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Ha-Lapid הלפיד


N.º 055, Nissan 5693 (Abr 1933)







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 2                 HA-LAPID
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               Portugal e Israel

Como estao remotas as ideias visionarias do se-
culo passado que do progresso e do amor da humani-
dade faziam um lema do Estado e um dogma da cons-
ciência publica. Rodou já um terço deste seculo que
os profetas do optimismo tanto auspiciaram, e que é
que se ve a imperar no mundo, a dirigir a alma dos
homens e das nações? A cobiça do interesse, a vai-
dade desmedida, a fereza agressiva do primitivo e da
sua tribu. O freio da religião, da moral e da civiliza-
ção não sustem o ímpeto dos caninos arreganhados
do homem lobo do homem.

De qua vale prantear esta molestia pandemica,
espécie da cancro visceral que corroi os figados e os
corações? Haverá raios que, como os da fisica, pre-
tendam sarar esta chaga cancerosa? Ha, e velhos que
são éles, porque tem dois mil anos de emissão-os
raios da graça divina da caridade e do amor do proxi-
mo, que infelizmente não valeram a este escalavro e
pareciam ter desertado do mundo,

Dois fenomenos colectivos recentes testemunham
contrariamente estes embates do homem socíal e antí-
social-um, mostra até onde pode chegar o frenesi
cego e bestial contra o semelhante-outro, revela até
onde pode ir ainda a solidariedade redentora. Se a
perseguição que na Alemanha se move sem quartel
ás gentes de sangue israelita revolta quem quer que
tenha coração e cabeça, o grito da reprovação que
estrondeia por toda a parte contra tamanha barbárie
e crueldade, esse "sursum corda" emanado de povos,
classes e individuos sem destrinça de bandeira nacio-
nal ou religiosa, côa consolações no animo dos mais
descoroçoados do futuro espiritual da Europa. Não;
ha ainda homens que se prezam de ser e de defender
homens.

Nem que reprobo fora o israelita, haveria o di-
reito de acossá-lo como a besta-fera. E reprobo por-
qué? Raça proporcionalmente a mais inteligente de
todas-ninguem ousa contestar-lhe esta superlativa
intelectualidade-depois de alumiar o europeu bar-
baro da idade Média com as luzes da sua ilustração,
tem por esses seculos fora promovido o desenvolvi-
mento da civilização em toda a sua inteireza-filoso-
fia. ciencias e artes, por um lado, comercio, industria,
actividade economica, por outro. Em tudo quanto re-
presanta o esforço humano, á busca da verdade e do
bem, la estão nomes hebraicos a intentá-lo e a rea-
lizá-lo na primeira plana das celebridades de qual-
quer ordem. Será a inveja o baixo mobil das perse-
guições, de que só a selvajaria de outrora apenas ate-
nuava a culpa?

Orgulha-se a Alemanha de ser pais de alta cul-
tura e até de na escala cultural ocupar a cabeceira.
De honra a gloria lhe tem servido o lutar por esse
primado da inteligencia produtiva. Filosofos, cientis-
tas e artistas, há dois seculos lhe asseguram preemí-
nencia. Na tecnica e na economia, rapido alcançou
uma evolução prodigiosa. Criou industrias pujantissi-
mas, expandiu a sua produção, graças a uma organi-
zação comercial inexcedivel. Quem poderosamente
concorreu para a formação e realização desta riqueza
espiritual e pecuniária foi justamente o judeu-sem-
pre o judeu em tudo e por tudo.

Sem que se saiba bem pelo quê-a nao ser que



queira dar-se às multidões dementadas pelas paixões
um bode expiatorio-o anti-semitismo declara-lhe
guerra de extermínio. Esboçaram-se "pogroms" como
em tempo na barbara Russia czarista. que parecem
sustados porque outro meio de destruição mais promo
e geral se poe em acção: a boi-cotagem oficial por
violência ou por sugestão, e, é, a fome infligida aos
que são privados de exercer o seu oficio. Estão amea-
çados de encerro estabelecimentos desde o Banco até
a tenda. Defesas. as profissões liberais-magistratura
advocacia, medicina, professorado, Direitos, acaba-
ram-se, até o de angariar legitimamente meios de
subsistência. Os medicos israelitas, expulsos das suas
cadeiras, dos seus hospitais. dos seus laboratorios!...
-eles que deram á medicina alemã um renome uni-
versal. Devem-se-lhes muitos aos maiores descobri-
mentos que vieram resgatar vidas, anulando e pre-
venindo os estragos das doenças. Amigos privilegia-
dos da humanidade sotredora, nem esses estão poupa-
dos á santa persecutoria e eliminadora. Na idade Mé-
dia, o fisico hebreu que então e em todas as épocas
subsequentes quasi simboliza a arte medica, como
que gozava de imunidade; nem essa se lhe presta
agora.

Dois nomes altissimos representam, cada um à
sua maneira, a celebridade germanica; o israelita
Einstein, o super-Newton do nosso tempo, verdadeira
maravilha de celebralidade, e Tomaz Mann, a mais
vigorosa pena de pensamento e de arte na literatura.
Anatematizados, não voltarão á sua pátria, abando-
nada á barbaridade reinante, pregada e perpetrada
como suprema virtude nacional. Cada noite, ao bater
das 10 horas, a T. S. F. irradia aos quatro rumos car-
diais os 14 mandamentos da religião do ódio contra o
semita, terminados por este ritornelo a soar como do-
bre funerco-Die juden sind unser Unglück. Mesmo
para os menos versados como eu no alemão, salta aos
olhos a tradução-"Os judeus são a nossa desgraça".
Desgraça sim, virá a cair sobre um pais que tal pro-
fere-prodromo dum suicidio colectivo.

Ninguem poderá dize-lo melhor que Portugal.
Em dia negro para sempre nefasto, os arrojou do seu
seio-foi a segunda "diáspora" da raça hebreia, a que
mais atormentou as chamadas gentes de nação que
deste territorio abençoado tinham feito segundo pa-
raiso. Dispersos pelo Setentrião e pelo Mediterraneo.
depois de sujeitos ás piores torturas, para todos os lu-
gares onde se aceitaram levavam as saudades da pa-
tria. Nos livros editados no exílio respira-se a cada
passo o seu folego patriotico, o entusiasmo pelas gló-
rias lusitanas. Sempre que sa propiciava ocasião de fa-
vorecerem os feitos, os negocios e as conquistas dos
portugueses, fizeram-no com largueza, generosidade
e sacrifícios. Mas os seus talentos e aptidões foram
enriquecer e honrar outras terras-a Holanda mais
que nenhuma outra, a França, a inglaterra, a italia e
até a Turquia. Em Nova York, onde hoje estadeiam
dois milhões de habitantes, a primeira colmeia foi a
dos judeus saidos do Brasil. O padre Antonio Vieira
prégava em vão, em pleno seculo 17, o regresso dos
hebreus; em nome da nossa propria prosperidade e
aumento.

A grande gloria dos Lusíadas, a rôta e os desco-
brimentos por mares nunca dantes navegados, deve-se
principalmente á ciência e a dedicação dos cosmógra-
fos, astrónonos e matemáticos judeus de que a rea-
leza inteligentemente soubera rodear-se. Perda inapre-
ciavel a da sua expulsão, apenas atenuada pela pre-


 
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