáriamente em Deus uma ideia que exprime a essência do corpo humano e esta ideia é necessariamente alguma coisa que se liga à essência da alma. Tais são, rapidamente resumidas, a vida e a filosofia de Espinosa que é toda junta uma das mais altas figuras morais, um dos maiores géneros do pensamento, uma das consciências mais profundamente religiosa da qual pode orgulhar-se o judaismo e a humanidade. Pregunta-se como podem acusa-lo de ateísmo, êle que tem inergicamente protes- tado contra esta exprobação, que vê tudo em Deus, que está ínebriado de Deus. Tudo tem feito no espirito do judaismo, combateu o fanatismo, o antro-pomorfismo, por meios livrar a religião pura, desinteres- sada, levantando-se, num entusiasmo fer- vente e que estremesse, ao amôr intelectual de Deus, á prática da virtude pela sua per- feição própria, encontrando no supremo co- nhecimento, na plenitude de intuição ra-
N.º 052, Tabet 5693 (Jan 1933)
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