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Ha-Lapid הלפיד


N.º 055, Nissan 5693 (Abr 1933)







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 4                  HA-LAPID
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que a israelita. Que na América, como na Inglaterra,
na Polónia como na Romania, há milhões de trabalha-
dores israelitas que passam tanta miséria e sofrem
tanto como os incircuncisos. seus camaradas de clas-
se.

O anti-semitismo, como o anti-clericalismo "á
outranse", é um expediente do capitalismo para des-
viar os trabalhadores da sua luta contra a servidão
económica, mãe de tôdas as servídões, inclusivé a re-
ligiosa. A libertação intelectual não pode proceder e
só pode seguir a libertação económica. A moção vo-
tada em 1905 pelo Congresso do Partido Operário
Francês chegava a afirmar que -o único anti-clerica-
lismo sério em regimen burguez era o anti-capitalis-
mo". A demagogia burguesa como não pode dar pão
e alegria de viver ao proletariado dá-lhe conforme as
circunstâncias, - padres ou judeus. Ora nenhuma
destas categorias é suficientemente alimentícia. O ca-
pitalismo nào é nem judeu, nem católico, nem bu-
dista - é o capitalismo. -

As religiões, assim como todas as concepções
sobre-naturais sendo fundamentalmente fenomenos de
consciência, só desaparecerão numa sociedade em que
desaparecida toda a exploração capitalista, a Huma-
nidade, senhora de todos os meios de Produção, tenha
probabilidades de encontrar, em si mesma, a sua pro-
pria Providência.

Hitler agora pretende atirar às massas alemãs os
judeus como alimento. Conhecemos paises em que os
democratas, amantes do Povo, etc., -outra coisa não
fizeram senão distrai-las com os frades e as freiras,
em vez de atenderem às suas mais vitais necessidades.

Devo acreseritar, para evitar explorações dos es-
tupidos e dos mariolas, que o anti-clericalismo dos
socialistas está por si proprio esclarecido desde que a
Igreja católica-se pousou, pelas ultimas decisões pa-
pais, em inimiga irredutivel do socialismo.

Curioso momento êste que o mundo atravessa
onde, em sofrimento e dôr, se está gestando, a paz e
a belesa, duma Humanidade melhor.

                            Da "República Social".
          Porto, 8-abril- 1933.

                o o o


O exodo israelita e a hospitalidade
portuguesa

BERLIM, 11 de Abril.

Não nos compete discutir a actual campanha
economica e moral anti-judaica na Alemanha. Cada
qual manda em sua casa e não devemos nem quere-
mos, portanto, ser intrusos. Apenas, em homenagem
á verdade, julgamos do nosso dever informar, por
telegrama, os leitores do "Diario de Notícias" de que
os boatos propagados no estrangeiro, sobre orelhas
cortadas, judeus lançados ao rio, espancamentos de
personalidades importantes na cadeia, etc., não passa-
vam de rebates falsos. Assistimos á boicotagem (passe
o termo forioso) dos estabelecimentos judeus e pude-

 

mos verificar que tudo se passou na melhor ordem e
disciplina. Sabemos que, naquele único dia de boico-
tagem, assim foi em toda a Alemanha, com uma única
excepção em Kiel, onde um israelita, que faria uni
"nazi" a tiro, foi linchado por populares, antes que
as autoridades o pudessem evitar.

Repetimos, portanto, que a responsabilidade ofi-
cial alemã está, até hoje, absolutamente a coberto de
acusações quanto a violencias fisicas contra israelitas
sendo pelo contrario de admirar que os incidentes
tenham sido tão poucos e relativamente benignos.

Postos os pontos nos ii sobre este particular,
diremos que a campanha económica e moral anti-ju-
daica prossegue, sistematicamente, nos diversos ra-
mos de actividade da nação. Nas profissões em que o
Estado tem interferencia directa, os israelitas estão
sendo reduzidos a um numero a tal ponto insignifi-
cante que ficaram praticamente banidos delas. Isto
aplica-se em especial ao funcionalismo, á magistra-
tura, á advocacia, ao professorado, á medicina, ao
notariado. Citaremos um unico exemplo: dos 1.700
advogados judeus de Berlim, apenas 35 podem conti-
nuar a exercer a sua profissão.

Resultado: o exodos

Ora o exodo interessa-nos, pratica e directamente,
porque grande numero dos emigrados se estão diri-
gindo, e muitos mais se dirigirão ainda, para o nosso
País. Neste ponto meterei eu o bedelho, se me dão
licença, porque se trata da minha terra e muito a pro-
posito do sentido e excelente artigo do dr. Ricardo
Jorge, publicado neste jornal em 5 do corrente.

Se nas veias do dr. Ricardo Jorge, como êle pró-
prio admite, corre sangue israelita, eis mais uma
prova das qualidades da raça, de que s. ex.a fala e
que tão maravilhosas provas têm dado de si, através
da História. As palavras do dr. Ricardo Jorge maior
valor assumem na bôca dum homem cujo portugue-
sismo ninguém põe em dúvida e que honra a sua e
nossa terra.

Ora é evidente que as qualidades da raça se
manifestaram também (e de que maneira!) na Ale-
manha, nestas ultimas centenas de anos. Ninguém
pode negar de boa fé, nem mesmo o anti-semita mais
ferrenho (desde que a cabeça lhe não sirva apenas
para pôr o chapéu) a extraordinária acção dos judeus
alemães. Guilherme II não era, por assim dizer,
amigo de Israel, e no entanto aceitou o concurso de
judeus em grandes obras da nação. Lembremos ape-
nas Ballin, o maior nome da navegação comercial
alemã; Rathenau e Schlesinger, organizadores da in-
dústria alemã.

Mas então por que correm com êles? As causas
são várias e não vêm ao acaso, com excepção duma,
que presentemente nos interessa: é ela a de que há
judeus... e judeus da Galicia.

Encontravam-se familias israelitas estabelecidas
na Alemanha há centenas de anos. Se bem que (ao
contrário do sucedido em Ingliterra) não tenham
nunca sido completamente absorvidas aqui pela nação,
o certo é que gosavam de plena liberdade e de tôdas
as regalias, sendo-lhes apenas vedada a profissão de
oficiais do exército. Puderam assim desenvolver uma
actividade admirável e chegar à maior influência e às
mais altas categorias sociais.

Veio a guerra. Transformou-se o mapa e, ainda
mais, as leis da Europa. Uma região da antiga Rússia
imperial, a Galícia, passou ao domínio da actual Po-
lónia. Durante séculos e séculos tinham vegetado ali
populações, decerto originárias da Palestina, mas que


 
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