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Ha-Lapid הלפיד


N.º 055, Nissan 5693 (Abr 1933)







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 6           HA-LAPID
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Hitler e Israel

Recebemos a seguinte carta:

Amigo senhor redactor:-Permita-me que
comece por essa palavra que me acode e se
impõe ao meu espirito dirigindo-me a quem
com tanta generosidade abriu as colunas do
"Diário de Noticias" em defesa de Israel.
Essa palavra encerra também toda a minha
gratidão e espero ainda ser abrangido por
aquela mesma generosidade. Nomes eleva-
dos na sociedade portuguêsa, homens de
coração e de pena justiceira vieram em pról
do meu povo, num momento triste para a
sua história. Foi o amor da justiça e da
humanidade que os moveu; nenhum outro
interesse os podia estimular e por isso os
seus depoimentos sobrelevam em importân-
cia muito acima do que um filho de Israel
pode alegar. Contudo. é cheio de imparcia-
lidade que escrevo estas linhas; toda a mi-
nha indignação e dôr pelos sofrimentos infli-
gidos aos meus irmãos da Alemanhn, devo
recalcar no fundo do coração, para que não
se diga que me impele o desejo de atear a
fogueira. Mas não ficaria bem com a minha
consciencia se deixasse a defesa entregue
unicamente às penas muito ilustres de gente
em cujas veias não corre o sangue semita
como no meu. A minha voz fraca, as minhas
palavras dóbeis e pàlidas necessitam, à falta
de outras penas mais eloqüentes e autoriza-
das. de se juntar a êste côro de generosi-
dade, que ouço levantar em torno a mim.
O que se passa na Alemanha é efectivamente
horrivel. Sei-o não só pelos telegramas pu-
blicados na imprensa portuguesa e estran-
geira, mas também por informações de
caracter particular e fidedigno. Sei, por
exemplo que, entre outras violências, come-
tem a de não deixar expatriar-se aos proprios
judeus perseguidos. Impedem-nos de exer-
cer as suas funcões ou, mais bem, de ganhar
o pão quotidiano e ao mesmo tempo impe-
dem nos de sair da Alemanha, com o fim
talvez de os destruir pela fome.

E' esta, em resumo, a situação e ela é
tão extrema que, de certo, não se poderá
sustentar. Não é neste século vinte que
assim se podem torturar criaturas humanas;
o remédio há-de vir forçosamente de algum
lado. Conheço a Alemanha por té-la visitado
várias vezes e tenho ali amigos. Nem toda

 

a Alemanha é nazi. Digamos a que metade
do país o é. Concedamos essa grande maio-
ria ao partido de Hitler. Mas essa maioria
precisa de ser examinada; ela é principal-
mente construida pelas classes populares.

Hiteler tem uma qualidade, segundo di-
zem, que vence todas as dificuldades: tem o
dom da palavra e a eloqüência persuasiva_
Persuasiva, entendenda-se nas camadas do
povo. Perante gente de alta cultura, perante
professores de ensino superior, perente sá-
bios e sociologos, assim fui informado, os
ímpetos da sua eloqüéncia despedaçam-se
de encontro à incredulidade daqueles que
não se deixaram subjugar pela doença con-
tagiosa, que avassalou a metade da Alemanha.

Os sabios explicam como se dão êstes
ataques da epilepsia colectiva, que conse-
guém dominar a opinião pública. Mas se
Hitler não é escutado pela classe dos inte-
lectuais, como seria para desejar para bem
do seu partido, é em compensação escutado
com admiração religiosa pelas baixas cama-
das do povo. Os seus adeptos são recruta-
dos em geral entre adolescentes, pouco ins-
truídos e fanáticos. Foi no espirito dominador,
írrequieto e militarista da Prussía que ele
encontrou os seus melhores sectários. O
prussiano adora o uniforme que partilha das
coisas bélicas; as suas marchas rígidas, com
os seus corpos bem hirtos, fazendo retinir
ruidosamente os tacões das pesadas botas
contra o pavimento das calçada s, trazem-lhe
evocações de conquistas guerreiras e de su-
premacia sôbre os outros povos. Hitler
soube explorar êsse espirito e teve quem
para êsse campo o empurrasse e o adestrasse.
Sózinho não teria dado conta do recado;
houve quem lhe ensinasse o caminho e sou-
besse aproveitar a sua eloqüência fogosa.
A Alemanha ficou, depois da guerra, numa
situação angustiosa; o corredor de Dantzig,
a perda das colónias, foram circunstâncias
que, por imposição do tratado de Versalhes,
a atormentaram. As indústrias sofreram, as
reparações ameaçavam asfixiá-la. Foi nesta
conjuntura que surgiu o Messias-o falso
Messias-e o povo, doente em perigo de
vida, acreditou facilmente no remédio que o
médico fantasioso lhe oferecia na forma de
um longo programa de governo. Depois do
povo, é fácil de conceber que outras classes
se deixassem arrastar por contágio. Assim
se levantou a onda, que, como sucede sem-
pre em casos ldenticos, deve envolver muitas


 
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