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Ha-Lapid הלפיד


N.º 055, Nissan 5693 (Abr 1933)







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                 HA-LAPID                     3
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sença dos cripto-judeus, os cristãos novos que nos
restaram. Ainda hoje lá fora o judeu portugués ergue
com orgulho a fidalguia da sua procedência; até na
própria região levantina, na Síria, na Palestina, na
Macedónia, onde lhes ouví a fala materna.

Muitos dos judeus alemães são descendentes de
portugueses de que conservam apelidos e o rito se-
phardi da sinagoga. Tem nas veias sangue nosso, e o
nosso coraçao não pode ficar indiferente a tamanha
desventura. Já se não matam e torram como outrora
no queimadeiro, mas paralisam-lhes as cabeças e os
braços para que rebentem de penuria e desespero.
A mais elementar fraternidade se recalca, aquela de
homens criados no mesmo torrão, enjeitados pela
terra que os viu nascer e para o bem da qual traba-
lharam.

Há muito sangue israelita nesta terra, sobretudo
em certas províncias. Em Lisboa foi-lhe ajuntando
um nucleo formado por familias consideradas, onde
se estremam individuos a ocupar situações honrosas
no comercio, na industria, no professorado e nas pro-
fissões liberais. Ultimamente esta comunidade tem-'e
acrescentado com hebreus da Europa Central que
trouxeram o fermento do seu trabalho proveitoso ás
industrias de minas e de artefactos. Pequeno como é
o nosso Pais, se tem pouca capacidade de absorpção,
pode todavia recolher, dentro das suas forças, elemen-
tos uteis para a vida metropolitana e colonial, tanto
há ainda numa ou noutra que empreender e que fa-
zer: se o exodo dos alemães perseguidos derivasse um
pouco para este lado, beneficio auferiamos do seu
advento, graças ás suas aptidões para a actividade
economica moderna.

Quem sabe o que sucederá? D. Manuel ainda os
deixou partir, embora á custa de incleméncias; agora
a Alemanha diz-se que intenta retê-los como refens.
As ultimas noticias parecem reduzir a existência de
judeuss, na partilha das profissões a contingentes, de
percentagem-e os sobrantes?!

Que mais teremos que ver nesta quadra infausta
em que o homem se cobre a si proprio de maldições
e o direito natural e social entr. rim de caducar!

                                  Ricardo jorge.

                      *

P.S. -Quem sabe se apenas se verá nestas frases
sinceramente comovidas de compaixão, a voz do san-
gue. Muitissima gente em Portugal tem, sem o saber,
nas veias glóbulos hebraicos. Se eu soubesse que de-
véras descendo de judeus, por honrado me daria com
a ascendência. Tenho por esta raça sim, a maior sim-
patia desde muito significada-vem-me, não de casta
ou do crença, mas de espirito consagrado ás materias
intelectuais-vem-me da minha profissão que entre
nós e foi-a de nós se gloria de nomes maximos de fi-
liação judaica--vem-me enfim da própria pátria que
tanto lucrou com a sua acção e tanto perdeu com o
seu afugentamento. Prezo-me de judiofilo, precisa-
mente porque o destino bem ou mal fez de mim um
cerebral e um medico e porque sou de nascença e de
caracter um português.

                         De Diario de Noticias
                         Lisboa-5-Abril-1933.

 


                Anti-Semitismo

Os movimentos anti-semitas na última metade do
seculo XIX, sendo um retorno ofensivo das antigas
classes dirigentes, a aristocracia e o clero, levantando
a bandeira das rivalidades religiosas, do ódio dos
cristãos ao povo deicida, já no fundo, como tudo, ti-
nham um fermento de luta económica. O principe de
Lichtenstein era um grande proprietário feudal e foi
o corifeu do anti-semitismo na Austria. O pastor
protestando Stoeker, chefe da cruzada alemã contra
os judeus, era subvencionado na campanha, pelo pe-
queno comércio das cidades alemãs, desejoso de es-
magar o pequeno comerciante israelita. O jornalista
clerical Julio Drumond, chefe do anti-semitismo fran-
cez e traidor á sua raça, representava a Companhia
de Jesus, que era e é um potentado comercial e finan-
ceiro.

Mas nessa primeira fase, na fase bucolica das lu-
tas económicas e políticas, o fundamento económico
da cruzada, podia disfarçar-se com razões sentimen-
tais e de mera intolerância religiosa e fanatismo me-
dieval.

Mas sob este aspecto de tentativa de restauração
dum passado morto a breve trecho a onda anti-semita
morreu, no meio da indeferença e do ridiculo. Foi
então que, para dar ao anti-semitismo uma aparência
de fundamento, aqueles que dirigiam o combate, re-
conheceram que era preciso modernizá-lo e dar-lhe
rasões mais positivas.

Fizeram crer, para isso, ao proprietário territo-
rial, que iam salvá-lo do predomínio da grande indus-
tria; ao pequeno comerciante que o iam furtar á con-
corrência necessáriamente victoriosa dos grandes ar-
mazens: á finança cristã que a iam desembaraçar da
concorrência da finança israelita, melhor estabelecida
e superiormente preparada por um treno secular.

Mas a solidariedade destas classes não chegava
para o combate. Era preciso arrastar consigo as mas-
sas proletárias. Ora nas massas populares já se encon-
trava muito radicada a ideia de que a sua libertação
económica não dependia de que os seus explorado-
res tivessem esta ou aquela religião.

Então os anti-semitas prégaram uma demagogia
expropriadôra uni-lateral. O expropriado devia ser
o judeu - tal como em 1789 os expropriados deviam
ser a nobreza e o clero e a propriedade sagrada a da
burguesia, recem chegada ao Poder. A esta ideia
pseudo-socialista chamava o velho Bebel o "socialis-
mo dos imbecis". Nós acrescentariamos - e o dos
larapios.

Mas nunca, ontem como hoje, um verdadeiro ex-
plorador, mesmo que fôsse judeu, foi atingido.

Atravez da onda de anti-semitismo francês e ale-
mão os príncipes da finança judaica, pouco ou nada
sofreram.

Esta ignóbil reacção política e religiosa tem toda-
via estreitos pontos de contacto com a chamada bur-
guesia liberal, diante da qual se põe, por vezes em
inimiga.

Como esta, nega a existência da luta, condicio-
nada ás categorias económicas. Atribuindo todos os
seus males aos judeus, finge desconhecer que como
classe exploradôra é muito mais numerosa a cristã do


 
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