HA-LAPID 3 ===================================== -Quer falar-me da questão judaica na Alemanha? -Que poderei eu dizer-lhe, eu, sobre o antissemitismo alemão? Não ignora que sai do meu país. -Está bem, não foi o assassinato de Rathenau que o decidiu a voltar ao judaís- mo? -Efectivamente. Eu fui batisado hà 20 anos, por morte do meu amigo Walter Rathe- sau, covardemente abatido pelos antisse- mitas, resolvi fazer acto de solidariedade e, alguns dias mais tarde, eu abandonava a igreja cristã oficialmente, para mostrar que queria partilhar na tormenta a sorte da raça da qual venho. Que acrescentar mais? A elevação dum tal acto é bastante elo- quênte para êle próprio se abster de co- mentários, e este não é certamente uma das mais pequenas glórias do judaismo que pode reivindicar homens dum tal valor. Traduzido de "L'Univers Israelite". o o o O tricentenário de Espinosa Acabava-se de comemorar em Haia o tricentenário do nascimento de Espinosa. Todos os que tem no coração o amôr de espiritualidade no seu sentido mais ele- vado, associam-se á homenagem rendida aquele que foi um pensador profundo e um santo verdadeiro. "A sua serena e tranquila grandeza. escreve J. Freudenthal, devia exercer um encanto irresistível sobre todos os que eram capazes de apreciar a firmeza de alma e a nobreza de coração. A vida de Espinosa oferece entre as convicções, as doutrinas e os actos um acôrdo tal que a história da filosofia não conhece. O judaismo deve orgulhar-se com Espino- sa: pertence-lhe pelo seu nascimento, sua pri- meira educação, sua vontade formal de não se converter ao cristianismo, suas virtudes intelectuais e morais, os principios profun- dos da sua filosofia. A Burg. que pretendia convencê-lo ao Cristianismo, respondeu exaltando os márti- res de Israel, "o quê, diz, sabendo sofrer com uma força de alma singular. Aqui sou eu próprio testemunha da sua sinceridade." Numa carta, declara que afirmar que Deus se transformou em homem parece-lhe tão contraditório como afirmar que o cir- culo pode tomar a fórma dum quadrado! Denunciado pelo professor do ateísmo, escreveu a Ovsten: "Ora essa! eu lhe pre- gunto, terá regeitado toda a religião, aquele que tem como principio que Deus é o so- berano, assim como é necessário ama-lo de toda a nossa alma livre? E que lá se encon- tram a nossa suprema felicidade e a nossa maior liberdade. Que a recompensa da vir- tude é a prória virtude, que se deve amar o próximo comp a nós mesmo e obedecer á soberania do Poderoso. Ora, não sómente afirmei tudo isto for- malmente, mas tambem aprovei com as mais fortes razõesx Baruch de Espinosa nasceu em Amster- dam a 24 de Novembro de 1632. Seu pai, Miguel. veio de Portugal, de Figueira perto de Coimbra. Sua mãe chamava-se Anna Déborah Ti- nha duas irmãs, Rebeca e Miriam. Era de pequena estatura, tinha os traços fisionómicos finos, a tez mate, os cabelos pretos e frisados, os olhos pequenos, pretos e vivos. uma fisionomia agradável, o tipo português. Instruiu-se nos estúdos biblicos e rabi- nicos, aprendeu o latim e o grego. Os escritos dos teologístas judeus Mai- monide. Hasday Crescas, Abraham ibn Ezra, Gersonide, produziram sôbre êle uma duradoura impressão. Nós possuimos a lista dos livros da sua biblioteca. Entre outras obras assinalamos o Moréh de Maimonide. os Dialoghi di Amore de Leon o Hebreu, o Séfer Tabnit dechal de Jacob Juda Aryé, o Taaloumôth Ihokhma de Joseph Kimki, o Schiérith Yocef de Jo- seph ben Schemtob, o Panim Hadasehoth de Isaac ben Hajim Yessouroun, l'Espéran- ce d'Israel de Manassé ben Israel. Mas foi sobretudo Descartes que exer- ceu sobre êle a mais profunda acção. Espinosa regeita o principio de autori- dade, emite duvidas sobre a autenticidade das Escrituras. As suas opiniões criaram-lhe inimigos. Es-
N.º 052, Tabet 5693 (Jan 1933)
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