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N.º 052, Tabet 5693 (Jan 1933)







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N.° 52                              PORTO - Tabet de 5693 (Janeiro 1933 e. v.)                        ANO VII
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Tudo se ilumina                     _______  ___  _______ |=|____  _______                    ...alumia-vos e
para aquele que                    |____   ||_  ||  ___  ||____  ||_____  |                   aponta-vos o ca-
busca a luz.                            | |   |_| \_\  | |    / /   _   | |                   minho.
                                        | |       _____| |   / /   | |  | |
       BEN-ROSH                         |_|      |_______|  /_/    |_|  |_|                          BEN-ROSH

                                                  (HA-LAPID)

                                      Órgão da Comunidade Israelita do Porto

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DIRECTOR E EDITOR: -A. C. os BARROS BASTO (BEN-ROSH)   || COMPOSTO E IMPRESSO NA Empresa DIARIO DO PORTO, Lda
REDACÇÃO-Rua Guerra Junqueiro, 340-Porto               ||           Rua de S. Bento da Victoria, 10
(Toda a correspondencia deve ser dirigida ao director) ||   ---------------- P O R T O ----------------
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Como um frade marano regressa ao
judaismo no século XVIII
(segundo o testemunho do Cavaleiro de Oliveira)

A 15 de janeiro de 1735, o P.e Diogo,
capuchinho, guardião do convento de S.
Pedro de Alcântara, fugiu de Lisboa com
D. Floriana, religiosa do mosteiro de San-
ta Ana, da ordem de S. Francisco. Estava
eu presente quando recebeu o conde de
Tarouca, em Viena de Austria, a noticia
do rapto.

-Consumaram-se os tempos!-excla-
mou ele-Sem dúvida que do concubi-
nato do frade e da freira vai nascer o an-
ticristo.

O conde não gracejava; falava a sério,
convencido, como tôda a gente em Por-
tugal, do acontecimento tremendo.

Imbuido desde a infância duma dou-
trina tão absurda, eu, também, sem repu-
gnância acreditei não só na possibilidade,
mas na infalibilidade da previsão.

Em 1741, quando dos olhos me tinham
caido muitas das absurdas cataratas, diri-
gi-me a Amsterdão onde me encontrei
com o P.e Diogo que ali se havia refugia-
do. Com prazer travei relações com o ho-
mem que eu chegara a julgar pai presun-
tivo do anticristo. P.e Diogo esposara D.
Floriana e ambos haviam abraçado o ju-
daismo devido á grande necessidade em



que se achavam. No fundo detestavam a
religião nova, oriundos como eram de
cristãos-velhos, arreigados ás suas cren-
ças. senão fanáticos. O pai de D. Floríana,
António Manescal, alem de livreiro e im-
pressor do Santo-Ofício, tinha patente de
familiar. O P.e Diogo caminhava direito
ao episcopado, graças á confiança que o
rei lhe testemunhava. Confiança foi esta
-diz-se- que custou ao soberano uma
sôma elevada, de que o frade se apro-
priou ao deixar Lisboa. Mas não se che-
gou a gozar dela por o navio, em que ia,
ter naufragado. Sei-o de fonte limpa, como
sei que a tão desgraçado sucesso devia o
P.e Diogo ter abjurado do catolicismo pa-
ra poder exercer o cargo de mestre de
meninos da Sinagoga de Amsterdão, es-
cola que ainda hoje rege.

O frade era homem dotado de raro ta-
lento. A minha estima por êle seria gran-
de se tivesse sido sincero na sua aposta-
sia, mas tal não é lícito esperar do mérito
e capacidade do P.e Diogo. Talvez o há-
bito de se inculcar como judeu, a pontos
de se esconder, vai em dezesseis anos,
sob o nome de Arão Pereira, tenha ope-
rado o milagre da fé. Não sei.


 
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